São Paulo, domingo, 17 de março de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

REVIRAVOLTA NA SUCESSÃO

Mais de 20% de votos para Suplicy indicariam que líder já não comanda partido como antes

Prévia do PT mede hoje hegemonia de Lula


FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL

A hegemonia de Luiz Inácio Lula da Silva no PT será medida hoje em uma inédita prévia do partido para escolher seu candidato a presidente da República.
Líder inquestionável do PT durante duas décadas, Lula, 56, confronta-se pela primeira vez com um desafiante, o senador paulista Eduardo Suplicy, 60.
Contrariado com o desafio e certo de que a prévia é uma perda de tempo, Lula teve de se render à teimosia de Suplicy, amparado pelo estatuto petista.
Não está em questão a vitória do principal líder petista, o que o colocará pela quarta vez como candidato à Presidência. A dúvida é o tamanho que ela terá e os sinais que isso enviará.
Conforme relatou à Folha um integrante da Executiva Nacional, o senador pode se considerar derrotado se tiver até 10% dos votos. Se tiver até 15%, cenário mais provável, será o desempenho esperado. A partir daí, no entanto, a coisa começaria a mudar de figura.
Se Suplicy obtiver mais de 20% da votação, poderá sair como vitorioso, conforme reconhecem a portas fechadas membros da cúpula partidária.

Mito Lula
Ao conseguir tal votação desafiando sozinho o mito de Lula, estará em condições de reivindicar a vaga de vice na chapa presidencial, caso o PT não faça composição com outros partidos (ver texto). Mas o sinal mais forte seria o de que Lula já não comandaria mais o partido como antes.
Além do discurso da renovação, o senador aposta também no voto de segmentos das fileiras "radicais" petistas, em protesto contra o que apontam como "autoritarismo" da cúpula pró-Lula e mudança no perfil do partido -principalmente devido à busca de uma coligação com o PL.
Suplicy soube explorar bem os dois pontos vulneráveis de Lula. Passou sua campanha dizendo que seria mais aceito que o oponente em círculos empresariais e, ao perceber que a aliança com o PL fazia água, mudou o discurso e passou a bombardeá-la.
O senador também usou uma versão do lema do "tostão contra o milhão" -o de que, se lhe faltava apoio na cúpula, havia em abundância na base.
Enquanto Suplicy viajou em campanha, Lula manteve-se calado durante todo o período de campanha da prévia. Em dezembro, afirmou que "não moveria uma palha" pela eleição interna. Cumpriu a promessa, o que resultou numa "campanha de um homem só", Suplicy.
Lula não deu entrevistas sobre o tema e quebrou uma tradição petista ao recusar-se a participar de debates com Suplicy, argumentando não ter diferenças com ele.
Quando o senador dizia que havia diferenças importantes na concepção do programa de renda mínima -seu xodó e o que seria sua razão maior para se candidatar à Presidência- Lula respondia que eram apenas de ênfase, não de fundo.
A amigos, o líder reclamou do fato de o PT desperdiçar energia com uma disputa de resultado conhecido. Como prova, Lula disse que, enquanto ficava de mãos atadas por causa da prévia, caiu nas pesquisas e viu adversários como Anthony Garotinho (PSB) e José Serra (PSDB) crescerem.

Quórum
Estarão habilitados a votar hoje cerca de 860 mil filiados, mas o partido espera que entre 150 mil e 250 mil compareçam. Para ser válida em um determinado Estado, a consulta deve atrair 15% dos filiados em metade mais um dos municípios daquela unidade da federação. Isso deve se repetir em 14 Estados ao menos.
O PT promete o resultado final para quarta-feira. Haverá cerca de 6.000 urnas, em quase 3.000 municípios, com votação manual. O custo da prévia é de R$ 500 mil.
Em outros cinco Estados, os militantes devem escolher também seus candidatos a governador -Rio Grande do Sul, Paraná, Goiás, Piauí e Ceará.



Texto Anterior: Supostos tentáculos de Serra
Próximo Texto: Senador pode se cacifar para ser candidato a vice
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.