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REVIRAVOLTA NA SUCESSÃO
Mais de 20% de votos para Suplicy indicariam que líder já não comanda partido como antes
Prévia do PT mede hoje hegemonia de Lula
FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL
A hegemonia de Luiz Inácio Lula da Silva no PT será medida hoje
em uma inédita prévia do partido
para escolher seu candidato a presidente da República.
Líder inquestionável do PT durante duas décadas, Lula, 56, confronta-se pela primeira vez com
um desafiante, o senador paulista
Eduardo Suplicy, 60.
Contrariado com o desafio e
certo de que a prévia é uma perda
de tempo, Lula teve de se render à
teimosia de Suplicy, amparado
pelo estatuto petista.
Não está em questão a vitória do
principal líder petista, o que o colocará pela quarta vez como candidato à Presidência. A dúvida é o
tamanho que ela terá e os sinais
que isso enviará.
Conforme relatou à Folha um
integrante da Executiva Nacional,
o senador pode se considerar derrotado se tiver até 10% dos votos.
Se tiver até 15%, cenário mais provável, será o desempenho esperado. A partir daí, no entanto, a coisa começaria a mudar de figura.
Se Suplicy obtiver mais de 20%
da votação, poderá sair como vitorioso, conforme reconhecem a
portas fechadas membros da cúpula partidária.
Mito Lula
Ao conseguir tal votação desafiando sozinho o mito de Lula, estará em condições de reivindicar a
vaga de vice na chapa presidencial, caso o PT não faça composição com outros partidos (ver texto). Mas o sinal mais forte seria o
de que Lula já não comandaria
mais o partido como antes.
Além do discurso da renovação,
o senador aposta também no voto
de segmentos das fileiras "radicais" petistas, em protesto contra
o que apontam como "autoritarismo" da cúpula pró-Lula e mudança no perfil do partido
-principalmente devido à busca
de uma coligação com o PL.
Suplicy soube explorar bem os
dois pontos vulneráveis de Lula.
Passou sua campanha dizendo
que seria mais aceito que o oponente em círculos empresariais e,
ao perceber que a aliança com o
PL fazia água, mudou o discurso e
passou a bombardeá-la.
O senador também usou uma
versão do lema do "tostão contra
o milhão" -o de que, se lhe faltava apoio na cúpula, havia em
abundância na base.
Enquanto Suplicy viajou em
campanha, Lula manteve-se calado durante todo o período de
campanha da prévia. Em dezembro, afirmou que "não moveria
uma palha" pela eleição interna.
Cumpriu a promessa, o que resultou numa "campanha de um homem só", Suplicy.
Lula não deu entrevistas sobre o
tema e quebrou uma tradição petista ao recusar-se a participar de
debates com Suplicy, argumentando não ter diferenças com ele.
Quando o senador dizia que havia diferenças importantes na
concepção do programa de renda
mínima -seu xodó e o que seria
sua razão maior para se candidatar à Presidência- Lula respondia que eram apenas de ênfase,
não de fundo.
A amigos, o líder reclamou do
fato de o PT desperdiçar energia
com uma disputa de resultado conhecido. Como prova, Lula disse
que, enquanto ficava de mãos atadas por causa da prévia, caiu nas
pesquisas e viu adversários como
Anthony Garotinho (PSB) e José
Serra (PSDB) crescerem.
Quórum
Estarão habilitados a votar hoje
cerca de 860 mil filiados, mas o
partido espera que entre 150 mil e
250 mil compareçam. Para ser válida em um determinado Estado,
a consulta deve atrair 15% dos filiados em metade mais um dos
municípios daquela unidade da
federação. Isso deve se repetir em
14 Estados ao menos.
O PT promete o resultado final
para quarta-feira. Haverá cerca de
6.000 urnas, em quase 3.000 municípios, com votação manual. O
custo da prévia é de R$ 500 mil.
Em outros cinco Estados, os militantes devem escolher também
seus candidatos a governador
-Rio Grande do Sul, Paraná,
Goiás, Piauí e Ceará.
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