São Paulo, quinta-feira, 17 de maio de 2007

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Empreiteira e banco foram os maiores doadores do PT

Andrade Gutierrez e Santander lideram lista de financiadores do partido em 2006

Banco Santander, que repassou R$ 3,2 mi, teve dois executivos recrutados pelo governo: um ministro e um diretor do Banco Central


FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A última peça no quebra-cabeça do financiamento da reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e demais candidaturas do PT mostra um partido muito popular entre setores favorecidos pelo governo, como empreiteiros, bancos e produtores de álcool.
Segundo a prestação de contas anual do PT entregue no início do mês ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), as empreiteiras repassaram R$ 12,47 milhões para os cofres do partido em 2006, à frente dos bancos, com R$ 8,8 milhões. Apenas a Andrade Gutierrez colaborou com metade das doações de construtoras, com R$ 6,4 milhões.
Os dados divulgados agora devem ser lidos como uma complementação à contabilidade da campanha, revelada no ano passado. Eles incluem um grande número de "doadores ocultos" à campanha de Lula, ou seja, de empresas que usam uma brecha na lei para repassar dinheiro ao partido em vez de darem diretamente ao candidato. Posteriormente, o PT transfere o recurso à campanha.
São duas as vantagens para as empresas que usam esse artifício. Primeiro, evitam ter a doação "carimbada" para o candidato. Segundo, contornam a legislação, que estipula um teto para doações eleitorais de 2% do faturamento bruto do ano anterior ao pleito. Esse teto não existe para doações ao partido.
Os petistas declaram ao TSE que em 2006 o PT recebeu R$ 43,2 milhões em doações, quase o triplo do que teve o PSDB, que levantou R$ 14,64 milhões. O DEM recebeu R$ 8,66 milhões, o PP, R$ 1,04 milhão e o PMDB, R$ 500 mil.
O PT ficou com uma parte para suas despesas internas e repassou R$ 35,2 milhões para as campanhas de presidente, governadores, Congresso e Assembléias Legislativas.
A campanha de Lula foi contemplada com R$ 16,2 milhões do bolo, ou 17,1% dos R$ 94,43 milhões que recebeu. Na prestação de contas da campanha eleitoral de Lula, esta parcela foi identificada apenas como "doações do PT".
O dinheiro recebido pelo partido entrou em seu caixa único e depois foi distribuído por diversas candidaturas, o que impossibilita que se identifique exatamente qual doação foi parar no cofre de qual campanha petista.

Contratos
Campeã de doações ao partido, a Andrade Gutierrez tem contratos com o governo federal para obras nas áreas de energia, rodovias, transporte urbano, portos e aeroportos.
O vice-campeão é o Banco Santander, com R$ 3,23 milhões doados ao PT. O banco teve, no início do segundo mandato, dois de seus executivos recrutados pelo governo: o ex-diretor de Assuntos Corporativos, Miguel Jorge, virou ministro do Desenvolvimento e o ex-vice-presidente do banco, Mário Torós, foi para uma diretoria do Banco Central.
Os bancos vêm registrando sucessivos recordes durante o governo Lula, que manteve a política de juros altos que favorece o lucro dessas instituições, e mostraram gratidão ao PT. Outros dois bancos -Mercantil e Safra- estão entre os dez maiores doadores.
As contas mostram ainda mais de R$ 2 milhões em doações de produtores de álcool, elevados a "heróis nacionais e mundiais" pelo presidente Lula, que vem defendendo a produção e o uso de etanol.
Há apenas alguns anos, este era um setor demonizado pelo PT, em razão das condições de trabalho geralmente associadas aos cortadores de cana.
Muitas das doações ao partido foram feitas durante o período de disputa eleitoral, um forte indicador de que na verdade eram contribuições de campanha disfarçadas.
É possível perceber um padrão: até julho, quase nada entrou nos cofres dos partidos. Em agosto o dinheiro lentamente começa a fluir, e passa a jorrar em setembro e outubro. Na última semana antes do primeiro turno, o PT recebeu R$ 5,23 milhões. Na que antecede o segundo turno, ganhou mais R$ 5,91 milhões.
O mês de novembro também foi rico para o partido, que corria para saldar compromissos assumidos durante a campanha. Foram mais R$ 12 milhões arrecadados em novembro e dezembro.
Mas a arrecadação do PT não foi suficiente para evitar que a dívida acumulada do partido subisse. Ela está agora em R$ 47 milhões.


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