|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JANIO DE FREITAS
O laranja
Talvez a marca da Presidência de Lula seja a forma como preenche o governo e como compõe o ministério
|
VALE PELA originalidade, à falta
de outro valor, a indicação do
senador Edison Lobão para o
Ministério de Minas e Energia. O
PMDB e Lula não trataram da indicação de um ministro, quando provocaram as novas denúncias de que
Edinho Lobão, suplente do pai, fez
uso de uma empregada doméstica
como laranja em negócios. Lula e o
PMDB negociaram um laranja. Mas
não o filho. O pai, mesmo. Em vez de
um ministro, um laranja nas Minas e
Energia, para que a ministra Dilma
Rousseff volte a ser, no governo, o
que era sem deixar de ser o que é.
O traço verdadeiramente próprio
da Presidência de Lula não é, por
certo, estar ocupada por alguém que
foi operário nos primórdios da vida
adulta, mas não tem diferenças essenciais dos presidentes originários
do que ele chama de "elite". Não está
adiante, por exemplo, de quem criou
a Sudene, ou o elevador social do salário mínimo, ou a combatida política externa independente em plena
Guerra Fria, e tanto mais. Talvez o
traço próprio da Presidência de Lula
seja a maneira como preenche o governo e, mais ainda, como compõe o
ministério.
Um caso para ilustrar. Desde a distante CPI do Orçamento, todos cuidaram de deixar na periferia dos governos os "anões" sobreviventes.
Lula levou para dentro do seu ministério. E entregou a Geddel Vieira Lima as obras e os muitos bilhões do Ministério da Integração Nacional.
Por falar nisso, até agora a platéia
não sabe qual é o custo previsto para
a obra do rio São Francisco. Mas,
com esse e outros precedentes de citação dispensável, vê-se que Edison
Lobão foi uma indicação muito criteriosa do PMDB.
Parece esquecida, nos perfis de
Lobão publicados nos últimos dias, a
sua carreira jornalística. É verdade
que, em termos propriamente jornalísticos, não foi menos destalentoso do que em sua carreira na Câmara e no Senado, onde o máximo
que demonstrou foi a persistência
de permanecer, já por umas duas décadas, entre os mais inúteis. Na imprensa, porém, útil Edison Lobão
foi. Como "repórter e cronista político" do "Diário de Brasília", prestou
serviços diários aos chefões da ditadura. Seus textos eram como recados saídos do Planalto, de serviços
militares ou de informações, e armações de políticos governistas
contra opositores. Seu ar soturno
caia-lhe muito bem. E assim também quando deu continuidade em
lugar mais apropriado -o partido da
ditadura, a Arena- ao papel que escolhera na vida. Sem imaginar a retribuição que a democracia de Lula e
do PMDB lhe ofertaria.
Bemol
Diz o ministro Gilberto Gil que os
opositores da CPMF querem, agora, "derrubar a legítima aspiração
do Brasil de criar a TV pública".
Não percebo a relação entre a
CPMF e a TV, mas o pior é que
nunca percebi nem o mais singelo
sinal de que essa TV surja de uma
"aspiração do Brasil".
Ainda bem que o ministro está
convicto de que "não conseguirão".
Mas outra vez me deixa mal. "Não
conseguirão" -e capricha na ênfase- "porque a TV Brasil foi produto de anos de luta e discussão de
boa parte da sociedade". Se boa, no
caso, refere-se a qualidade, fui posto para fora. Se, como é da pobre
linguagem de nós outros, expressa
quantidade, sou um alienado, porque não vi esses anos, não percebi a
luta e não ouvi a discussão. Tudo o
que o ministro Gilberto Gil testemunhou nos breves períodos ministeriais entre os shows viajantes
do cantor Gilberto Gil.
Texto Anterior: Conselho de secretários estaduais de Saúde pede que governo crie nova CPMF Próximo Texto: Duda depõe na Bahia e não descarta voltar a trabalhar para o PT Índice
|