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FAZENDEIRO DO AR
Getúlio de Souza Vieira, presidente da entidade, se enrola ao falar sobre o ministro e a TV Caburaí
Fundação não explica ligação com Jucá
DO COLUNISTA DA FOLHA
Dona de um dos principais canais de televisão de Roraima (TV
Caburaí), a Fundação Roraima
está em petição de miséria. Instalou-se de favor numa casa cedida
pelo governo do Estado. Ministra
cursos de artesanato a cerca de 15
idosos. Funciona dia sim, dia não.
A despeito das dificuldades, a
entidade filantrópica alugou à
Uyrapuru, empresa pertencente a
quatro filhos do ministro Romero
Jucá, o direito de explorar a sua
emissora. Em troca, recebe
R$ 3.500 mensais.
Abaixo, a entrevista com Getúlio de Souza Vieira, 62, presidente
da fundação.
(JOSIAS DE SOUZA)
Folha - Qual é a atividade da Fundação Roraima hoje?
Getúlio de Souza Oliveira - É com
pessoal da terceira idade, fazendo
artesanato, essas coisas.
Folha - Como a fundação financia
suas atividades?
Oliveira - Alugamos uma televisão que pertence à fundação. Ela
está alugada para outra empresa.
Folha - É a TV Caburaí?
Oliveira - É, pertence à fundação
e nós a alugamos.
Folha - Qual é o nome da empresa
que aluga a TV?
Oliveira - Uyrapuru Comunicações Ltda, do sr. Geraldo Magela.
Folha - A Fundação Roraima é
uma filantrópica?
Oliveira - Exatamente.
Folha - O sr. está acompanhando
o noticiário que envolve o ministro
Romero Jucá?
Oliveira - Estou vendo, mas não
temos nada com isso.
Folha - O ministro tem vínculos
com a fundação e com a TV?
Oliveira - Nenhum. Não temos
nada com isso.
Folha - Quer dizer que ele não é
vinculado à fundação?
Oliveira - Anos atrás, numa época em que eu nem era presidente
da fundação, ele ajudou nuns projetos. Só isso.
Folha - Mas o ministro Jucá é sócio da TV Caburaí, não?
Oliveira - Também não. Não tem
nada a ver.
Folha -Tenho comigo um documento da Receita Federal dizendo
que ele é sócio.
Oliveira - Mas isso faz muitos
anos. Depois que eu assumi é só
com a gente aqui mesmo. Mas me
diga uma coisa: o que tem a ver o
dr. Romero com a fundação em
termos de Receita?
Folha - Com base em auditoria
concluída em 1995, a Receita diz
que Romero Jucá é sócio da fundação na TV Caburaí [o repórter lê trechos do relatório do fisco].
Oliveira - Ele saiu há muitos
anos. Aí ficou só a fundação como
sócia e outra pessoa foi colocada
no lugar. Não temos vínculo nenhum com o dr. Romero.
Folha - Quem é essa outra pessoa
que entrou no lugar do ministro
Romero Jucá?
Oliveira - Entrou o Márcio Vieira
de Oliveira, que é o meu filho.
Folha -O que faz o seu filho?
Oliveira - O Márcio? Ele é empregado aqui no meu escritório de
contabilidade.
Folha - Quer dizer que o seu filho
virou sócio da fundação?
Oliveira - É sócio na firma TV
Caburaí, junto com a fundação.
Folha - Quanto o seu filho pagou
para virar sócio de uma TV?
Oliveira - Como ela estava desativada, pagou coisinha pequena.
Folha - Mas a TV Caburaí não estava desativada.
Oliveira - A TV, é... é..., como ela
está funcionando, a fundação é
que assumiu tudo, para alugar, essas coisas.
Folha - A TV Caburaí parece ser
um negócio lucrativo, retransmite
a programação da Rede Bandeirantes, vende anúncios etc. Quer dizer
que seu filho entrou como sócio
sem pagar nada?
Oliveira - É que a televisão... Tenho aqui vários documentos, é...,
é..., tem sido negativa a renda deles, toda vez.
Folha - Dá prejuízo?
Oliveira - Dá mal para pagar os
funcionários.
Folha - Quando a TV dá lucro, o sr.
lança o resultado no balanço da
fundação?
Oliveira - Como a TV foi alugada, eu só lanço no balanço o valor
do aluguel.
Folha - Qual é esse valor?
Oliveira - É uma faixa de
R$ 3.500,00 por mês.
Folha - A fundação continua recebendo verbas públicas?
Oliveira - Por enquanto, não estamos recebendo nenhuma. Só
temos uma casa cedida pelo governo do Estado. É lá onde nós fazemos a atividade com o pessoal
da terceira idade.
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