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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ NOVAS VERSÕES
Comissão relaciona confissão do empréstimo a manobra feita em 1992 por assessor de Collor
Para CPI, Valério e Delúbio forjam "Operação Uruguai 2"
RANIER BRAGON
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Parlamentares da CPI dos Correios classificaram de "Operação
Uruguai 2" a nova versão apresentada pelo publicitário Marcos
Valério Fernandes de Souza e pelo
ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares para explicar os saques milionários feitos em dinheiro nas contas das empresas de publicidade
SMPB e DNA, das quais Marcos
Valério é sócio.
Reservadamente, a versão já é
tratada de "Operação Paraguai"
até entre governistas da comissão.
À semelhança do empréstimo simulado com banqueiros uruguaios para explicar a origem do
dinheiro que financiava gastos do
ex-presidente Fernando Collor de
Mello, a explicação de Marcos Valério e Delúbio teria problemas
para ficar de pé, avaliam congressistas já debruçados nas primeiras
informações da quebra do sigilo
bancário do publicitário e de suas
empresas.
O Banco Central fixou prazo até
terça-feira para o envio das informações que faltam dos bancos. As
atenções estão voltadas para o
Banco Rural, que concentra a
maior parte da movimentação
bancária de Marcos Valério, assim como os saques feitos em dinheiro vivo. "A gente tem condições de pegar tudo", disse o presidente da CPI, senador Delcídio
Amaral (PT-MS).
O publicitário e o ex-tesoureiro
do PT prestaram nos últimos dias
depoimentos à Procuradoria Geral da República em que contam
história semelhante: o publicitário teria contraído empréstimos
em bancos, cerca de R$ 40 milhões, em nome de suas empresas,
e repassado o dinheiro a pessoas
indicadas por Delúbio.
"Acho que esse é um jogo armado para tentar desviar o foco real
do problema. Na prática, estão
querendo reeditar a Operação
Uruguai, ou seja, encontrar uma
justificativa para a origem e o destino dos recursos, justificativa que
não corresponde à realidade.
Querem limpar a operação", afirmou o deputado Antonio Carlos
Magalhães Neto (PFL-BA).
O deputado Gustavo Fruet
(PSDB-PR), um dos sub-relatores
da CPI, vai na mesma linha.
""Operação Uruguai 2", foi a primeira coisa que eu associei hoje,
porque, de repente, surgiu assim
uma história muito bem contada
entre ele [Valério] e o Delúbio",
disse. "Isso cheira a Operação
Uruguai", afirmou.
Fruet diz acreditar que os empréstimos repassados por Valério
rendiam a ele contas para suas
empresas em órgãos do governo.
"Pelo volume de contratos que ele
[Valério] fez, acredito que foi uma
clara simulação: ele fazia o empréstimo e passava o dinheiro para o PT e, em contrapartida, conseguia contas publicitárias."
Operação Uruguai foi o nome
dado ao empréstimo de US$ 3,7
milhões forjado com banqueiros
de Montevidéu para justificar a
origem do dinheiro que financiou
a campanha do ex-presidente
Fernando Collor de Mello ao Planalto e seus gastos no cargo.
Deputados da oposição suspeitam que a fonte de Valério seria
desvio de recursos públicos ou dinheiro de empresários que obteriam vantagens do governo.
Semelhanças
O relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), questionado sobre as semelhanças dos
empréstimos Valério com aqueles
da Operação Uruguai, concordou: "Até terça-feira teremos os
nomes dos bancos, a relação das
pessoas que sacaram e evidentemente nós iremos imediatamente
tentar associar a nomes do PT",
disse o deputado.
A CPI ouve o depoimento de
Delúbio na quarta-feira. Um dia
antes, deve receber a lista das pessoas que sacaram o dinheiro vivo
na agência do Banco Rural em
Brasília. A lista está em poder da
Justiça mineira.
Marcos Valério é acusado pelo
deputado Roberto Jefferson de
ser o "operador" do suposto
"mensalão", que consistiria no
pagamento, pelo PT, de mesadas
a deputados do PP e do PL.
Outro integrante da comissão, o
deputado Maurício Rands (PT-PE), também diz desconfiar da
história. "Não acho verossímil. Se
houve, foi uma coisa isolada do
ex-tesoureiro [Delúbio], não foi
uma coisa de partido", afirmou.
De acordo com Fruet, a CPI vai
agora para cima dos bancos que
teriam feito os supostos empréstimos a Valério. A suspeita é que
eles possam ter usado Valério como forma de escamotear o repasse de dinheiro ao PT.
"Vamos em cima dos bancos
que fizeram os empréstimos, para
saber por que esse bancos fizeram
os empréstimos, se cobraram, se
executaram. Vamos especular: dá
para cogitar que foi uma forma de
os bancos darem dinheiro para o
PT", disse.
Caixa 2
Integrantes da CPI também
consideraram "grave" a afirmação de Delúbio à Procuradoria de
que todas as campanhas do PT, à
exceção da de Luiz Inácio Lula da
Silva, receberam doações não declaradas à Justiça Eleitoral, esquema conhecido como "caixa dois".
"É uma coisa tão grave que a
gente não saberia nem qual é a solução. Se isso for verdadeiro, ele
está dizendo que todos os mandatos obtidos são mandatos comprometidos", disse Serraglio.
"Ele confessou crime eleitoral. É
um chute no estômago de todo
petista. Imagine isso na campanha eleitoral", declarou Fruet.
O líder do PP, deputado José Janene (PR), insistiu ontem em que
o partido não se beneficiou da suposta arrecadação de dinheiro pelo caixa dois pelo PT. "Tenho absoluta convicção de que o partido
não teve benefício nenhum nisso", disse o deputado.
O PP é um dos partidos da base
governista que teria recebido recursos repassados por Delúbio.
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