São Paulo, domingo, 17 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ REAÇÃO POPULAR

Planalto recebe 600 envelopes por dia com críticas, elogios e pedidos; carta-resposta é elaborada com base em discursos do presidente

Número de cartas a Lula dobra com crise

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O número de correspondências que chegam diariamente ao Palácio do Planalto em nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva dobrou nos últimos meses, justamente quando veio à tona o início da pior crise da gestão petista.
Aos missivistas que tratam da turbulência política, o Planalto elaborou uma carta-resposta assinada por Lula que fala "dos riscos que o governo bem intencionado e empreendedor corre ao ter necessariamente de compartilhar o poder" (leia texto abaixo).
A atual marca é de 600 cartas por dia, o mesmo índice do boom registrado no começo do governo, dois anos e meio atrás.
O tom das correspondências que tratam das denúncias de corrupção contra o governo segue uma linha de respeito e apoio direto à figura do presidente e de críticas e sugestões variadas ao governo. O panorama é semelhante ao registrado em recentes pesquisas da gestão federal, nas quais Lula aparece sempre bem avaliado diante do governo.
A Folha teve acesso a algumas dessas cartas. Em geral, elas cobram ação do presidente contra a corrupção, tratam Lula como um amigo que precisa de orações e ajuda, atacam a classe política, pedem ao presidente para demitir seja quem for e relatam decepção com tantas notícias negativas.
De acordo com a Diretoria de Documentação Histórica da Presidência da República, das 29.721 correspondências que o Planalto recebeu neste ano, 7% (cerca de 2.080) são de críticas ao governo. Desse montante, apenas 114 delas (ou seja, 5%) são de ataques diretas ao presidente Lula. As demais criticam ações do governo, entre as quais a política econômica.
Também na casa dos 7% estão as cartas de apoio. Desse volume, porém, 584 (28%) são endereçadas a Lula. Pesquisa CNT/Sensus divulgada na semana passada mostrou que o agravamento da crise não alterou sua popularidade, apesar de ter crescido o percentual de entrevistados que enxergam aumento da corrupção.

Estrutura
No subsolo da sede do governo, cerca de 50 pessoas trabalham com a função de abrir os envelopes, dividi-los por categorias e encaminhá-los para resposta. Num acordo da Presidência com os Correios, uma carta simples apenas com o nome "Lula" escrito no campo do destinatário já é encaminhada ao Planalto.
Há 17 anos na direção de Documentação Histórica, Claudio Soares Rocha diz que, apesar da crise política e das denúncias de corrupção, o respeito a Lula permanece "impecável", sem direito a palavrões e expressões agressivas.
Um exemplo disso ocorreu numa correspondência vinda na semana passada de Salvador (BA). "O povo não irá lhe cobrar "mensalão". O povo só quer respeito, emprego, saúde, educação. Aliás, não preciso lhe dizer isso. Desculpe-me por tê-lo tratado de excelência nas últimas linhas."
O "Ano do Brasil na França", diz a Presidência, também contribuiu para o aumento do número de cartas recebidas. O presidente, porém, não recebe apenas textos. Diariamente o caminhão dos Correios descarrega quadros, redes, livros, peças de artesanato, CDs, bolas de futebol e uniformes esportivos. Tudo endereçado a Lula e também a Marisa Letícia.

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