São Paulo, domingo, 17 de janeiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sigla ocupou espaço de centro, diz analista

Para cientistas políticos, PSDB venceu o malufismo, conquistou o eleitor conservador com ajuste fiscal e sobreviveu a Lula

Na avaliação de Serra, uma característica importante dos governos do PSDB é que "ninguém quebrou o Estado para fazer seu sucessor"


JOSÉ ALBERTO BOMBIG
FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

A experiência do PSDB em São Paulo será o destaque inicial da provável campanha do governador José Serra ao Palácio do Planalto neste ano.
Conforme disseram à Folha tucanos próximos de Serra, se ele confirmar sua candidatura a presidente, terá como prioridade inicial mostrar ao país sua gestão e a de seus antecessores.
Desde que a população voltou a escolher os governadores pelo voto direto (1982), a dinastia tucana em São Paulo já se iguala à do DEM (ex-PFL) na Bahia e no Maranhão, só ficando atrás do domínio dos próprios tucanos no Ceará.
Cientistas políticos e historiadores avaliam que os tucanos ocuparam com o tempo o espaço reservado aos partidos de direita e de centro entre o eleitorado paulista. Na outra mão, sobreviveram à popularidade do presidente Lula.
Para o pesquisador Celso Roma, do Centro de Estudos de Cultura Contemporânea e autor da tese "A Social Democracia no Brasil: organização, participação no governo e desempenho eleitoral do PSDB", a força da sigla paulista pode ser atribuída ao declínio do populismo de direita no Estado.
"Com o fim do "adhemarismo" e do "malufismo", o PSDB conseguiu conquistar os eleitores de centro e de direita que valorizam a eficiência na gestão do Estado. A maioria dos votos do eleitorado tradicional foi direcionada para candidatos do PSDB", diz Roma.
Adhemar de Barros (1901-1969) foi duas vezes governador e prefeito da capital. Ao lado do também governador e presidente Jânio Quadros, foi o principal político populista no Estado dos anos 40 aos 60.
Na avaliação do governador José Serra, a trajetória do PSDB mostra que o eleitor do Estado passou a valorizar a austeridade financeira: "Uma característica importante de todos os governos do PSDB é que ninguém quebrou o Estado para fazer seu sucessor", disse.
Orestes Quércia (PMDB) se notabilizou por elevar a dívida de São Paulo, mas conseguiu eleger para o governo, em 1990, seu secretário Luiz Antonio Fleury Filho. Neste ano, Quércia deverá ter o apoio do PSDB para concorrer ao Senado.
Os tucanos surgiram em 1988 de uma dissidência do PMDB. "O acordo do Quércia com o PSDB é um reencontro. A matriz é a mesma", afirma o líder do PT na Assembleia Legislativa paulista, Rui Falcão.
Em 1994, Covas derrotaria nas urnas o quercismo, mas ainda teria um duro embate com o então ex-prefeito da capital Paulo Maluf em 1998.
O atual secretário-geral do partido em São Paulo e responsável pela sua organização no Estado, Cesar Gontijo, vê naquela eleição um momento decisivo: "Os poucos votos que deram a vitória de Covas sobre Marta Suplicy [PT] no primeiro turno foram decisivos para nossa força no Estado".
O então governador Covas foi para o segundo turno contra Paulo Maluf com uma vantagem de apenas 74.436 votos sobre a petista, que o apoiou no segundo turno, em uma campanha na qual o tucano evocou a ética para vencer na reta final.
"Até então, nas eleições era importante apenas a realização de obras, "o rouba, mas faz". Isso, ao que parece, mudou", diz Marco Antonio Villa, historiador da Universidade Federal de São Carlos, no interior de SP.

Lulismo
Desde 2002, o maior adversário dos tucanos no Estado passou a ser o PT, mas nem a onda Lula foi capaz de dar a vitória a José Genoino (2002) e a Aloizio Mercadante (2006).
Mas, para Celso Roma, a oposição em São Paulo "é fraca tanto nas urnas como na Assembleia Legislativa". Por esse motivo, "o PSDB e os seus aliados elegeram a maioria dos deputados estaduais, os governadores puderam exercer o mandato com ampla sustentação parlamentar e conseguiram aprovar projetos de seu interesse".
A cientista política Raiane Patrícia Severino, autora de "A Dinâmica Organizacional do PSDB no Estado de São Paulo", afirma que a origem do PSDB se encontra na atuação de um conjunto de políticos paulistas: "Esses atores adquiriram projeção política por terem atuado tanto no Congresso Nacional como no Executivo paulista".
Não por acaso o PSDB de SP teve crescimento de cargos desde 1988, quando elegeu apenas cinco prefeitos. Em 1996, chegou a ter 221 prefeitos eleitos e 1.631 vereadores. Em 2008, 203 prefeitos e 1.128 vereadores.


Texto Anterior: Tucanos em SP: Os 15 anos do PSDB no comando do Estado
Próximo Texto: Com finanças em dia, educação é ponto fraco
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.