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Empreiteira e banco foram os maiores doadores do PT
Andrade Gutierrez e Santander lideram lista de financiadores do partido em 2006
Banco Santander, que repassou R$ 3,2 mi, teve dois executivos recrutados pelo
governo: um ministro e um diretor do Banco Central
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A última peça no quebra-cabeça do financiamento da reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e demais candidaturas do PT mostra um
partido muito popular entre setores favorecidos pelo governo,
como empreiteiros, bancos e
produtores de álcool.
Segundo a prestação de contas anual do PT entregue no
início do mês ao TSE (Tribunal
Superior Eleitoral), as empreiteiras repassaram R$ 12,47 milhões para os cofres do partido
em 2006, à frente dos bancos,
com R$ 8,8 milhões. Apenas a
Andrade Gutierrez colaborou
com metade das doações de
construtoras, com R$ 6,4 milhões.
Os dados divulgados agora
devem ser lidos como uma
complementação à contabilidade da campanha, revelada no
ano passado. Eles incluem um
grande número de "doadores
ocultos" à campanha de Lula,
ou seja, de empresas que usam
uma brecha na lei para repassar
dinheiro ao partido em vez de
darem diretamente ao candidato. Posteriormente, o PT transfere o recurso à campanha.
São duas as vantagens para as
empresas que usam esse artifício. Primeiro, evitam ter a doação "carimbada" para o candidato. Segundo, contornam a legislação, que estipula um teto
para doações eleitorais de 2%
do faturamento bruto do ano
anterior ao pleito. Esse teto não
existe para doações ao partido.
Os petistas declaram ao TSE
que em 2006 o PT recebeu R$
43,2 milhões em doações, quase o triplo do que teve o PSDB,
que levantou R$ 14,64 milhões.
O DEM recebeu R$ 8,66 milhões, o PP, R$ 1,04 milhão e o
PMDB, R$ 500 mil.
O PT ficou com uma parte
para suas despesas internas e
repassou R$ 35,2 milhões para
as campanhas de presidente,
governadores, Congresso e Assembléias Legislativas.
A campanha de Lula foi contemplada com R$ 16,2 milhões
do bolo, ou 17,1% dos R$ 94,43
milhões que recebeu. Na prestação de contas da campanha
eleitoral de Lula, esta parcela
foi identificada apenas como
"doações do PT".
O dinheiro recebido pelo partido entrou em seu caixa único
e depois foi distribuído por diversas candidaturas, o que impossibilita que se identifique
exatamente qual doação foi parar no cofre de qual campanha
petista.
Contratos
Campeã de doações ao partido, a Andrade Gutierrez tem
contratos com o governo federal para obras nas áreas de
energia, rodovias, transporte
urbano, portos e aeroportos.
O vice-campeão é o Banco
Santander, com R$ 3,23 milhões doados ao PT. O banco teve, no início do segundo mandato, dois de seus executivos
recrutados pelo governo: o ex-diretor de Assuntos Corporativos, Miguel Jorge, virou ministro do Desenvolvimento e o ex-vice-presidente do banco, Mário Torós, foi para uma diretoria do Banco Central.
Os bancos vêm registrando
sucessivos recordes durante o
governo Lula, que manteve a
política de juros altos que favorece o lucro dessas instituições,
e mostraram gratidão ao PT.
Outros dois bancos -Mercantil
e Safra- estão entre os dez
maiores doadores.
As contas mostram ainda
mais de R$ 2 milhões em doações de produtores de álcool,
elevados a "heróis nacionais e
mundiais" pelo presidente Lula, que vem defendendo a produção e o uso de etanol.
Há apenas alguns anos, este
era um setor demonizado pelo
PT, em razão das condições de
trabalho geralmente associadas aos cortadores de cana.
Muitas das doações ao partido foram feitas durante o período de disputa eleitoral, um
forte indicador de que na verdade eram contribuições de
campanha disfarçadas.
É possível perceber um padrão: até julho, quase nada entrou nos cofres dos partidos.
Em agosto o dinheiro lentamente começa a fluir, e passa a
jorrar em setembro e outubro.
Na última semana antes do primeiro turno, o PT recebeu R$
5,23 milhões. Na que antecede
o segundo turno, ganhou mais
R$ 5,91 milhões.
O mês de novembro também
foi rico para o partido, que corria para saldar compromissos
assumidos durante a campanha. Foram mais R$ 12 milhões
arrecadados em novembro e
dezembro.
Mas a arrecadação do PT não
foi suficiente para evitar que a
dívida acumulada do partido
subisse. Ela está agora em R$
47 milhões.
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