São Paulo, quarta-feira, 17 de maio de 2006

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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/ GUERRA DAS TELES

Ex-presidente da Brasil Telecom diz que pessoas próximas a dirigentes petistas foram remuneradas porque prestaram serviços

Executiva e advogado defendem contratos

JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

A executiva Carla Cico, presidente da Brasil Telecom à época em que o Opportunity geria os fundos que controlavam a operadora, negou ontem à Folha que a concessionária tenha contratado detetives particulares para investigar autoridades brasileiras.
Em entrevista telefônica, Cico disse que não conhece o ex-ministro argentino José Luis Manzano e que a Brasil Telecom jamais teve qualquer acordo com ele. "Só ouvi falar desse homem no final de semana, quando saiu a Veja."
Quanto ao ex-presidente da Kroll no Brasil Frank Holder, Cico reconheceu a existência de um contrato. O documento, segundo ela, foi firmado pela Brasil Telecom America, com sede em Boca Raton, nos Estados Unidos. Foi válido entre fevereiro e o final de agosto do ano passado, com valor de US$ 800 mil.
"Tratava-se da contratação de um estudo sobre aspectos de segurança para os usuários dos serviços de VoIP [telefonia pela internet], considerando que queríamos entrar nesse tipo de mercado, que é o futuro da telefonia", afirmou Cico.
"É um contrato regularmente firmado, que gerou um relatório de 120 páginas. Tudo está à disposição da empresa: o contrato e o resultado do trabalho."
Carla Cico afirmou ter encontrado com Frank Holder "pouquíssimas vezes" depois de ter saído da Brasil Telecom, no final de setembro do ano passado.
De acordo com Cico, a Kroll foi contratada "por alguns milhões de dólares" porque seu trabalho ajudaria a provar que a Brasil Telecom vinha sofrendo ataques da Telecom Italia.
Questionada sobre a contratação de várias pessoas ligadas a dirigentes petistas pela Brasil Telecom -como o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, amigo do ex-ministro José Dirceu, que recebeu R$ 8 milhões- ocorridas quando a executiva comandava a empresa, Carla Cico evitou o assunto.
"Todas as contratações foram feitas com base em contratos que respeitaram as normas da empresa e eram relativos a serviços efetivamente prestados. A Brasil Telecom é uma companhia aberta e, portanto, submetida a normas de transparência. Além disso, os números da minha gestão falam por si", sustentou.
Castro divulgou nota ontem em que diz ter sido procurado pela Brasil Telecom no começo de 2004 para atuar numa investigação sobre a venda da CRT (Companhia Riograndense de Telecomunicações), com suposto prejuízo de R$ 250 milhões. O advogado diz ter negado o convite.
Após cinco meses, segue a nota, Castro diz ter sido procurado "para atuar no mesmo inquérito, com a expressa ressalva de que o trabalho de meu escritório se dirigiria aos aspectos criminais das ações de determinada empresa então em litígio com a contratante". Desta vez, ele aceitou a proposta. "O contrato foi firmado e os honorários foram fixados em patamares absolutamente compatíveis com os de mercado, menos de 0,5% (meio por cento) do valor do citado prejuízo", afirma.
"Posteriormente, fui comunicado pela cliente que, devido a uma decisão empresarial, desaparecera o interesse em qualquer espécie de litígio com a outra empresa. Nas tratativas antecedentes à celebração do contrato e ao longo de toda a sua vigência, não tive nenhum contato com o senhor Daniel Dantas", continua.
Castro afirma ainda ter prestado um segundo serviço para a Brasil Telecom no caso Kroll. "O inquérito no bojo do qual foi decretada a busca e apreensão era atípico: as empresas eram sediadas no Rio de Janeiro, o Juiz era de São Paulo e o inquérito fora aforado em Brasília."
"Os honorários pactuados foram absolutamente razoáveis, tendo em vista a dimensão do caso", diz ainda Castro.
O advogado diz ainda que a dimensão dada a sua relação com Dirceu é "exagerada". "Registro que, por trabalhar em Brasília há 25 anos, aproximei-me de muitos políticos ao longo de minha vida profissional. Já cheguei a advogar, concomitantemente, para os presidentes do PT, PSDB, PTB e PFL", completa.


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