São Paulo, domingo, 17 de abril de 2005

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FAZENDEIRO DO AR

Getúlio de Souza Vieira, presidente da entidade, se enrola ao falar sobre o ministro e a TV Caburaí

Fundação não explica ligação com Jucá

DO COLUNISTA DA FOLHA

Dona de um dos principais canais de televisão de Roraima (TV Caburaí), a Fundação Roraima está em petição de miséria. Instalou-se de favor numa casa cedida pelo governo do Estado. Ministra cursos de artesanato a cerca de 15 idosos. Funciona dia sim, dia não.
A despeito das dificuldades, a entidade filantrópica alugou à Uyrapuru, empresa pertencente a quatro filhos do ministro Romero Jucá, o direito de explorar a sua emissora. Em troca, recebe R$ 3.500 mensais.
Abaixo, a entrevista com Getúlio de Souza Vieira, 62, presidente da fundação. (JOSIAS DE SOUZA)
 

Folha - Qual é a atividade da Fundação Roraima hoje?
Getúlio de Souza Oliveira -
É com pessoal da terceira idade, fazendo artesanato, essas coisas.

Folha - Como a fundação financia suas atividades?
Oliveira -
Alugamos uma televisão que pertence à fundação. Ela está alugada para outra empresa.

Folha - É a TV Caburaí?
Oliveira -
É, pertence à fundação e nós a alugamos.

Folha - Qual é o nome da empresa que aluga a TV?
Oliveira -
Uyrapuru Comunicações Ltda, do sr. Geraldo Magela.

Folha - A Fundação Roraima é uma filantrópica?
Oliveira -
Exatamente.

Folha - O sr. está acompanhando o noticiário que envolve o ministro Romero Jucá?
Oliveira -
Estou vendo, mas não temos nada com isso.

Folha - O ministro tem vínculos com a fundação e com a TV?
Oliveira -
Nenhum. Não temos nada com isso.

Folha - Quer dizer que ele não é vinculado à fundação?
Oliveira -
Anos atrás, numa época em que eu nem era presidente da fundação, ele ajudou nuns projetos. Só isso.

Folha - Mas o ministro Jucá é sócio da TV Caburaí, não?
Oliveira -
Também não. Não tem nada a ver.

Folha -Tenho comigo um documento da Receita Federal dizendo que ele é sócio.
Oliveira -
Mas isso faz muitos anos. Depois que eu assumi é só com a gente aqui mesmo. Mas me diga uma coisa: o que tem a ver o dr. Romero com a fundação em termos de Receita?

Folha - Com base em auditoria concluída em 1995, a Receita diz que Romero Jucá é sócio da fundação na TV Caburaí [o repórter lê trechos do relatório do fisco].
Oliveira -
Ele saiu há muitos anos. Aí ficou só a fundação como sócia e outra pessoa foi colocada no lugar. Não temos vínculo nenhum com o dr. Romero.

Folha - Quem é essa outra pessoa que entrou no lugar do ministro Romero Jucá?
Oliveira -
Entrou o Márcio Vieira de Oliveira, que é o meu filho.

Folha -O que faz o seu filho?
Oliveira -
O Márcio? Ele é empregado aqui no meu escritório de contabilidade.

Folha - Quer dizer que o seu filho virou sócio da fundação?
Oliveira -
É sócio na firma TV Caburaí, junto com a fundação.

Folha - Quanto o seu filho pagou para virar sócio de uma TV?
Oliveira -
Como ela estava desativada, pagou coisinha pequena.

Folha - Mas a TV Caburaí não estava desativada.
Oliveira -
A TV, é... é..., como ela está funcionando, a fundação é que assumiu tudo, para alugar, essas coisas.

Folha - A TV Caburaí parece ser um negócio lucrativo, retransmite a programação da Rede Bandeirantes, vende anúncios etc. Quer dizer que seu filho entrou como sócio sem pagar nada?
Oliveira -
É que a televisão... Tenho aqui vários documentos, é..., é..., tem sido negativa a renda deles, toda vez.

Folha - Dá prejuízo?
Oliveira -
Dá mal para pagar os funcionários.

Folha - Quando a TV dá lucro, o sr. lança o resultado no balanço da fundação?
Oliveira -
Como a TV foi alugada, eu só lanço no balanço o valor do aluguel.

Folha - Qual é esse valor?
Oliveira -
É uma faixa de R$ 3.500,00 por mês.

Folha - A fundação continua recebendo verbas públicas?
Oliveira -
Por enquanto, não estamos recebendo nenhuma. Só temos uma casa cedida pelo governo do Estado. É lá onde nós fazemos a atividade com o pessoal da terceira idade.


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