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Cientista político Gildo Marçal Brandão morre aos 61 em SP
Professor militou no Partido Comunista, mas se afastou da política para se dedicar à academia
Carla Romero - 10.jul.02/Valor
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Gildo Marçal Brandão, filósofo e professor de ciência política
DA REDAÇÃO
Morreu anteontem aos 61
anos o cientista político Gildo
Marçal Brandão. Professor de
ciência política da USP, ex-jornalista e ex-militante comunista, Brandão descansava com a
família na praia da Baleia, em
São Sebastião, quando sentiu-se mal e, por volta de 21h, morreu. Ele tinha uma cardiopatia
grave e já fora submetido a cirurgia de revascularização.
Natural de Alagoas, Brandão
graduou-se em filosofia pela
Universidade Federal de Pernambuco. No final dos anos 70,
veio para São Paulo, onde lecionou na Unesp e, em seguida, na
Escola de Sociologia e Política,
na PUC e finalmente na USP.
Também era dirigente da Anpocs (Associação Nacional de
Pós-Graduação e Pesquisa em
Ciências Sociais).
A militância no Partido Comunista Brasileiro (PCB), que
vinha desde Pernambuco, acabou empurrando-o da filosofia
para a ciência política. Em
1992, sob a orientação de Francisco Weffort, defendeu seu
doutorado, um estudo sobre a
gênese e o papel político do
PCB e da esquerda brasileira.
Paralelamente, desenvolveu
a carreira de jornalista. Foi o
primeiro editor da "Voz da Unidade", o jornal do PCB, cargo
que exerceu por quase meia década. Também foi editorialista
da Folha no início dos anos 80.
Foi paulatinamente se afastando do PCB para dedicar-se à
carreira acadêmica. Jamais
rompeu formalmente com o
partido, mas, em suas obras,
tampouco o poupou de críticas
muitas vezes duras.
No plano intelectual, foi bastante influenciado pelas ideias
do italiano Antonio Gramsci
(1891-1937), as quais, ao lado de
intelectuais como Carlos Nelson Coutinho, Leandro Konder
e Luiz Werneck Vianna, reelaborou para desenvolver um
conceito de esquerda democrática que se adequasse ao Brasil.
Entre 1995 e 1996, passou
uma temporada nos EUA, na
Universidade de Pittsburgh,
onde concluiu um pós-doutorado em teoria política. De lá
trouxe as ideias que acabariam
marcando a última fase de sua
carreira e que resultaram em
sua principal obra, "Linhagens
do Pensamento Político Brasileiro" (Hucitec, 2007).
Trata-se de um grande programa de estudos que pretende
traçar a genealogia das ideias
políticas no Brasil desde o século 19 até hoje. O pressuposto
é o de jamais desvincular a matriz de pensamento do contexto histórico particular em que
ela vem: "Nenhuma grande
constelação de ideias pode ser
compreendida sem levar em
conta os problemas históricos
aos quais tenta dar respostas e
sem atentar para as formas específicas em que é formulada e
discutida; ao mesmo tempo
que nenhuma grande constelação de ideias pode ser inteiramente resolvida em seu contexto".
Brandão, que era casado com
Simone Coelho, filha do jornalista e ex-deputado comunista
Marco Antonio Tavares Coelho, deixa dois filhos.
O corpo do filósofo será cremado hoje no Crematório da
Vila Alpina (av. Francisco Falconi, 437), às 10h.
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