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MÁFIA DOS SANGUESSUGAS
Escutas telefônicas mostram Marcelo Carvalho atuando para que tribunal assumisse inquérito do caso
Assessor de Suassuna pressionou STF, diz PF
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ (MT)
Documento da Polícia Federal
aponta que Marcelo Cardoso de
Carvalho, então assessor do senador Ney Suassuna (PMDB-PB,
"figura [em quatro escutas telefônicas em janeiro] patrocinando
interesses privados junto ao Supremo Tribunal Federal".
Carvalho foi preso na Operação
Sanguessuga com mais 47 pessoas. É acusado de pertencer à
quadrilha que fraudou a compra
de ambulâncias no Orçamento.
No documento reservado, enviado ao juiz da 2ª Vara Federal de
Cuiabá, Jeferson Schneider, há
quatro transcrições de conversas
entre Marcelo Carvalho e os empresários Darci José Vedoin e Ivo
Marcelo Spínola, também presos.
Vedoin é acusado de liderar a
quadrilha fornecendo ambulâncias superfaturadas a prefeituras.
"Marcelo diz que falou com
HNI [homem não-identificado]
(provavelmente filho do [ex-]ministro do STF Nelson Jobim) que
disse que o pai está no exterior.
Marcelo diz que pediu para Joaquim [que a PF não identifica] ligar para o assessor (se refere
àquele que os havia atendido) e
verificar se o parecer já está pronto", escreveu a PF sobre a transcrição de uma conversa ocorrida
às 16h44 do dia 30 de janeiro entre
Spínola e Marcelo Carvalho.
Dezoito minutos depois, em outra ligação, "Ivo [Spínola] diz que
Joaquim acabou de falar que está
no Supremo. Marcelo diz que acabou de falar com ele e o problema
é que quem vai assinar é a ministra Ellen [Gracie]".
No dia 26 de janeiro, o ex-assessor de Suassuna conversou com
Vedoin. "Marcelo diz que ligou lá
dando uma cobrada agora à tarde. Disseram que eles estarão
apreciando amanhã, que ele viajou e se ele (ministro do STF) chegar amanhã vai ver se pega isso aí.
Darci pergunta se vai dar certo.
Marcelo diz que tem que dar e, se
não der, ele vai dar um jeito de
dar", relata a PF, que não acusa
Nelson Jobim ou seu filho.
Vedoin entrou no dia 27 de dezembro com uma reclamação no
Supremo para barrar a investigação da Operação Sanguessuga da
PF, iniciada em 2004.
Ele afirmou que o caso envolvia
congressistas e que a PF não pode
investigá-los sem autorização do
Supremo. O deputado Nilton Capixaba (PTB-RO), que teve um
ex-assessor preso, participava da
ação no STF com Vedoin.
Por ser período de férias forenses, a ação de Vedoin ficou com
Jobim. O ex-presidente do STF
pediu informações à Justiça Federal de Mato Grosso sobre as investigações, em despacho do dia 11
de janeiro, antes das conversas
gravadas. No dia 19, Capixaba e
Vedoin mandaram um ofício a
Jobim pedindo a imediata decretação de segredo de Justiça.
Jobim não tomou decisão e o
processo, com o fim das férias, foi
distribuído no dia 2 de fevereiro
ao ministro Gilmar Mendes.
Outro lado
Procurado, Marcelo Carvalho
não informou o nome de seu advogado. A assessoria do STF disse
que Jobim não tomou qualquer
decisão do processo e recebeu
ação apenas porque era período
de férias. Com o fim do recesso,
mandou distribuí-la. Conforme o
STF, não há informação sobre casos de tentativa de interferência
em decisões judiciais. Por meio de
seu advogado, Vedoin diz que obteve a informação de que deputados estavam sendo investigados e,
por isso, entrou no STF. Ele nega
ter pedido interferência no Supremo. Capixaba não telefonou de
volta. Jobim não foi localizado.
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