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Governo agora quer incluir sem-terra no Bolsa Família
Em vez de cestas básicas, acampados passariam a receber cartões do programa
Em 2008, União distribuiu 925,5 mil cestas a 225 mil famílias -uma cesta a cada quatro meses; com o cartão, benefício passa a ser mensal
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo federal fará uma
varredura nos acampamentos
da reforma agrária para, ainda
neste ano, incluir todos os sem-terra no Bolsa Família. O objetivo é trocar a cesta básica pelo
cartão do programa.
No ano passado, por exemplo, o governo distribuiu 925,5
mil cestas de alimentos a 225
mil famílias cadastradas em
acampamentos pelo interior do
país. A média foi de uma cesta
básica a cada quatro meses.
Com o cartão do programa, o
benefício à família será mensal,
em dinheiro, o que permitirá ao
governo interromper a distribuição da cesta.
"A cesta não incentiva o desenvolvimento do comércio local. A ideia é que, a médio prazo, não tenha mais esse atendimento [com cestas]", afirma
Lúcia Modesto, secretária de
Renda de Cidadania do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
Essa iniciativa encontra resistência no MST (Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra), que vê na ampliação do
Bolsa Família um risco de desmobilização de suas bases.
Questionado sobre esse possível efeito do programa, o ministro Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário) afirmou: "Se eles [sem-terra] vão
ficar desmobilizados, não é
problema do Estado. É um problema do movimento".
Para José Batista de Oliveira,
da coordenação nacional do
MST, o agravamento da crise
econômica provocará o aumento das mobilizações pelo país, o
que justificaria a necessidade
da reforma agrária.
"O Bolsa Família não vai resolver os problemas dos acampados, que têm consciência e
não querem viver de uma ajuda
do governo. Eles querem trabalhar na terra, cuidar da família e
colocar os filhos na escola. As
políticas assistenciais são importantes, mas insuficientes
para abrir perspectivas de futuro para as famílias."
A inclusão no Bolsa Família
não levará em conta a eventual
participação dos sem-terra em
invasões de terra ou na montagem de barracos numa área
com a reintegração de posse determinada pela Justiça.
Não há uma verba específica
para atender os sem-terra no
Bolsa Família. O orçamento de
2009 será ampliado em R$ 400
milhões, atingindo R$ 11,8 bilhões, para incluir novas famílias cadastradas pelo país, todas
as que hoje recebem cestas básicas do governo federal, como
os acampados, quilombolas,
atingidos por barragens e indígenas.
Até 2010, a meta do governo
é ampliar o número de famílias
atendidas dos atuais 11,1 milhões para 12,9 milhões. Ao final deste ano, já serão 12,3 milhões atendidas (incluindo os
acampados).
Esse processo vinha sendo
costurado há ao menos três
anos no governo, mas ganhou
impulso com um recente pedido do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva ao ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) para que, ao final de
2010, nenhuma família considerada "pobre" (com renda per
capita abaixo de R$ 137) esteja
fora do programa.
Como estima-se que muitas
delas estejam nos acampamentos, coube então ao Desenvolvimento Social e ao Desenvolvimento Agrário encontrar uma
fórmula para incluí-las.
As prefeituras, responsáveis
pelo cadastramento dos beneficiários, farão a varredura nos
acampamentos num prazo de
três meses, para saber quantas
das 225 mil famílias se encaixam no perfil de renda do programa, mas ainda não possuem
o cartão do Bolsa Família.
Um obstáculo operacional
foi solucionado: as prefeituras
poderão incluir o nome do
acampamento no espaço destinado ao "endereço" da família.
Além do cadastro, caberá às
prefeituras oferecer serviços de
saúde e vagas nas escolas aos filhos dos sem-terra. Os beneficiários do Bolsa Família são
obrigados a cumprir condicionalidades para se manter no
programa, como a frequência
mínima de 85% nas aulas.
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