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Viúva de senador converte cota em dinheiro
ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Para atender a um pedido da
viúva de Jefferson Péres (PDT-AM), o Senado transformou em
dinheiro a cota de passagens
aéreas deixada pelo senador
morto e deu o valor para ela.
Em dezembro, Marlidice Péres
recebeu R$ 118.651,20 em espécie referentes à cota que o senador não usou de janeiro a abril
de 2008. Ele morreu em maio.
O procedimento não é previsto no ato do Senado que regulamenta o uso de passagens,
mas foi liberado pelo então presidente do Senado, Garibaldi
Alves (PMDB-RN), e à revelia
dos demais membros da Mesa.
As passagens são destinadas ao
deslocamento de senadores.
Os senadores não recebem
dinheiro para comprar passagens, mas um "crédito virtual".
O valor é repassado à agência
de viagens contratada pelo Senado para emitir os bilhetes.
A decisão de Garibaldi ainda
desrespeitou parecer da advocacia geral do Senado, que considerou que o pagamento só poderia ser feito mediante autorização da Mesa Diretora.
"Fui levado a decidir isso sozinho porque a viúva insistiu,
alegou que estava numa situação difícil e era época de recesso. Não acho que tenha sido
muito correto. Mas a gente comete erros, equívocos. Hoje eu
não faria isso", disse Garibaldi.
"Estou constrangido em ter
que pedir o dinheiro de volta,
mas posso rever meu ato."
Marlidice, que é juíza estadual aposentada, afirmou que o
Senado "tem tanto desperdício
de dinheiro público", que o pagamento a ela não pode ser
considerado ilegal, pois a cota
de passagem era do seu marido
e, portanto, lhe pertencia. "Eu
não estou passando fome, mas
não estou nadando em dinheiro. O Senado não me pagou nada além disso depois que ele
morreu", afirmou. Segundo ela,
o valor "nem foi tão alto assim".
Ela contou ainda que ficou
"indignada" porque o Senado à
época lhe pediu de volta sete
dias de salário que foram pagos
ao senador depois que ele morreu. Os salários dos senadores
são depositados antes de completar o mês, e ele morreu em
23 de maio. "Achei um absurdo.
Eu não devolvi nada", disse.
O valor da cota foi depositado
no dia 18 de dezembro, conforme ordem bancária identificada pela ONG Contas Abertas a
pedido da Folha no Siafi (que
registra os gastos públicos).
Em janeiro de 2009, ela já não
poderia mais receber o valor.
Segundo a direção do Senado, não há outro registro de
conversão da cota em dinheiro.
"Não há previsão sobre isso
no ato que disciplina a cota de
passagem. Para que pudesse
ser pago, precisava da decisão
da Mesa Diretora", disse o advogado-geral do Senado, Luiz
Fernando Bandeira de Mello.
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