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Bragança diz ser íntimo de Lopes
DA SUCURSAL DO RIO
O economista Luiz Augusto
Bragança disse, em depoimento
prestado ontem à Justiça Federal
do Rio, que sua relação com o ex-presidente do Banco Central é "a
mais íntima possível" e voltou a
isentar Lopes de qualquer conivência no esquema de socorro aos
bancos Marka e FonteCindam,
em janeiro do ano passado.
Bragança, Lopes, o banqueiro
Salvatore Cacciola e outras dez
pessoas são acusadas pelo Ministério Público Federal de crimes
contra o Sistema Financeiro Nacional. Segundo a denúncia, o socorro do BC aos bancos resultou
num prejuízo de R$ 1,6 bilhão.
Bragança voltou a dizer que Lopes não quis falar sobre o caso
Marka com ele. "Ele disse que minha presença ali para isso era indevida. Nem terminei o café da
manhã. Fiquei arrependido desse
negócio todo", disse Bragança.
"Nem me passou pela cabeça
que eu estava com o presidente do
BC na minha frente."
Disse "não entender" como a
diretoria do BC pode estar sendo
acusada de crimes e afirmou que
não pode haver uma diretoria de
"bandidos", nem se "aqui fosse a
África". Em seguida, pediu para
retirar a frase do depoimento.
Bragança é acusado de corrupção ativa e peculato. É apontado
como o intermediador entre Cacciola e a cúpula do BC. Com Rubem Novaes e Cacciola, foi a Brasília em 13 de janeiro do ano passado, um dia antes de a operação
de ajuda ao Marka ser aprovada.
Ao contar ao juiz que se encontrou com Francisco Lopes apenas
em 14 de janeiro e ser questionado
dos motivos para uma "viagem
urgente", Bragança gaguejou.
Concluiu que havia dois motivos:
"consolar um homem desesperado" (Cacciola) e convencer Lopes
a recebê-lo ou indicá-lo a alguém.
"Se há uma viagem de que mais
me arrependo foi essa."
Apesar de mais seguro ao depor, foi Cacciola, anteontem,
quem caiu em contradição para o
juiz Abel Fernandes Gomes.
Ele disse ter recebido, às 17h do
dia 14 de janeiro, da então chefe
do Departamento de Fiscalização
do BC, Tereza Grossi, a informação de que o BC concluiria a operação de venda de dólares.
O bilhete a Francisco Lopes
apreendido em sua casa, no entanto, dá a entender que Cacciola
já sabia da aprovação, faltando
apenas detalhes. Cacciola havia
dito que o bilhete fora escrito
mais cedo. Questionado, disse ter
se confundido com os horários.
O banqueiro disse que Grossi
foi sua principal interlocutora no
BC e que ela era muito decidida,
do tipo "pão-pão, queijo-queijo".
Luiz Augusto Bragança é irmão
de Sérgio Bragança, ex-sócio de
Francisco Lopes na Macrométrica. Lopes é padrinho de sua filha.
Bragança, em parceria com Rubem Novaes, havia prestado consultoria para Cacciola na crise
asiática. Afirmou não ter recebido
nenhum tipo de pagamento por
ter ido a Brasília ajudá-lo e que cobrar por isso seria "antiético".
Bragança disse que sua última
ocupação fixa foi no banco Performance, em 97. Segundo ele, como consultor, seu rendimento em
98 chegou a quase R$ 300 mil e
parte desse dinheiro foi gasta em
um Passat, em fevereiro de 99
-R$ 51,3 mil, em espécie.
"Não tenho paciência para esperar a checagem dos cheques ou
cartão", disse.
Sobre as declarações de sua ex-namorada Regina Lúcia Bittencourt Sampaio, que afirmou ter
estranhado seu enriquecimento,
Bragança disse que fazia tudo
"para impressioná-la". Afirmou
que ela era "uma mulher de infinitas posses" e ele, um morador
do Selva de Pedra (condomínio
de classe média da zona sul do
Rio). As "provas" de Regina Lúcia
são faxes nos quais Bragança afirmava estar "ficando rico".
Ontem, pela terceira vez o juiz
Abel Fernandes Gomes rejeitou o
pedido de prisão de Francisco Lopes, ex-presidente do Banco Central, Luiz Antônio Gonçalves, presidente do FonteCindam, Roberto José Steinfeld, sócio do FonteCindam, Cinthia Costa e Souza,
diretora jurídica do Marka, e Eliel
Martins, contador do Marka.
O juiz adiou para segunda-feira
a decisão sobre a revogação da
prisão de Salvatore Cacciola, dono do banco Marka, e Luiz Augusto Bragança, irmão de Sérgio
Bragança e compadre de Lopes.
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