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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ REAÇÃO POPULAR
Planalto recebe 600 envelopes por dia com críticas, elogios e pedidos; carta-resposta é elaborada com base em discursos do presidente
Número de cartas a Lula dobra com crise
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O número de correspondências
que chegam diariamente ao Palácio do Planalto em nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
dobrou nos últimos meses, justamente quando veio à tona o início
da pior crise da gestão petista.
Aos missivistas que tratam da
turbulência política, o Planalto
elaborou uma carta-resposta assinada por Lula que fala "dos riscos
que o governo bem intencionado
e empreendedor corre ao ter necessariamente de compartilhar o
poder" (leia texto abaixo).
A atual marca é de 600 cartas
por dia, o mesmo índice do boom
registrado no começo do governo, dois anos e meio atrás.
O tom das correspondências
que tratam das denúncias de corrupção contra o governo segue
uma linha de respeito e apoio direto à figura do presidente e de
críticas e sugestões variadas ao
governo. O panorama é semelhante ao registrado em recentes
pesquisas da gestão federal, nas
quais Lula aparece sempre bem
avaliado diante do governo.
A Folha teve acesso a algumas
dessas cartas. Em geral, elas cobram ação do presidente contra a
corrupção, tratam Lula como um
amigo que precisa de orações e
ajuda, atacam a classe política, pedem ao presidente para demitir
seja quem for e relatam decepção
com tantas notícias negativas.
De acordo com a Diretoria de
Documentação Histórica da Presidência da República, das 29.721
correspondências que o Planalto
recebeu neste ano, 7% (cerca de
2.080) são de críticas ao governo.
Desse montante, apenas 114 delas
(ou seja, 5%) são de ataques diretas ao presidente Lula. As demais
criticam ações do governo, entre
as quais a política econômica.
Também na casa dos 7% estão
as cartas de apoio. Desse volume,
porém, 584 (28%) são endereçadas a Lula. Pesquisa CNT/Sensus
divulgada na semana passada
mostrou que o agravamento da
crise não alterou sua popularidade, apesar de ter crescido o percentual de entrevistados que enxergam aumento da corrupção.
Estrutura
No subsolo da sede do governo,
cerca de 50 pessoas trabalham
com a função de abrir os envelopes, dividi-los por categorias e encaminhá-los para resposta. Num
acordo da Presidência com os
Correios, uma carta simples apenas com o nome "Lula" escrito no
campo do destinatário já é encaminhada ao Planalto.
Há 17 anos na direção de Documentação Histórica, Claudio Soares Rocha diz que, apesar da crise
política e das denúncias de corrupção, o respeito a Lula permanece "impecável", sem direito a
palavrões e expressões agressivas.
Um exemplo disso ocorreu numa correspondência vinda na semana passada de Salvador (BA).
"O povo não irá lhe cobrar "mensalão". O povo só quer respeito,
emprego, saúde, educação. Aliás,
não preciso lhe dizer isso. Desculpe-me por tê-lo tratado de excelência nas últimas linhas."
O "Ano do Brasil na França",
diz a Presidência, também contribuiu para o aumento do número
de cartas recebidas. O presidente,
porém, não recebe apenas textos.
Diariamente o caminhão dos
Correios descarrega quadros, redes, livros, peças de artesanato,
CDs, bolas de futebol e uniformes
esportivos. Tudo endereçado a
Lula e também a Marisa Letícia.
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