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ANÁLISE
Enterro de CPI leva a impunidade em cadeia
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O enterro da CPI da corrupção deflagrou uma espécie de cadeia da impunidade. Caciques governistas sob suspeita
estão sendo aos poucos absolvidos, reforçando assim a versão da
oposição de que o Planalto e seus
aliados fecharam um "acordão"
de proteção mútua.
Por esse acordo, o fim da CPI
corresponderia a uma ação conjunta para inocentar, por exemplo, o presidente do Senado, Jader
Barbalho (PMDB-PA), suspeito
de irregularidades.
Desde o sucesso da megaoperação do Planalto para retirar 20 assinaturas da CPI, aliados foram
sendo sucessivamente "perdoados" em diferentes instâncias.
O procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, arquivou
anteontem as denúncias de que
Jader teria sido beneficiário de recursos do Banpará em 1984,
quando governava o Pará.
Brindeiro tenta a recondução ao
cargo, e Jader participou ativamente da operação governista para evitar a CPI.
No mesmo dia do parecer de
Brindeiro, a CPI do Finor (Fundo
de Investimentos do Nordeste)
aprovou o seu relatório final sem
citar empresas de políticos envolvidas em irregularidades.
No relatório original do deputado Múcio Sá (PMDB-RN), havia
referências a projetos de empresas do governador Tasso Jereissati
(PSDB-CE) e do senador Fernando Bezerra (PMDB-RN), que acaba de deixar o Ministério da Integração Regional. No relatório final, elas sumiram.
A grande dúvida é se o presidente Fernando Henrique Cardoso participou ou não de uma negociação para livrar o senador
Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) da cassação. A oposição garante que sim. FHC e os governistas juram que não.
O líder do PT na Câmara, Walter Pinheiro (BA), ria ontem de
orelha a orelha com o parecer do
relator do Conselho de Ética do
Senado, Saturnino Braga (PSB-RJ), que pede a cassação tanto de
ACM quanto de José Roberto Arruda (ex-PSDB-DF) pela violação
do painel de votação da Casa.
Segundo Pinheiro, a estratégia
do PT "deu certo": bateu na tecla
de que FHC tinha barganhado a
absolvição ou uma pena menor
para ACM, e o Planalto se assustou diante da perspectiva de levar
a culpa pela "pizza". Em vez de
"lavar as mãos", como pretendia,
FHC passou a trabalhar pela cassação, orientando os parlamentares governistas nesse sentido.
Na base governista, as informações são de que FHC não tem interesse em salvar ACM, acha que
o senador vai continuar sendo seu
principal inimigo com ou sem
mandato e não quer ser responsabilizado pela não-cassação. Basta
a culpa pelo enterro da CPI.
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