São Paulo, segunda-feira, 17 de julho de 2006

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Beneficiados dizem que renunciariam ao cartão se tivessem profissão e renda

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CONTAGEM

O sonho de ter uma profissão anima 134 beneficiários do Bolsa-Família em Contagem (MG), que, a partir de 3 de agosto, vão começar a participar do projeto-piloto de incubadora de serviços na área da construção civil.
Quase todos os selecionados pela Prefeitura de Contagem para participar durante 12 meses da incubadora vivem no pobre e estigmatizado distrito de Nova Contagem (a 22 km do centro do município). Eles vão participar da oficina que ensinará algumas habilidades, como serviços hidráulicos, acabamento, jardinagem e informática. O projeto, vinculado ao Ministério do Desenvolvimento Social, será executado pela PUC-MG (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais).
A Folha conversou com cinco selecionados, que afirmaram que devolveriam o cartão do Bolsa-Família se conseguirem ter uma profissão e uma renda.
"Entrego, sim. Porque, se tiver o meu salário, deixo para quem precisa", disse Ermi Ribeiro de Souza, 44, mãe solteira de dois filhos (17 e 11 anos) e desempregada. Recebendo do programa do governo federal R$ 15 por mês, ela diz que espera aprender a trabalhar na construção civil, pensando em poder ajudar o companheiro pedreiro.
"A informática é o que mais me atrai", disse Meri dos Santos Reis Rocha, 29, casada, mãe de duas crianças (seis e três anos) e recebendo R$ 30 do programa. "Até ontem, não estava animada com nada. Agora estou com vontade de aprender."

"Aperfeiçoamento"
Casado, desempregado e com três filhos, o padeiro e pedreiro Isaias Gonçalves de Andrade, 28, vive dos R$ 30 que sua mulher recebe do programa e dos biscates em padarias. Como pedreiro, disse ter limitações, por isso vê no curso a oportunidade de "aperfeiçoamento para ficar mais graduado".
Ângelo da Silva, 24, solteiro, sete irmãos, foi indicado para o curso pela mãe, favorecida com R$ 95 do Bolsa-Família. Falando das suas habilidades com desenho e grafite, ele espera que o projeto possa lhe dar mais qualificação a ponto de, quem sabe, até poder "abrir uma empreiteira, uma construtora".
Os selecionados vão assim sonhando com uma profissão e com o fim da dependência do Bolsa-Família. "Mas só se eu estiver trabalhando. Se tiver desempregada, não adianta nada", disse Jacqueline Moreira de Oliveira, 34, faxineira, quatro filhos, que recebe R$ 95.


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