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Antropólogo índio diz que ciência permite diálogo entre as culturas
DO ENVIADO A MACEIÓ (AL)
Antropólogos brancos sempre
estudaram as populações indígenas brasileiras. Gersem Santos
Luciano, 41, inverteu os papéis.
Nascido numa aldeia da comunidade baniwa, na região do Alto
Rio Negro (no Amazonas), ele teve que ler vários desses brancos
para terminar sua dissertação de
mestrado em antropologia na
UnB (Universidade de Brasília).
Ela será defendida no próximo
dia 28 e teve como tema os projetos de etnodesenvolvimento dos
povos indígenas de sua região.
"Minha contribuição é também
a de entender melhor a percepção
dos brancos sobre nós, indígenas.
A antropologia nos permite ter
contato e estabelecer um diálogo
entre essas duas culturas", diz.
Esse diálogo com a academia,
no entanto, não foi tranqüilo. Ele
se queixa que o meio acadêmico
dá pouco espaço para o questionamento. "Acabei descobrindo
que a academia é hermética. Há
pouco espaço para o diálogo ou
para questionar as teorias que já
foram construídas a partir de um
ponto de vista ocidental sobre as
populações indígenas", afirma.
Luciano acredita que, para romper com as teorias já construídas
pelos brancos, serão necessários
muitos novos mestrandos e doutorandos índios.
O embate entre essas duas culturas em sua vida aconteceu desde cedo, quando ele foi estudar
numa escola mantida por missionários salesianos.
"A gente tinha que sair da aldeia
e estudar em regime de internato.
O objetivo claro e explícito dessa
experiência era "civilizar" os índios por meio da educação e da
religião católica."
Luciano estudou filosofia na
Universidade Federal do Amazonas. Após concluir a graduação,
fez teste para o mestrado da PUC
de São Paulo e para a UnB. Passou
nos dois e ganhou uma bolsa da
Fundação Ford.
(AG)
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