|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BRASIL PROFUNDO
Em 92, a taxa era de 19,6%; apesar da diminuição, 5,48 milhões de crianças ainda trabalham no país
Trabalho infantil no Brasil cai para 12,7%
SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO
A urbanização, aliada a programas sociais, tem contribuído para
a queda do trabalho infantil no
Brasil, mas 5,48 milhões de crianças ainda trabalham no país.
A redução da ocupação entre
crianças e adolescentes de 5 a 17
anos é um dos resultados da pesquisa suplementar da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2001 sobre trabalho infantil, divulgada ontem pelo
IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Segundo o levantamento, 12,7%
das pessoas nessa faixa etária trabalham no país, o que significa
um total de 5.482.515 crianças.
Em 1992, eles eram 19,6%.
Para Sônia Rocha, pesquisadora
da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e especialista em trabalho infantil, além dos projetos sociais e da fiscalização do Ministério do
Trabalho, "a urbanização tem contribuído para sua redução,
uma vez que o trabalho infantil
está concentrado na área rural".
A secretária-executiva do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil, Isa Oliveira, diz que esse número
pode ser maior porque não são
pesquisadas as zonas rurais de
seis Estados da região Norte nem
a população infantil de rua.
"Nós temos uma população que
não está nos domicílios, mas nas
ruas vendendo balas, nos lixões,
além daquelas crianças que estão
na área rural do Norte e que estão
fora da pesquisa."
Um dado que chama a atenção é
o percentual de crianças trabalhando no Sul, que costuma ter
bons indicadores sociais: 15,1%
-próximo dos 16,6% do Nordeste, que tem a pior taxa.
Especialistas dizem que isso se
deve ao fato de as duas regiões terem as maiores áreas agrícolas do
país -o setor agrícola é o que
mais absorve mão-de-obra infantil: 43,4%- mas alertam para as
diferenças do trabalho.
"Isso acontece por causa da alta
incidência da agricultura familiar
no Sul. Lá, essa ocupação é feita
em melhores condições para as
crianças, porque a renda familiar
é mais alta", diz Armand Pereira,
diretor da Organização Internacional do Trabalho no Brasil.
Por ser mais pobre, a criança no
Nordeste tem maiores dificuldades de conciliar a escola com o
trabalho. Também o tipo de trabalho é mais penoso. Muitas estão
na lavoura de cana e de sisal, na
extração mineral ou na fabricação
de carvão vegetal.
Um terço das crianças e adolescentes que trabalham (1,83 milhão) cumpre jornada integral, de 40 horas ou mais por semana.
A pesquisa não detalha os piores tipos de trabalho infantil, mas
pode-se ter uma idéia combinando os índices de jornadas semanais com o de uso de ferramenta, máquina ou instrumento e produto químico na atividade. Esses
equipamentos vão desde um sabão ou uma vassoura até pesticida
ou um machado.
"Pode-se dizer que uma criança
que trabalha 40 horas semanais e
usa uma ferramenta cortante, como um machado nos babaçuais,
tem um dos piores tipos de trabalho", diz Vandeli Guerra, consultora do Departamento de Emprego e Rendimento do IBGE. Segundo o estudo, 51,2% das crianças que trabalham no Brasil usavam ferramenta ou produto químico no trabalho.
O pior
O Maranhão é o Estado com o
maior percentual de crianças e
adolescentes trabalhando: 22,2%.
A principal atividade das crianças está nos babaçuais. Aos 5
anos, os filhos já são levados pelas
mães para carregar cocos da palmeira de babaçu.
Nas regiões de pesca, as crianças
trabalham, como adultos, com redes e anzóis e catam caranguejos
nos manguezais. Nas olarias, elas
embalam tijolos e colocam lenha
na fornalha. Nas serrarias, transportam lascas de madeira. Nas
carvoarias, enchem os fornos de
madeira para transformá-la em
carvão, correndo o risco de sofrer
queimaduras.
Texto Anterior: Projeto para Previdência tributa inativo que ganha mais de R$ 1.058 Próximo Texto: Mau exemplo: Carroceiro, 12, não sabe ler Índice
|