São Paulo, quinta-feira, 17 de maio de 2001

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ANÁLISE

Enterro de CPI leva a impunidade em cadeia

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O enterro da CPI da corrupção deflagrou uma espécie de cadeia da impunidade. Caciques governistas sob suspeita estão sendo aos poucos absolvidos, reforçando assim a versão da oposição de que o Planalto e seus aliados fecharam um "acordão" de proteção mútua.
Por esse acordo, o fim da CPI corresponderia a uma ação conjunta para inocentar, por exemplo, o presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), suspeito de irregularidades.
Desde o sucesso da megaoperação do Planalto para retirar 20 assinaturas da CPI, aliados foram sendo sucessivamente "perdoados" em diferentes instâncias.
O procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, arquivou anteontem as denúncias de que Jader teria sido beneficiário de recursos do Banpará em 1984, quando governava o Pará.
Brindeiro tenta a recondução ao cargo, e Jader participou ativamente da operação governista para evitar a CPI.
No mesmo dia do parecer de Brindeiro, a CPI do Finor (Fundo de Investimentos do Nordeste) aprovou o seu relatório final sem citar empresas de políticos envolvidas em irregularidades.
No relatório original do deputado Múcio Sá (PMDB-RN), havia referências a projetos de empresas do governador Tasso Jereissati (PSDB-CE) e do senador Fernando Bezerra (PMDB-RN), que acaba de deixar o Ministério da Integração Regional. No relatório final, elas sumiram.
A grande dúvida é se o presidente Fernando Henrique Cardoso participou ou não de uma negociação para livrar o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) da cassação. A oposição garante que sim. FHC e os governistas juram que não.
O líder do PT na Câmara, Walter Pinheiro (BA), ria ontem de orelha a orelha com o parecer do relator do Conselho de Ética do Senado, Saturnino Braga (PSB-RJ), que pede a cassação tanto de ACM quanto de José Roberto Arruda (ex-PSDB-DF) pela violação do painel de votação da Casa.
Segundo Pinheiro, a estratégia do PT "deu certo": bateu na tecla de que FHC tinha barganhado a absolvição ou uma pena menor para ACM, e o Planalto se assustou diante da perspectiva de levar a culpa pela "pizza". Em vez de "lavar as mãos", como pretendia, FHC passou a trabalhar pela cassação, orientando os parlamentares governistas nesse sentido.
Na base governista, as informações são de que FHC não tem interesse em salvar ACM, acha que o senador vai continuar sendo seu principal inimigo com ou sem mandato e não quer ser responsabilizado pela não-cassação. Basta a culpa pelo enterro da CPI.


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