São Paulo, sábado, 17 de janeiro de 2009

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Lula diz que um dia Brasil terá mais de uma reeleição

Na Venezuela, presidente defende projeto de Chávez, mas nega candidatura em 2010

"O Chávez [54 anos] é novo ainda, ele aguenta um novo mandato. Agora eu [63] já tô velho, vou me retirar", disse Lula em tom de brincadeira

Juan Barreto/France Presse
O presidente Lula conversa com crianças de Zulia, na Venezuela

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A EL DILÚVIO

Ao sair em defesa de Hugo Chávez, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que qualquer partido no Brasil tem o direito de propor a reeleição indefinida caso o país tenha "instituições consolidadas", mas voltou a negar nova candidatura. Na Venezuela, os eleitores irão às urnas decidir sobre o tema em 15 de fevereiro.
"Estamos num processo de construção de fortalecimento das instituições no Brasil. Isso não impede que daqui a um tempo apareça um partido político com uma maioria de deputados que proponha [a restrição a apenas uma reeleição]. Pode ter três, quatro reeleições", disse Lula, durante entrevista enquanto percorria o projeto agrícola "El Dilúvio" (800 km a oeste de Caracas).
"Isso pode acontecer. Na hora em que você tiver instituições consolidadas e tiver a liberdade política que o povo quiser, isso vai acontecer." Segundo Lula, o seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, só não buscou o terceiro mandato por causa da situação econômica do Brasil na época.
"Certamente, se a economia brasileira estivesse bem, de 98 a 2002, se o presidente Cardoso tivesse feito as "encuestas" [pesquisas, em espanhol] de opinião pública, teria havido um deputado que teria proposto uma emenda para que Cardoso tivesse mais um mandato. No Brasil é assim. Só não é assim no meu governo", afirmou.
Em entrevistas, Lula tem descartado a possibilidade de apoiar uma mudança na Constituição que lhe permita disputar nova reeleição. Em abril de 2008, criticou governantes que se acham insubstituíveis: "Qualquer pessoa que se ache imprescindível começa a colocar em risco a democracia".
Mas ontem, sempre sob o olhar atento de Chávez, Lula citou o Reino Unido, a Espanha e a Alemanha como países com governos longos, fazendo a ressalva de que são regimes parlamentares. Citou o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, para afirmar que as críticas contra Chávez só acontecem porque se trata de um governo de esquerda: "O Uribe estava querendo o terceiro mandato e ninguém perguntava a ele".
Tramita no Congresso colombiano proposta de reforma que, se aprovada em referendo, dará a Uribe a chance de concorrer ao terceiro mandato.
Lula disse que "cada país tem de viver o seu processo", mas descartou concorrer a um terceiro mandato. "O Chávez [54] é novo ainda, ele aguenta um novo mandato. Agora eu já tô velho, vou me retirar", disse Lula [63], em tom jocoso.
Ontem, o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela marcou para 15 de fevereiro o referendo sobre a emenda constitucional que implanta a reeleição indefinida para todos cargos eletivos. Há dez anos no poder, Chávez já é o presidente há mais tempo no poder na América Latina. O atual mandato acaba em 2013.
Entre os acordos assinados por Lula e Chávez está o aumento da cooperação brasileira nas áreas agrícola, industrial e elétrica. Lula anunciou que assistirá ao Carnaval do Rio para torcer pela Beija-Flor. Brincando, Chávez disse que irá, mas que sua escola é a Mangueira.
Durante a visita, Lula também concedeu uma entrevista ao cineasta norte-americano Oliver Stone, que prepara um documentário sobre Chávez e a onda de esquerda na América Latina. O diretor já entrevistou Raúl Castro (Cuba), Fernando Lugo (Paraguai), Evo Morales (Bolívia) e Cristina Kirchner (Argentina), além de Chávez.


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