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Sigla ocupou espaço de centro, diz analista
Para cientistas políticos, PSDB venceu o malufismo, conquistou o eleitor conservador com ajuste fiscal e sobreviveu a Lula
Na avaliação de Serra, uma característica importante dos governos do PSDB é que "ninguém quebrou o Estado para fazer seu sucessor"
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
A experiência do PSDB em
São Paulo será o destaque inicial da provável campanha do
governador José Serra ao Palácio do Planalto neste ano.
Conforme disseram à Folha
tucanos próximos de Serra, se
ele confirmar sua candidatura
a presidente, terá como prioridade inicial mostrar ao país sua
gestão e a de seus antecessores.
Desde que a população voltou a escolher os governadores
pelo voto direto (1982), a dinastia tucana em São Paulo já se
iguala à do DEM (ex-PFL) na
Bahia e no Maranhão, só ficando atrás do domínio dos próprios tucanos no Ceará.
Cientistas políticos e historiadores avaliam que os tucanos ocuparam com o tempo o
espaço reservado aos partidos
de direita e de centro entre o
eleitorado paulista. Na outra
mão, sobreviveram à popularidade do presidente Lula.
Para o pesquisador Celso Roma, do Centro de Estudos de
Cultura Contemporânea e autor da tese "A Social Democracia no Brasil: organização, participação no governo e desempenho eleitoral do PSDB", a
força da sigla paulista pode ser
atribuída ao declínio do populismo de direita no Estado.
"Com o fim do "adhemarismo" e do "malufismo", o PSDB
conseguiu conquistar os eleitores de centro e de direita que
valorizam a eficiência na gestão do Estado. A maioria dos
votos do eleitorado tradicional
foi direcionada para candidatos do PSDB", diz Roma.
Adhemar de Barros (1901-1969) foi duas vezes governador e prefeito da capital. Ao lado do também governador e
presidente Jânio Quadros, foi o
principal político populista no
Estado dos anos 40 aos 60.
Na avaliação do governador
José Serra, a trajetória do
PSDB mostra que o eleitor do
Estado passou a valorizar a
austeridade financeira: "Uma
característica importante de
todos os governos do PSDB é
que ninguém quebrou o Estado
para fazer seu sucessor", disse.
Orestes Quércia (PMDB) se
notabilizou por elevar a dívida
de São Paulo, mas conseguiu
eleger para o governo, em 1990,
seu secretário Luiz Antonio
Fleury Filho. Neste ano, Quércia deverá ter o apoio do PSDB
para concorrer ao Senado.
Os tucanos surgiram em
1988 de uma dissidência do
PMDB. "O acordo do Quércia
com o PSDB é um reencontro.
A matriz é a mesma", afirma o
líder do PT na Assembleia Legislativa paulista, Rui Falcão.
Em 1994, Covas derrotaria
nas urnas o quercismo, mas
ainda teria um duro embate
com o então ex-prefeito da capital Paulo Maluf em 1998.
O atual secretário-geral do
partido em São Paulo e responsável pela sua organização no
Estado, Cesar Gontijo, vê naquela eleição um momento decisivo: "Os poucos votos que
deram a vitória de Covas sobre
Marta Suplicy [PT] no primeiro turno foram decisivos para
nossa força no Estado".
O então governador Covas
foi para o segundo turno contra
Paulo Maluf com uma vantagem de apenas 74.436 votos sobre a petista, que o apoiou no
segundo turno, em uma campanha na qual o tucano evocou
a ética para vencer na reta final.
"Até então, nas eleições era
importante apenas a realização
de obras, "o rouba, mas faz". Isso, ao que parece, mudou", diz
Marco Antonio Villa, historiador da Universidade Federal de
São Carlos, no interior de SP.
Lulismo
Desde 2002, o maior adversário dos tucanos no Estado
passou a ser o PT, mas nem a
onda Lula foi capaz de dar a vitória a José Genoino (2002) e a
Aloizio Mercadante (2006).
Mas, para Celso Roma, a oposição em São Paulo "é fraca tanto nas urnas como na Assembleia Legislativa". Por esse motivo, "o PSDB e os seus aliados
elegeram a maioria dos deputados estaduais, os governadores
puderam exercer o mandato
com ampla sustentação parlamentar e conseguiram aprovar
projetos de seu interesse".
A cientista política Raiane
Patrícia Severino, autora de "A
Dinâmica Organizacional do
PSDB no Estado de São Paulo",
afirma que a origem do PSDB
se encontra na atuação de um
conjunto de políticos paulistas:
"Esses atores adquiriram projeção política por terem atuado
tanto no Congresso Nacional
como no Executivo paulista".
Não por acaso o PSDB de SP
teve crescimento de cargos desde 1988, quando elegeu apenas
cinco prefeitos. Em 1996, chegou a ter 221 prefeitos eleitos e
1.631 vereadores. Em 2008, 203
prefeitos e 1.128 vereadores.
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