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Justiça baiana manda recolher livro de padre
Acusação é de ofensa contra "formas de espiritismo"
MANUELA MARTINEZ
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA,
EM SALVADOR
A Justiça da Bahia determinou o recolhimento, em Salvador, de todos os exemplares de
um livro escrito pelo padre Jonas Abib, fundador da comunidade católica Canção Nova, ligada à Renovação Carismática,
ala conservadora da igreja.
Para o Ministério Público
baiano, que pediu o recolhimento do livro "Sim, Sim! Não,
Não! Reflexões de Cura e Libertação", da editora Canção Nova, o padre cometeu o crime de
"prática e incitação de discriminação ou preconceito religioso", previsto na lei 7.716, de
1989. Cabe recurso à Justiça.
De acordo com o promotor
Almiro Sena, Abib faz no livro
"afirmações inverídicas e preconceituosas à religião espírita
e às religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé, além de flagrante incitação à destruição e ao desrespeito aos seus objetos de culto".
A ação cita trechos do livro
que, na avaliação da Promotoria, trazem ofensas ao espiritismo e às religiões afro-americanas. "O demônio, dizem muitos, "não é nada criativo". (...)
Ele, que no passado se escondia
por trás dos ídolos, hoje se esconde nos rituais e nas práticas
do espiritismo, da umbanda, do
candomblé", diz Abib na obra.
Em outro trecho, o padre diz
que "o espiritismo é como uma
epidemia e como tal deve ser
combatido: é um foco de morte". Também há referência ao
culto a imagens. "Acabe com
tudo: tire as imagens de Iemanjá (que na verdade são um disfarce, uma imitação de Nossa
Senhora). Acabe com tudo!
Mesmo que seja uma estátua
preciosa, mesmo que seja objeto de ouro, não conserve nada.
Isso é maldição para você, sua
casa e sua família."
Para o Ministério Público, o
livro ofende o princípio de liberdade de crença previsto na
Constituição Federal, e afronta
as "integridade, respeitabilidade e permanência dos valores
da religião afro-brasileira" previstos na Constituição baiana.
Como atua em Salvador, o
promotor pediu o recolhimento da obra só na capital, onde o
livro é vendido por R$ 15,90.
Segundo a Promotoria, foram
vendidos 400 mil exemplares
no país em 2007. Para Sena, isso "demonstra a amplitude alcançada pelas idéias contidas
no seu conteúdo e o grave risco
de propiciar o acirramento de
conflitos étnico-religiosos".
O juiz Ricardo Schmitt acatou a denúncia contra o padre e
mandou intimá-lo a comparecer a audiência de interrogatório, em dia a ser definido. A pena prevista neste caso é de um a
três anos de prisão, e multa.
Outro lado
Em nota, a Canção Nova informou não ter sido comunicada da decisão judicial. Negou,
contudo, que o livro incorra em
preconceito religioso. "A obra é
meramente conceitual e não
tem o propósito de incitar qualquer discriminação ou preconceito religioso."
A nota afirma ainda que Abib
"sempre se pautou pelo profundo respeito a todas as pessoas e ideologias, difundindo a
doutrina da Igreja Católica e o
amor cristão através dos meios
de comunicação". Diz que o
propósito do livro é "orientar
os católicos a viverem com coerência a vida cristã de acordo
com a linha filosófica e teológica defendida pela igreja."
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