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ELIO GASPARI
Vavá está sendo linchado
O homem do "arruma dois
pau pra eu" é o biombo. Querem a jugular de Lula, o
dos 60 milhões de votos
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GENIVAL INÁCIO da Silva, o Vavá,
está sendo covardemente linchado porque é irmão do presidente da República. Ele é acusado de
tráfico de influência sem que até hoje
tenha aparecido um só nome de servidor público junto ao qual tenha traficado qualquer pleito que envolvesse dinheiro do erário. Um fazendeiro paulista metido numa querela de terras
queria reverter uma decisão unânime
do Superior Tribunal de Justiça. Vavá
recomendou-lhe um advogado. Isso
não é tráfico de coisa alguma. Um empreiteiro queria obras e encontrou-se
com ele num restaurante. Ninguém
responde se Vavá conseguiu favorecer
esse ou qualquer outro empreiteiro.
A divulgação cavilosa e homeopática
de trechos de gravações telefônicas envolvendo parentes de Nosso Guia tornou-se um processo intimidatório e difamador capaz de fazer corar generais
do Serviço Nacional de Informações, o
SNI da ditadura. No caso de Vavá, as
suspeitas jogadas até agora no ventilador não guardam nexo com os fatos.
Não há proporção entre as acusações
que lhe fazem e o grau de exposição a
que foi deliberadamente submetido.
A Polícia Federal vasculhou sua casa
(um imóvel de classe média em São
Bernardo do Campo). A diligência foi
apresentada como parte de uma Operação Xeque-Mate, destinada a desbaratar uma quadrilha envolvida em contrabando, tráfico de drogas e máquinas
caça-níqueis. Não era pouca coisa. Pelo
que se sabe até agora, coletaram cinco
papéis. Entre eles, duas cartas que não
foram entregues. Vavá tentou alavancar dois casos com empresas privadas
(Vale e CSN). Nenhum dos pleitos chegou à direção das companhias.
Os grampos policiais estabeleceram
um vínculo entre Vavá e dois mercadores de casas de jogo e atravessadores de
negócios. Um deles, Nilton Servo,
ameaçou "trucidar" a família de um desafeto. O outro, Dario Morelli, compadre de Lula, julgava-se protegido pelas
suas amizades e disse que a polícia pensaria "duas vezes em fazer qualquer
coisa". Foi preso. Os dois planejavam
maracutaias e contavam com a ajuda
do irmão do presidente, a quem dizem
ter dado algo como R$ 15 mil nos últimos meses. Nas palavras de Servo, "o
Vavá é para ser usado".
Numa conversa, Vavá fez-lhe um pedido: "Ô, arruma dois pau pra eu?"
Lula tem 15 irmãos e algo como cem
parentes. Desde que Tomé de Souza
chegou a Salvador, nenhuma família
de governante teve tão poucas relações
com o Estado como a dos Silva. Mais:
nenhuma veio de origem tão modesta
e continuou a viver em padrões tão
modestos. (Noves fora o Lulinha da Gamecorp.)
Vavá meteu-se por sua conta e risco
com os negócios de Servo e do compadre Morelli. Desqualificá-lo por
lambari, deseducado ou pé-de-chinelo é parte
do linchamento. Ele é um cidadão,
ponto. Seus atos vêm sendo investigados
e serão levados à apreciação da Justiça.
Podia ser membro da Academia
Brasileira de Letras, dava na mesma.
Antes da conclusão do inquérito policial,
Vavá foi irremediavelmente satanizado a
partir de indícios, suspeitas e
manipulações. Seu linchamento não
busca o cidadão metido com vigaristas.
Busca a jugular do irmão.
Durante a última campanha eleitoral,
quando o comissariado petista chafurdou
na compra de um dossiê contra
os tucanos, demonizou-se a figura de
Freud Godoy, um assessor de Lula,
conviva de sua panelinha. Durante três
dias ele pareceu encarnar toda a corrupção nacional.
Freud foi arrolado em
dois processos, um criminal e outro
eleitoral. Dizer que foi inocentado é
pouco. Ele nem sequer foi indiciado.
