São Paulo, sábado, 17 de junho de 2000


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Bragança diz ser íntimo de Lopes

DA SUCURSAL DO RIO

O economista Luiz Augusto Bragança disse, em depoimento prestado ontem à Justiça Federal do Rio, que sua relação com o ex-presidente do Banco Central é "a mais íntima possível" e voltou a isentar Lopes de qualquer conivência no esquema de socorro aos bancos Marka e FonteCindam, em janeiro do ano passado.
Bragança, Lopes, o banqueiro Salvatore Cacciola e outras dez pessoas são acusadas pelo Ministério Público Federal de crimes contra o Sistema Financeiro Nacional. Segundo a denúncia, o socorro do BC aos bancos resultou num prejuízo de R$ 1,6 bilhão.
Bragança voltou a dizer que Lopes não quis falar sobre o caso Marka com ele. "Ele disse que minha presença ali para isso era indevida. Nem terminei o café da manhã. Fiquei arrependido desse negócio todo", disse Bragança.
"Nem me passou pela cabeça que eu estava com o presidente do BC na minha frente."
Disse "não entender" como a diretoria do BC pode estar sendo acusada de crimes e afirmou que não pode haver uma diretoria de "bandidos", nem se "aqui fosse a África". Em seguida, pediu para retirar a frase do depoimento.
Bragança é acusado de corrupção ativa e peculato. É apontado como o intermediador entre Cacciola e a cúpula do BC. Com Rubem Novaes e Cacciola, foi a Brasília em 13 de janeiro do ano passado, um dia antes de a operação de ajuda ao Marka ser aprovada.
Ao contar ao juiz que se encontrou com Francisco Lopes apenas em 14 de janeiro e ser questionado dos motivos para uma "viagem urgente", Bragança gaguejou. Concluiu que havia dois motivos: "consolar um homem desesperado" (Cacciola) e convencer Lopes a recebê-lo ou indicá-lo a alguém. "Se há uma viagem de que mais me arrependo foi essa."
Apesar de mais seguro ao depor, foi Cacciola, anteontem, quem caiu em contradição para o juiz Abel Fernandes Gomes.
Ele disse ter recebido, às 17h do dia 14 de janeiro, da então chefe do Departamento de Fiscalização do BC, Tereza Grossi, a informação de que o BC concluiria a operação de venda de dólares.
O bilhete a Francisco Lopes apreendido em sua casa, no entanto, dá a entender que Cacciola já sabia da aprovação, faltando apenas detalhes. Cacciola havia dito que o bilhete fora escrito mais cedo. Questionado, disse ter se confundido com os horários.
O banqueiro disse que Grossi foi sua principal interlocutora no BC e que ela era muito decidida, do tipo "pão-pão, queijo-queijo".
Luiz Augusto Bragança é irmão de Sérgio Bragança, ex-sócio de Francisco Lopes na Macrométrica. Lopes é padrinho de sua filha.
Bragança, em parceria com Rubem Novaes, havia prestado consultoria para Cacciola na crise asiática. Afirmou não ter recebido nenhum tipo de pagamento por ter ido a Brasília ajudá-lo e que cobrar por isso seria "antiético".
Bragança disse que sua última ocupação fixa foi no banco Performance, em 97. Segundo ele, como consultor, seu rendimento em 98 chegou a quase R$ 300 mil e parte desse dinheiro foi gasta em um Passat, em fevereiro de 99 -R$ 51,3 mil, em espécie.
"Não tenho paciência para esperar a checagem dos cheques ou cartão", disse.
Sobre as declarações de sua ex-namorada Regina Lúcia Bittencourt Sampaio, que afirmou ter estranhado seu enriquecimento, Bragança disse que fazia tudo "para impressioná-la". Afirmou que ela era "uma mulher de infinitas posses" e ele, um morador do Selva de Pedra (condomínio de classe média da zona sul do Rio). As "provas" de Regina Lúcia são faxes nos quais Bragança afirmava estar "ficando rico".
Ontem, pela terceira vez o juiz Abel Fernandes Gomes rejeitou o pedido de prisão de Francisco Lopes, ex-presidente do Banco Central, Luiz Antônio Gonçalves, presidente do FonteCindam, Roberto José Steinfeld, sócio do FonteCindam, Cinthia Costa e Souza, diretora jurídica do Marka, e Eliel Martins, contador do Marka.
O juiz adiou para segunda-feira a decisão sobre a revogação da prisão de Salvatore Cacciola, dono do banco Marka, e Luiz Augusto Bragança, irmão de Sérgio Bragança e compadre de Lopes.


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