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INTELIGÊNCIA
Guerrilheiros doariam dinheiro à campanha de 2002; caso foi arquivado pois faltaram "elementos contundentes"
Abin confirma documento que liga Farc ao PT
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em reunião fechada com parlamentares, o ministro-chefe do
GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Jorge Armando
Félix, e o diretor da Abin (Agência
Brasileira de Inteligência), delegado Mauro Marcelo de Lima e Silva, confirmaram ontem a existência de um documento oficial que
registra uma promessa de doação
de US$ 5 milhões para a campanha presidencial, em 2002, que seria feita pelas Farc, grupo guerrilheiro colombiano ligado ao narcotráfico.
O documento, registrado com o
número 0095, é de abril de 2002 e
integra os arquivos da Abin. Segundo Félix e Mauro Marcelo, seria esse o único registro, entre os
200 relacionados às Farcs e guardados na Abin, que faz menção a
contribuições eleitorais.
Félix e Mauro Marcelo não conversaram com a imprensa. As informações foram repassadas pelos parlamentares que participaram da reunião.
O conteúdo do documento
apresentado ontem foi revelado
pela revista "Veja". A publicação
faz referência a um conjunto de
seis informes da Abin relacionados ao tema, dos quais a reportagem extrai o que seriam detalhes
sobre como o dinheiro chegaria a
campanhas eleitorais de "candidatos petistas", com origem em
Trinidad e Tobago. O documentos apresentados ontem aos parlamentares não trazem detalhes.
Segundo Félix e Mauro Marcelo
contaram a deputados e senadores em reunião da Comissão Mista de Controle das Atividades de
Inteligência do Congresso Nacional, a Abin não aprofundou as investigações na época porque não
teria encontrado elementos contundentes para fazê-lo. Mais do
que isso, em se tratando de um órgão de Estado, a Abin teria se
preocupado com o possível uso
eleitoral do informe 0095.
"Eles nos disseram que o informe não tinha credibilidade e que
havia o temor de que pudesse
causar algum dano ao candidato
da oposição [Luiz Inácio Lula da
Silva, que disputava a Presidência
com o tucano José Serra na eleição de 2002]. Como a Abin seria
um órgão de Estado e não de governo, o documento foi arquivado", afirmou o senador Demóstenes Torres (PFL-GO).
Ainda conforme Demóstenes, o
general e o delegado disseram não
ter condições de fornecer mais
elementos sobre o caso porque, à
época, não ocupavam os cargos
pelos quais respondem hoje. Consequentemente, não teriam mais
informações. Na época, quem respondia pelo GSI era o general Alberto Cardoso e pela Abin Marisa
Del'Isola, que serão ouvidos pela
comissão em data ainda a definir,
conforme requerimento aprovado na reunião de ontem.
Segundo o senador Torres e os
deputados Fernando Gabeira
(PT-RJ) e José Carlos Aleluia
(PFL-BA), no documento que
lhes foi apresentado não há referência ao nome do beneficiário
nem ao PT.
Também será ouvido pela comissão, em data ainda a definir, o
padre Olivério Medina, que, conforme a revista "Veja", seria o autor da afirmação, feita num churrasco, em uma chácara nos arredores de Brasília, de que as Farcs
fariam contribuições financeiras
para candidatos petistas.
Para rebater a exploração do
episódio pela oposição, o líder do
governo, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), afirmou que o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), encontrou-se com o
padre Medina em 1998, quando
era secretário geral do PSDB.
"Ele [Virgílio] disse que estava
buscando uma solução pacífica
para um conflito armado. Não vejo nada que o desabone, embora
eu ache que depois que essa organização realizou seqüestros não
cabe solidariedade a ela", disse.
Em nota conjunta, as lideranças
do PSDB na Câmara e no Senado
afirmaram que não compareceram à reunião devido a seu caráter informal e por ter sido realizado a portas fechadas.
Hoje à tarde, o general Félix e
Mauro Marcelo serão ouvidos novamente sobre o caso em reunião
restrita a parlamentares.
O deputado Rodrigo Maia
(PFL-RJ) requereu ao Banco Central que informe os valores e beneficiários de recursos enviados
de Trinidad e Tobago ao Brasil em
2002.
Maia também quer que o BC informe, entre as pessoas físicas e
jurídicas que receberam recursos
daquele país, quais figuram nas
listas de doadores de recursos para campanhas do PT, conforme
registros do Tribunal Superior
Eleitoral.
Colaborou FERNANDA KRAKOVICS, da
Sucursal de Brasília
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