|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TODA MÍDIA
Nelson de Sá
O acordo e os mortos
E tome entrevista de governador, secretário, comandante-geral, delegado-geral
-eles todos, o dia todo, para
negar o acordo com o PCC.
Desde a madrugada na Globo
e pela manhã na Jovem Pan, ao
vivo, Claudio Lembo repetia:
- Não foi feito acordo, de
maneira nenhuma... Não há nada do que se está fazendo fantasiosamente de um acordo.
Mas a Record abriu o dia com
Britto Jr. noticiando o acordo e
voltando ao tema seguidamente. O "Bom Dia Brasil", de seu lado, fazia contas e desconfiava:
- Em menos de quatro horas,
todas as rebeliões terminaram.
Daí ao "SPTV", "o governador
nega, mas todas as rebeliões terminaram de uma só vez".
Nos canais de notícias, início
da tarde, apareceu o delegado-geral da Polícia Civil, em coletiva que já começou no assunto:
- Não, não houve acordo,
não fazemos. Isso correu aí, estamos sabendo, muitos boatos.
"Boatos" que estavam nas primeiras páginas dos jornais e nas
páginas iniciais dos sites -em
enunciados como "Cúpula da
facção ordena trégua" e "Governo negociou fim das rebeliões".
Fim de tarde e a Folha Online
traz a manchete com a manifestação do comandante-geral da
PM, já um pouco diferente:
- Polícia nega acordo, mas
admite "conversa" com PCC.
O enunciado ecoaria depois
na escalada dos telejornais, a começar do "Jornal da Record":
- Polícia Militar fez reunião
com um chefe e uma advogada
da facção criminosa. Um presidiário diz que houve acordo.
Depois, no "Jornal Nacional":
- Autoridades do governo
negam ter fechado acordo com
os criminosos, mas admitem
que tiveram uma reunião com o
chefe da facção, que não poderia
ter recebido visita nenhuma.
A "conversa" contrastou, nas
entrevistas e comentários ao
longo do dia, com a escalada de
mortes em operações policiais.
A Record saudou "a reação da
polícia" e contou três dezenas de
mortos. A rádio CBN e até o
Google Notícias passaram a tarde contabilizando as mortes de
"suspeitos". Da manchete do
portal iG, no final da tarde:
- Polícia mata 33 suspeitos
em menos de 24 horas em SP.
Nos telejornais locais, a imagem do dia trazia mais um ônibus queimado, só que desta vez
por moradores revoltados com
a polícia, pela morte de um jovem inocente (leia nota abaixo).
Nas entrevistas sem fim, eram
os números da repressão, a começar dos mortos, que tentavam explicar a trégua do PCC,
em contraposição ao tal acordo.
Do governador, saudando o
"heroísmo" da polícia estadual:
- Nós conseguimos isso com
grande esforço da nossa Polícia
Militar e da nossa Polícia Civil.
O delegado-geral, na Globo
News e na Band News, foi além
-ao dar os números e ouvir de
um repórter que os policiais estariam "executando pessoas de
que nem se comprovou culpa":
- É grosseria contra a polícia.
Mas a gente não pode punir a
cogitação. Você, na sua cogitação, não está cometendo crime.
A partir do momento em que falar que a polícia está cometendo
algum crime, nós podemos responsabilizá-lo. Se houver alguém que fale em execução...
Leia mais em Cotidiano
Record/Reprodução
|
|
RASANTES A Record e, de passagem, a Globo noticiaram que "moradores de um conjunto atearam fogo num ônibus em represália à morte de um rapaz de 22 anos que, segundo os vizinhos, era trabalhador e foi morto por engano". Em uma "situação tensa", os manifestantes escreveram no asfalto "assassinos de farda" e "reportagem já". E "o helicóptero Águia da PM sobrevoou a região para afastar os moradores".
Dividir
Na submanchete da Folha
Online, no meio da tarde,
"PSDB e PFL querem dividir
com o Planalto a responsabilidade pela violência". Seria uma
"reação à possível ofensiva do
PT contra Geraldo Alckmin".
Hoje FHC, Aécio Neves e Tasso Jereissati voltam a tratar da
estratégia eleitoral -em Nova
York, segundo o Globo Online.
Nacional
A Globo News chegou a ensaiar uma responsabilização do
Planalto -com avaliações como "o problema é nacional" e,
no momento de maior crítica:
- A segurança pública não é
prioridade no governo Lula, assim como educação e saúde.
Mas o dia avançou e o alvo
mudou, junto com o noticiário,
para o Palácio dos Bandeirantes.
Teorias
A blogosfera tucana foi além
do Planalto. O E-Agora começou dizendo que um ano atrás
"o MST estava treinando bandidos do PCC". Depois, acresceu:
- Faz tempo que a imprensa
denuncia a ligação das Farc com
o crime organizado no Brasil.
Sem interação
Registre-se que a blogosfera
brasiliense se viu atônita diante
do caos, especulando, quando
muito, sobre efeitos eleitorais.
Apesar dos esforços do portal
Terra, também o "jornalismo cidadão" pouco ou nada rendeu.
Sobrou a blogosfera internacional, com milhares de posts
-como registrou o blog de mídia de Tiago Dória no portal iG.
@ - nelsondesa@folhasp.com.br
Leia as colunas anteriores
Texto Anterior: CPI adia votação de convocação de Daniel Dantas Próximo Texto: Orçamento: Governo pode ter superávit primário menor em 2006 Índice
|