O pessoal do século 21 sabe que
Jimmy Carter é um ex-presidente dos
Estados Unidos (1977-1981), Prêmio
Nobel da Paz de 2002. Passará para a
história como um exemplo de retidão.
Isso agora. Quando estava na Casa
Branca, Carter foi atazanado pela exposição
de seu irmão Billy, caipira alcoólatra
que se tornou lobista (registrado)
do governo líbio. Criou-se o neologismo Billygate.
Morreu em 1988, aos 51
anos, falido. Virou poeira da História.
Ninguém quer a jugular de Vavá, como
não se queria a de Billy Carter. O
negócio é outro.
DE NOVO
Não custar repetir, ainda que
pareça coisa de chato: em fevereiro de 2004, Lula mandou sua
primeira mensagem ao Congresso. Lula prometia: "A regulamentação da atividade dos bingos vai organizar o setor e assegurar recursos para o esporte".
(Página 177)
No dia seguinte, numa reunião
no Planalto, o secretário da Presidência, Luiz Dulci, disse que
esse parágrafo não estava na versão que passou por sua mesa.
Veio de onde?
ARTE DA MARTA
O conselho de Marta Suplicy
às vitimas das esperas nos aeroportos ("relaxe e goze"), não foi
apenas grosseiro e infeliz, foi
também uma brincadeira baseada numa das piadas mais estúpidas da cultura machista.
Completa, ela é assim: "Se o estupro é inevitável, relaxe e aproveite". Seu criador foi o homem
da previsão do tempo de um noticiário da TV americana. Chamava-se Tex Antoine. Perdeu o
emprego.
GRAMPOS ILUSTRES
Nosso Guia não é a primeira
vítima da associação de políticos
com exploradores de máquinas
caça-níqueis. Em setembro de
1964, em plena campanha eleitoral, o presidente americano
Lyndon Johnson ligou para um
colunista amigo, reclamando de
William Miller, candidato a vice-presidente na chapa do republicano Barry Goldwater:
"Esse sujeito é escória. Cá entre nós, pegamos ele. Não meta o
meu nome nisso. (...) Ele está ligado a um bando desses operadores de caça-níqueis. Ganhou
US$ 58 mil na venda de um boliche. O f. da p. não declarou esse
dinheiro".
Sabe-se disso porque Johnson
preservou as fitas das conversas
que tinha ao telefone.
BOA NOTÍCIA
Pela primeira vez, alguém
que acompanhou a prática de
malfeitorias na Infraero começou a contar o que sabe. Apareceu o caminho das pedras, dos
loteamentos de espaços públicos e de serviços de apoio, até
obras de concreto-areia.
Os companheiros, que podiam ter corrigido os problemas a partir de 2003, prolongaram o que era doce.
CUIDADO
A Agência de Vigilância Sanitária entrou numa encrenca.
Em abril passado, ela liberou o
remédio Acomplia, vendido como pílula mágica de emagrecimento. Coisa de mãe: a pessoa
começa a emagrecer pela barriga. Na semana passada, uma comissão de especialistas da Food
and Drug Administration, recomendou, por 14x0, que o
Acomplia (rimonabant, um primo distante da maconha) ainda
não seja vendido nos Estados
Unidos. Querem mais estudos,
pois o princípio ativo da droga
age sobre o cérebro, e, na fase
de testes, sua dose de 20 mg indicou uma sensível piora em
quadros depressivos e o aparecimento de idéias de suicídio.
A maioria das pessoas que toma Acomplia emagrece e passa
bem, obrigado. A União Européia aprovou o consumo da
marca em junho de 2006, mas,
diante da decisão da FDA,
anunciou que vai reestudar a licença. Em 1997, a Anvisa ficou
mal na foto quando demorou
para proibir a venda de drogas
como o Isomeride, proibidas
nos EUA e na Europa. A agência demorou para limpar as
prateleiras das farmácias. O
emagrecedor provocava ataques cardíacos.
Serviço: o estudo, com 37
páginas em inglês e mediquês,
está no sítio da FDA, basta
procurá-lo pela palavra "rimonabant".
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