São Paulo, quinta-feira, 17 de março de 2005

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INTELIGÊNCIA

Guerrilheiros doariam dinheiro à campanha de 2002; caso foi arquivado pois faltaram "elementos contundentes"

Abin confirma documento que liga Farc ao PT

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em reunião fechada com parlamentares, o ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Jorge Armando Félix, e o diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), delegado Mauro Marcelo de Lima e Silva, confirmaram ontem a existência de um documento oficial que registra uma promessa de doação de US$ 5 milhões para a campanha presidencial, em 2002, que seria feita pelas Farc, grupo guerrilheiro colombiano ligado ao narcotráfico.
O documento, registrado com o número 0095, é de abril de 2002 e integra os arquivos da Abin. Segundo Félix e Mauro Marcelo, seria esse o único registro, entre os 200 relacionados às Farcs e guardados na Abin, que faz menção a contribuições eleitorais.
Félix e Mauro Marcelo não conversaram com a imprensa. As informações foram repassadas pelos parlamentares que participaram da reunião.
O conteúdo do documento apresentado ontem foi revelado pela revista "Veja". A publicação faz referência a um conjunto de seis informes da Abin relacionados ao tema, dos quais a reportagem extrai o que seriam detalhes sobre como o dinheiro chegaria a campanhas eleitorais de "candidatos petistas", com origem em Trinidad e Tobago. O documentos apresentados ontem aos parlamentares não trazem detalhes.
Segundo Félix e Mauro Marcelo contaram a deputados e senadores em reunião da Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso Nacional, a Abin não aprofundou as investigações na época porque não teria encontrado elementos contundentes para fazê-lo. Mais do que isso, em se tratando de um órgão de Estado, a Abin teria se preocupado com o possível uso eleitoral do informe 0095.
"Eles nos disseram que o informe não tinha credibilidade e que havia o temor de que pudesse causar algum dano ao candidato da oposição [Luiz Inácio Lula da Silva, que disputava a Presidência com o tucano José Serra na eleição de 2002]. Como a Abin seria um órgão de Estado e não de governo, o documento foi arquivado", afirmou o senador Demóstenes Torres (PFL-GO).
Ainda conforme Demóstenes, o general e o delegado disseram não ter condições de fornecer mais elementos sobre o caso porque, à época, não ocupavam os cargos pelos quais respondem hoje. Consequentemente, não teriam mais informações. Na época, quem respondia pelo GSI era o general Alberto Cardoso e pela Abin Marisa Del'Isola, que serão ouvidos pela comissão em data ainda a definir, conforme requerimento aprovado na reunião de ontem.
Segundo o senador Torres e os deputados Fernando Gabeira (PT-RJ) e José Carlos Aleluia (PFL-BA), no documento que lhes foi apresentado não há referência ao nome do beneficiário nem ao PT.
Também será ouvido pela comissão, em data ainda a definir, o padre Olivério Medina, que, conforme a revista "Veja", seria o autor da afirmação, feita num churrasco, em uma chácara nos arredores de Brasília, de que as Farcs fariam contribuições financeiras para candidatos petistas.
Para rebater a exploração do episódio pela oposição, o líder do governo, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), afirmou que o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), encontrou-se com o padre Medina em 1998, quando era secretário geral do PSDB.
"Ele [Virgílio] disse que estava buscando uma solução pacífica para um conflito armado. Não vejo nada que o desabone, embora eu ache que depois que essa organização realizou seqüestros não cabe solidariedade a ela", disse.
Em nota conjunta, as lideranças do PSDB na Câmara e no Senado afirmaram que não compareceram à reunião devido a seu caráter informal e por ter sido realizado a portas fechadas.
Hoje à tarde, o general Félix e Mauro Marcelo serão ouvidos novamente sobre o caso em reunião restrita a parlamentares.
O deputado Rodrigo Maia (PFL-RJ) requereu ao Banco Central que informe os valores e beneficiários de recursos enviados de Trinidad e Tobago ao Brasil em 2002.
Maia também quer que o BC informe, entre as pessoas físicas e jurídicas que receberam recursos daquele país, quais figuram nas listas de doadores de recursos para campanhas do PT, conforme registros do Tribunal Superior Eleitoral.


Colaborou FERNANDA KRAKOVICS, da Sucursal de Brasília


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