São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 2008

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MST apela porque perdeu a razão de existir, diz analista

Zander Navarro afirma que o governo assiste passivamente às ações dos sem-terra, que invadem para se manter sob holofotes

Estudioso afirma que grupo entraria para a história se, na década de 90, virasse organização social voltada ao desenvolvimento rural

FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REDAÇÃO

Professor de sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Zander Navarro é um dos principais pesquisadores da atuação do MST. Ex-aliado de movimentos agrários e hoje crítico deles, o autor de "Mobilização sem Emancipação - As Lutas Sociais dos Sem-Terra no Brasil" diz que as invasões são uma forma de o movimento se manter nos holofotes.

 

FOLHA - Que análise o sr. faz deste "abril vermelho"?
ZANDER NAVARRO
- A organização precisa das manchetes para se cacifar junto a outros atores do mesmo campo. Há vários problemas, contudo, que se sobressaem nos anos mais recentes. Primeiro, parte importante das ações são organizadas sobre temas que nem remotamente estão no campo de interesses e reconhecimento dos trabalhadores rurais, indicando manipulação, especialmente de famílias de assentamentos. Há também crescente inquietação com a evidente falta de legitimidade dos dirigentes. São inúmeros os sinais, nesses anos, de que o MST perdeu a sua razão de existência e sua disparatada agenda é o próprio reflexo deste descaminho.

FOLHA - O sr. fala de invasões de prédios públicos ou multinacionais?
NAVARRO
- O movimento apela para outras formas de protestos como artifício de atrair holofotes que possam reforçar a necessidade de sua existência. O MST não é mais do que uma organização do sistema político, integrada por algumas centenas de militantes profissionais, que não sabem fazer mais nada. Se sumir da cena política como obterá recursos públicos que sustentam a organização? A tudo isso o governo federal assiste passivamente. A manutenção dessa comédia atende interesses de militantes profissionais do MST, intelectuais desinformados, estudantes encantados com a retórica radical, corporativismo do Incra e segmentos radicalizados da classe média, que jamais pisaram em áreas rurais.

FOLHA - A reforma é necessária?
NAVARRO
- Mantenho o argumento que defendo há quase uma década: o tempo da reforma agrária há muito deixou de existir. Atualmente, se tanto, se justificaria uma ação mais ousada apenas no chamado "polígono das secas", onde se concentra praticamente a metade das famílias rurais mais pobres.

FOLHA - Há argumentos válidos para as invasões?
NAVARRO
- O MST perdeu a chance de entrar na história brasileira, a partir do final da década de 1990, quando poderia se transformar na maior organização voltada ao desenvolvimento rural a favor dos mais pobres. Precisaria se institucionalizar, impor transparência no processo de decisões e abraçar o jogo democrático.

FOLHA - O que ocorreu?
NAVARRO
- Seu líder maior [João Pedro Stedile], infelizmente, é muito tacanho e prefere continuar usando crianças em ocupações, manipular assentados com recursos públicos, doutrinar jovens em suas patéticas escolas rurais e, se necessário, usar até da violência para manter o controle interno.


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