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Lula se diz triste e insinua armação em vaias
Presidente afirma ter recebido informações de que as manifestações na abertura do Pan teriam sido "organizadas'
Oposição rebate petista e descarta orquestração nas vaias de sexta-feira; para o
ministro do Esporte, Lula não deve retornar ao Pan
LETÍCIA SANDER
PEDRO DIAS LEITE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Declarando-se "triste" com
as vaias recebidas na cerimônia
de abertura dos Jogos Pan-Americanos, na sexta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
insinuou ontem que o movimento pode ter sido "organizado" -mesmo argumento usado
por petistas e outros aliados.
Foi a primeira menção pública de Lula às vaias, que o deixaram visivelmente contrariado
na sexta-feira. "A única coisa
com que eu, particularmente,
fico triste é que fui preparado
para uma festa. É como se eu
fosse convidado para o aniversário de um amigo meu, chegasse lá e encontrasse um grupo de pessoas que não queria a
minha presença lá. Eu tenho
certeza de que não é esse o pensamento do Rio de Janeiro",
desabafou, em seu programa
semanal de rádio, o "Café com o
Presidente".
Lula disse que, quando terminou o evento, "várias pessoas vieram dizer que tinha sido organizado, que gente tinha
recebido convite". "A mim não
interessa o que aconteceu, já
aconteceu", afirmou.
Ele ainda acrescentou que as
vaias não mudam "um milímetro" do comportamento dele
em relação ao Estado. O governo federal bancou R$ 1,8 billhão dos R$ 3,7 bilhões gastos
na preparação dos Jogos, sendo
que R$ 49,8 milhões foram direcionados para festas relativas
ao evento esportivo.
Sem volta
O ministro do Esporte, Orlando Silva Júnior, disse ontem
que acha pouco provável o presidente Lula voltar ao Rio para
assistir ao Pan. "Acho pouco
provável. Agenda de presidente
não é simples. Ele fez um esforço enorme, ficou feliz com a
festa, com a Vila, mas não é
simples", disse o ministro.
Lula está convidado para assistir à cerimônia de encerramento dos Jogos, que acontecerá no dia 29, no Maracanã. "O presidente veio com o espírito
aberto para uma festa, desarmado", disse o ministro, que
também classificou as vaias de
"armação", sem dar detalhes.
"Visitei vários postos de competição no sábado e inúmeras
pessoas me pararam na rua para dizer que estavam com vergonha. Liguei até para o presidente para contar isso. Acredito que quem montou aquela armação deixou o tiro sair pela
culatra. O que gerou foi uma
grande solidariedade ao presidente", disse o ministro.
As vaias, num momento em
que pesquisas de opinião dizem
que a alta popularidade do presidente está mantida, suscitaram uma troca de farpas entre
governistas e oposicionistas.
Ontem, o site do PT trazia reportagem intitulada "Vídeo
mostra ensaio de vaia a Lula às
vésperas do Pan". Nela, o deputado Dr. Rosinha (PT-RJ) disse
ver indícios de que a Prefeitura
do Rio, comandada por César
Maia (DEM), buscou "criar um
factóide" contra Lula e organizou claque para aplaudi-lo e para vaiar o presidente.
A reportagem do site do PT
ressalta que a venda de ingressos do Pan é responsabilidade
da Prefeitura do Rio, assim como a seleção dos voluntários
que trabalham nos jogos.
César Maia disse à Folha que
a prefeitura sorteou somente
300 ingressos -com direito a
acompanhante- entre seus
funcionários. Segundo ele, o
governo federal, incluindo nessa conta Petrobras e Caixa Econômica Federal, teve direito a
7.613 ingressos e o Estado a outros 800 convites.
No boletim diário que distribui por e-mail, Maia disse que é
a assessoria de Lula que usa
"claques de aluguel" e procura
levá-lo apenas onde os aplausos serão inevitáveis, o que daria uma "falsa impressão de popularidade".
Ele criticou a estratégia do presidente de "conquistar o Rio" desde que Sérgio
Cabral (PMDB) foi eleito governador. Segundo o prefeito
foi vaiado porque "tentou se
apropriar do Pan do Rio transformando em Pan do Brasil".
Desde janeiro, o Rio foi o segundo Estado mais visitado por
Lula, que esteve lá sete vezes. A
São Paulo, campeão de visitas,
Lula fez 15 viagens no período.
Armadilha
Para Sérgio Cabral, as vaias,
além de estranhas, parecem ter
sido "armadilha". "Não há armadilha montada no Maracanã
que tire o amor do presidente
Lula pelo Rio. Foi uma parte do
público situado à esquerda da
Tribuna [de Honra], muito
bem localizado, que depois
contaminou uma outra parte.
Tudo muito concatenado."
A assessoria de imprensa da
prefeitura afirmou também
que na tribuna de honra estavam apenas políticas e autoridades que não vaiariam o presidente. Disse ainda que o número de convidados do governo federal na Tribuna era muito superior aos do município.
Defensores
O governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), que esteve ontem em Brasília, disse
que as vaias foram "imerecidas". "A vaia é o aplauso da oposição." O governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB), que assistiu à cerimônia inicial
em uma das tribunas de honra
do Maracanã, corrobora com a
tese da "claque armada": "Ao
mesmo tempo que o presidente
foi vaiado, o prefeito do Rio foi
aplaudido efusivamente. Aí o
gato deixou o rabo de fora".
Colaboraram FÁBIO ZANINI , da Sucursal de
Brasília, e CÍNTIA ACAYABA , da Agência Folha
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