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JANIO DE FREITAS
Efeitos à vista
Entre o assassinato da freira
Dorothy Stang, invocado como motivo da volta antecipada
de Lula ao Brasil, e essa volta há
um descompasso de três dias. Entre o desabamento de PT e governo na Câmara e a precipitação da
volta, o intervalo mede-se em horas. A diferença dos descompassos
serve, no mínimo, como imagem
do impacto que atingiu o partido
e o governo.
Outro oferecimento desse impacto está no campeonato de caras-de-pau que os principais derrotados travam entre si, aprendizes de Pilatos lavando depressa as
mãos para lançar sobre outros a
sua quota de responsabilidade no
desastre. Para Lula foi o PT que
perdeu e não o governo, Genoino
acusa Virgílio Guimarães e os
partidos aliados, o devastado
Luiz Eduardo Greenhalgh diz que
derrotado foi o governo. O resultado reflete bem a esperteza política posta em confronto: como cada um desses companheiros acusa outro para inocentar-se, todos
são reconhecidamente culpados
-embora nenhum seja honestamente verdadeiro no que diz.
Da barafunda de incompetência política e presunção de poder,
que é a essência do espetáculo
produzido pelo círculo de Lula, o
efeito que parece mais certo é o
acirramento de vários confrontos
existentes, mas até agora controlados, em dois níveis: entre os grupos petistas com presença no governo e entre as correntes do partido, sobretudo no Congresso.
A propósito dos primeiros, uma
observação: José Dirceu escolheu,
para seu passeio por Cuba, precisamente os dias em que o governo
estaria na guerra pela presidência
da Câmara. Dirceu é atilado demais para acreditar-se em equívoco de agenda pessoal, cuja sobreposição de datas, além do
mais, seria corrigível. Outra observação: bem em cima da viagem para Cuba, foi plantada uma
nota de jornal informando que
Dirceu decidiu não se candidatar
em 2006, para permanecer no governo até o fim. A dois anos da
eleição, uma nota assim não teria
sentido sem motivo muito especial do interessado -um recado?
que recado? para quem?.
Os confrontos que não têm
transparecido, em grande parte
por contribuição do jornalismo
político ao governo, tendem a
acentuar-se e emergir na procura
de reformulações que o desastre
na Câmara reclama. Nessa perspectiva, um componente significativo é o quase contentamento,
provocado pela derrota, mesmo
em comportados petistas do Congresso. Reflexo claro de um inconformismo calado, mas sentindo
chegada a oportunidade dos seus
questionamentos, seja aos dirigentes partidários ou ao governo.
Já é tempo mesmo de os adultos
do PT agirem como adultos.
Os efeitos do desabamento mais
citados pelo comentarismo político são supostos males para a reeleição e a urgência de rearrumação dos aliados na Câmara. Não
há indicação, por ora, de que a
chamada base governista tenha
sofrido desarranjo maior, senão
uma sinceridade transitória e facilitada pelo voto secreto. E, daqui
à eleição/reeleição, o tempo é ainda longo demais para aceitar que
uma eleição na Câmara a atinja
com gravidade.
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