São Paulo, domingo, 17 de maio de 2009

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PSDB defende CPI sem "tumultos"

Senador Sérgio Guerra diz que aceita negociar com o governo a forma de conduzir a CPI da Petrobras

Governo não consegue barrar comissão, mas tem esperança de esvaziar os trabalhos da CPI, atrasando a indicação de membros

VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois do fracasso da operação do governo Lula na tentativa de barrar a CPI da Petrobras, o PSDB sinalizou ontem que não abre mão de investigar a estatal, mas está disposto a negociar um "projeto rigoroso e seguro" de investigação.
Presidente do PSDB, o senador Sérgio Guerra (PE) disse à Folha que, se o governo quiser, seu partido aceita "sentar para negociar um plano rigoroso, sensato e seguro de investigação" da Petrobras.
De acordo com ele, seu partido não deseja uma CPI no "estilo publicitário, conduzida com emocionalismo", porque isso poderia provocar "tumultos" na comissão e prejudicaria a "empresa, o país e o próprio partido [o PSDB]".
Governo e oposição têm usado, nos bastidores, a mesma munição que pode acabar freando os ânimos investigatórios -a de que todos têm ou já tiveram relações próximas com a Petrobras e uma investigação profunda poderia afetar interesses de empresários simpáticos a esse ou aquele partido.
Anteontem, o governo tentou até a última hora convencer senadores a retirarem assinaturas dos dois requerimentos de criação da CPI da Petrobras, lidos na manhã de sexta-feira. O ministro José Múcio (Relações Institucionais) deixou seu gabinete apenas nas primeiras horas de ontem, depois de passar a sexta-feira em ligações telefônicas pedindo a desistência de senadores em apoiar a CPI.
Obteve sucesso no requerimento apresentado pelo senador Romeu Tuma (PTB-SP), mas falhou no de Álvaro Dias (PSDB-PR). Das 32 assinaturas recolhidas pelo tucano, só duas foram retiradas -de Cristovam Buarque (PDT-DF) e Aldemir Santana (DEM-DF). São necessárias pelo menos 27 assinaturas para a criação de uma CPI.
Diante do fracasso de sua operação, o governo ainda tem a esperança de esvaziar os trabalhos da comissão. Primeiro, tentará atrasar a indicação dos membros da CPI. Depois, espera que um depoimento do presidente da estatal, José Sergio Gabrielli, possa reduzir a disposição em investigar a empresa.
Os tucanos, contudo, não aceitam ser "proibidos" de promover uma investigação. O requerimento deles pede que sejam investigadas as obras da refinaria Abreu e Lima (PE), as suspeitas de manobra contábil para pagamento de menos impostos e os patrocínios culturais para prefeituras.
Do lado dos democratas, há a mesma disposição de uma investigação controlada. "A CPI é fato consumado, mas defendemos que tudo seja feito sem emoção e com equilíbrio", diz o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN).
Segundo ele, sua bancada, antes dividida, agora estará unida após a investida do governo sobre quatro democratas para a retirada de suas assinaturas -conseguiu convencer apenas um, Adelmir Santana.
"Nossa bancada estava fechada com a proposta de, primeiro, ouvir o Gabrielli. Com a criação da CPI, agora queremos iniciar os trabalhos, mas com toda a responsabilidade que o assunto exige", afirmou Agripino Maia.
Ele diz que a CPI terá o mérito de revelar se realmente existe uma "caixa preta" na Petrobras e se a divisão de diretorias entre os partidos da base, principalmente PT e PMDB, está levando a irregularidades.
O governo espera agora contar com o apoio do PMDB para esvaziar a CPI exatamente pelo fato de o partido hoje comandar diretorias da empresa.
Os peemedebistas, insatisfeitos com a perda de cargos na Infraero, contribuíram para a criação da comissão. Não só com assinaturas, mas também com a atitude do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que deixou o vice-presidente da Casa, Marconi Perillo (PSDB-GO), presidir a sessão na sexta-feira, na qual foi lido o requerimento da CPI.


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