São Paulo, segunda, 17 de fevereiro de 1997.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PERFIL
Temer fez carreira à sombra do poder

Antes de FHC, passou por Montoro e Fleury O deputado Michel Temer (PMDB-SP), novo presidente da Câmara LUIS HENRIQUE AMARAL
da Reportagem Local

Na política, o novo presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB), mantém o espírito de advogado: é fiel e competente na defesa de seu cliente. Seja ele quem for.
Ele surgiu na política com Franco Montoro. Foi ligado a Quércia, aliou-se a Fleury e entrou, na primeira hora, na ala peemedebista que aderiu a FHC. Em comum, todos eles estavam no poder.
Habilidoso, Temer muda de governo sem deixar ressentimentos. ``Ele é um amigo fiel. Sempre nos falamos'', diz o ex-governador Orestes Quércia.
A carreira política de Temer começou em 1983, quando foi indicado procurador-geral de Justiça do Estado. Dali, assumiu a Secretaria da Segurança.
Naquele cargo, implantou as primeiras delegacias de defesa da mulher. Ele era um jovem advogado amigo dos filhos de Montoro. Quando o grupo do ex-governador bateu asas para o PSDB, Temer continuou no PMDB, juntamente com Quércia.
Em 86, no final do governo Montoro, Temer se elegeu deputado federal pela primeira vez. No governo Fleury (91-94), voltou à pasta da Segurança (92-93) num momento de crise. Substituiu Pedro Franco de Campos após o massacre de presos no Carandiru. Foi em seguida secretário de Governo (93-94).
Temer chegou a ser indicado para concorrer pelo PMDB ao governo do Estado em 94, mas acabou preterido por Barros Munhoz.

Bicho
Ainda como secretário da Segurança de Montoro, Temer chamou a atenção por defender a legalização do jogo do bicho. Argumentava que seria uma maneira de desarticular a máfia que se alimenta da jogatina.
Quando foi secretário da Segurança, o número de flagrantes contra bicheiros desabou em São Paulo. Na capital, segundo dados oficiais, o número de flagrantes caiu de 1.006 em 90, para 746 em 92, e 624 em 93.
Em depoimento em maio de 94 na CPI do Bicho, na Assembléia Legislativa de São Paulo, o delegado-geral da gestão Temer, Álvaro Luz, afirmou que tinha orientação de só reprimir os bicheiros se estes agissem de maneira ``ostensiva''.
Formado em direito pela USP, ele hoje é professor de direito constitucional da PUC-SP.
Não se reelegeu deputado em 1990. Quatro anos depois, volta ao Congresso e se torna em 95 líder do PMDB. Nessa condição, ele conseguiu 60 votos para a emenda da reeleição de FHC, que se tornou seu maior cabo eleitoral para a conquista da presidência da Câmara.
Para se eleger, Temer lançou mão de promessas defendidas pelo representante do ``baixo clero'', o tucano Wilson Campos. Entre elas, disse que lutará para aumentar o salário dos deputados e implantar a TV da Câmara (o Senado já tem a sua).
No início do ano passado, pouco antes de assumir a relatoria da reforma da Previdência, Temer solicitou aposentadoria proporcional como procurador do Estado de São Paulo.
Curiosamente, ele não esperou mais dois anos, quando completaria 35 anos no cargo e poderia solicitar o salário integral. Há a possibilidade de a reforma mudar as regras das aposentadorias dos procuradores.

Nota 1,5
Na assembléia constituinte de 1988, Temer se posicionou contra as principais propostas das centrais sindicais. Seu desempenho lhe valeu nota 1,5 (numa escala de 0 a 10) do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar).

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright 1996 Empresa Folha da Manhã