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MST apela porque perdeu a razão de existir, diz analista
Zander Navarro afirma que o governo assiste passivamente às ações dos sem-terra, que invadem para se manter sob holofotes
Estudioso afirma que grupo entraria para a história se, na década de 90, virasse organização social voltada ao desenvolvimento rural
FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REDAÇÃO
Professor de sociologia da
Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Zander Navarro
é um dos principais pesquisadores da atuação do MST. Ex-aliado de movimentos agrários
e hoje crítico deles, o autor de
"Mobilização sem Emancipação - As Lutas Sociais dos Sem-Terra no Brasil" diz que as invasões são uma forma de o movimento se manter nos holofotes.
FOLHA - Que análise o sr. faz deste
"abril vermelho"?
ZANDER NAVARRO - A organização precisa das manchetes para
se cacifar junto a outros atores
do mesmo campo. Há vários
problemas, contudo, que se sobressaem nos anos mais recentes. Primeiro, parte importante
das ações são organizadas sobre temas que nem remotamente estão no campo de interesses e reconhecimento dos
trabalhadores rurais, indicando manipulação, especialmente de famílias de assentamentos. Há também crescente inquietação com a evidente falta
de legitimidade dos dirigentes.
São inúmeros os sinais, nesses anos, de que o MST perdeu
a sua razão de existência e sua
disparatada agenda é o próprio
reflexo deste descaminho.
FOLHA - O sr. fala de invasões de
prédios públicos ou multinacionais?
NAVARRO - O movimento apela
para outras formas de protestos como artifício de atrair holofotes que possam reforçar a
necessidade de sua existência.
O MST não é mais do que uma
organização do sistema político, integrada por algumas centenas de militantes profissionais, que não sabem fazer mais
nada. Se sumir da cena política
como obterá recursos públicos
que sustentam a organização?
A tudo isso o governo federal
assiste passivamente.
A manutenção dessa comédia atende interesses de militantes profissionais do MST,
intelectuais desinformados, estudantes encantados com a retórica radical, corporativismo
do Incra e segmentos radicalizados da classe média, que jamais pisaram em áreas rurais.
FOLHA - A reforma é necessária?
NAVARRO - Mantenho o argumento que defendo há quase
uma década: o tempo da reforma agrária há muito deixou de
existir. Atualmente, se tanto, se
justificaria uma ação mais ousada apenas no chamado "polígono das secas", onde se concentra praticamente a metade
das famílias rurais mais pobres.
FOLHA - Há argumentos válidos
para as invasões?
NAVARRO - O MST perdeu a
chance de entrar na história
brasileira, a partir do final da
década de 1990, quando poderia se transformar na maior organização voltada ao desenvolvimento rural a favor dos mais
pobres. Precisaria se institucionalizar, impor transparência
no processo de decisões e abraçar o jogo democrático.
FOLHA - O que ocorreu?
NAVARRO - Seu líder maior
[João Pedro Stedile], infelizmente, é muito tacanho e prefere continuar usando crianças
em ocupações, manipular assentados com recursos públicos, doutrinar jovens em suas
patéticas escolas rurais e, se necessário, usar até da violência
para manter o controle interno.
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