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CASO ECONÔMICO
Duas ações têm atuais e ex-integrantes do governo como réus e questionam ajuda oficial a banco baiano
Processos apontam ação irregular do BC
FREDERICO VASCONCELOS
da Reportagem Local
As autoridades da área econômica do governo Fernando Henrique
Cardoso -e alguns economistas
que já deixaram suas funções-
convivem com duas bombas de
efeito retardado, heranças do escândalo do Econômico, em 1995.
São dois processos contra decisões tomadas pelo governo federal
antes e depois da intervenção do
banco de Ângelo Calmon de Sá.
O primeiro, uma ação contra improbidade administrativa, está
concluído e aguarda julgamento
desde 1997 na 3ª Vara da Seção Judiciária do Distrito Federal.
São réus desta ação: os ministros
Pedro Malan (Fazenda) e José Serra (Saúde, na época no Planejamento); o secretário-executivo do
Ministério da Fazenda, Pedro Parente; os ex-presidentes do Banco
Central Gustavo Franco e Gustavo
Loyola; o atual presidente do BC,
Francisco Lopes, e os diretores do
BC Cláudio Mauch, Alkimar Moura e Carlos Eduardo de Andrade.
O Ministério Público Federal
considerou ilegal o pagamento a
correntistas daquele banco, com
recursos do Tesouro, de importâncias no valor de até R$ 5 mil.
No segundo processo -que corre em sigilo de Justiça-, as autoridades foram denunciadas por suposta ilegalidade na concessão de
assistência financeira ao banco. O
valor da ação é de R$ 2,9 bilhões.
Para o Ministério Público, o governo ajudou o Econômico quando o banco já apresentava condições que impediam o socorro.
Além de Malan, Loyola e Alkimar, também réus na primeira
ação, esta segunda alcança os então dirigentes do BC Pérsio Arida,
Luiz Gustavo da Matta Machado,
André Romar Fernandes e Alfred
de Castro Rebello Kirchhoff. São
também réus Ângelo Calmon de Sá
e dois ex-diretores do Econômico,
José Roberto David de Azevedo e
Roberto Ribeira Brandão.
A tramitação deste processo está
dependendo da citação de Azevedo, que mora nos Estados Unidos.
Se forem condenados, poderão
ter os direitos políticos suspensos,
perder a função pública, pagar
multas e ser obrigados a devolver
aos cofres públicos a verba alocada
aos correntistas do Econômico.
Chapéu alheio
O motivo alegado pelos réus para
o pagamento a correntistas, com
recursos do Tesouro, foi "evitar
dano potencial à credibilidade do
sistema financeiro nacional".
Os procuradores da República
lembram que o governo da Inglaterra não pôs nenhuma libra sequer para acudir correntistas e investidores do Barings, que quebrou também em 1995. A credibilidade do sistema financeiro britânico não foi arranhada. O banco
inglês foi vendido por uma libra.
Os procuradores consideraram
que o BC não poderia usar recursos da reserva monetária sem autorização prévia do Senado.
Além disso, teria havido operação de crédito sem garantias compatíveis com os recursos alocados.
Com relação ao segundo processo, uma resolução do Conselho
Monetário Nacional estabelece
que não pode recorrer à assistência
financeira (redesconto) um banco
que apresente patrimônio líquido
negativo, ou seja, situação em que,
se vendesse todos os seus bens, não
conseguiria saldar as dívidas.
A Folha não teve acesso aos números sobre a movimentação financeira do Econômico e documentos da fiscalização bancária,
que estão sob sigilo de Justiça.
Sabe-se, contudo, que, já no segundo semestre de 93 a fiscalização do Banco Central havia apurado que o Econômico carregava patrimônio líquido negativo.
Outra regra violada: esse tipo de
socorro deve ser concedido em
prazos curtos, de 1 a 90 dias. O BC
permitiu que o Econômico recorresse ao redesconto por nove meses, fazendo aportes quase diários.
Segundo o Ministério Público, o
BC abriu mão de seu poder de controle e fiscalização. O Econômico,
segundo a denúncia, se utilizou do
redesconto de forma contumaz e
além dos limites do próprio BC.
No momento da intervenção, o
Econômico apresentava um passivo a descoberto de R$ 1,550 bilhão,
tendo havido um saque a descoberto de R$ 1,054 bilhão, sem amparo em nenhum tipo de garantia.
Há uma linha que aproxima os
dois processos: no primeiro, o BC é
acusado de ter sido condescendente, ao usar recursos públicos.
No segundo, demonstrou negligência, pois seis anos antes já havia
sinais da situação crítica do banco.
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