São Paulo, quarta-feira, 17 de maio de 2006

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MÁFIA DOS SANGUESSUGAS

Escutas telefônicas mostram Marcelo Carvalho atuando para que tribunal assumisse inquérito do caso

Assessor de Suassuna pressionou STF, diz PF

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ (MT)

Documento da Polícia Federal aponta que Marcelo Cardoso de Carvalho, então assessor do senador Ney Suassuna (PMDB-PB, "figura [em quatro escutas telefônicas em janeiro] patrocinando interesses privados junto ao Supremo Tribunal Federal".
Carvalho foi preso na Operação Sanguessuga com mais 47 pessoas. É acusado de pertencer à quadrilha que fraudou a compra de ambulâncias no Orçamento.
No documento reservado, enviado ao juiz da 2ª Vara Federal de Cuiabá, Jeferson Schneider, há quatro transcrições de conversas entre Marcelo Carvalho e os empresários Darci José Vedoin e Ivo Marcelo Spínola, também presos.
Vedoin é acusado de liderar a quadrilha fornecendo ambulâncias superfaturadas a prefeituras.
"Marcelo diz que falou com HNI [homem não-identificado] (provavelmente filho do [ex-]ministro do STF Nelson Jobim) que disse que o pai está no exterior. Marcelo diz que pediu para Joaquim [que a PF não identifica] ligar para o assessor (se refere àquele que os havia atendido) e verificar se o parecer já está pronto", escreveu a PF sobre a transcrição de uma conversa ocorrida às 16h44 do dia 30 de janeiro entre Spínola e Marcelo Carvalho.
Dezoito minutos depois, em outra ligação, "Ivo [Spínola] diz que Joaquim acabou de falar que está no Supremo. Marcelo diz que acabou de falar com ele e o problema é que quem vai assinar é a ministra Ellen [Gracie]".
No dia 26 de janeiro, o ex-assessor de Suassuna conversou com Vedoin. "Marcelo diz que ligou lá dando uma cobrada agora à tarde. Disseram que eles estarão apreciando amanhã, que ele viajou e se ele (ministro do STF) chegar amanhã vai ver se pega isso aí. Darci pergunta se vai dar certo. Marcelo diz que tem que dar e, se não der, ele vai dar um jeito de dar", relata a PF, que não acusa Nelson Jobim ou seu filho.
Vedoin entrou no dia 27 de dezembro com uma reclamação no Supremo para barrar a investigação da Operação Sanguessuga da PF, iniciada em 2004.
Ele afirmou que o caso envolvia congressistas e que a PF não pode investigá-los sem autorização do Supremo. O deputado Nilton Capixaba (PTB-RO), que teve um ex-assessor preso, participava da ação no STF com Vedoin.
Por ser período de férias forenses, a ação de Vedoin ficou com Jobim. O ex-presidente do STF pediu informações à Justiça Federal de Mato Grosso sobre as investigações, em despacho do dia 11 de janeiro, antes das conversas gravadas. No dia 19, Capixaba e Vedoin mandaram um ofício a Jobim pedindo a imediata decretação de segredo de Justiça.
Jobim não tomou decisão e o processo, com o fim das férias, foi distribuído no dia 2 de fevereiro ao ministro Gilmar Mendes.

Outro lado
Procurado, Marcelo Carvalho não informou o nome de seu advogado. A assessoria do STF disse que Jobim não tomou qualquer decisão do processo e recebeu ação apenas porque era período de férias. Com o fim do recesso, mandou distribuí-la. Conforme o STF, não há informação sobre casos de tentativa de interferência em decisões judiciais. Por meio de seu advogado, Vedoin diz que obteve a informação de que deputados estavam sendo investigados e, por isso, entrou no STF. Ele nega ter pedido interferência no Supremo. Capixaba não telefonou de volta. Jobim não foi localizado.


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