São Paulo, terça-feira, 17 de julho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Lula se diz triste e insinua armação em vaias

Presidente afirma ter recebido informações de que as manifestações na abertura do Pan teriam sido "organizadas'

Oposição rebate petista e descarta orquestração nas vaias de sexta-feira; para o ministro do Esporte, Lula não deve retornar ao Pan

LETÍCIA SANDER
PEDRO DIAS LEITE

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Declarando-se "triste" com as vaias recebidas na cerimônia de abertura dos Jogos Pan-Americanos, na sexta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva insinuou ontem que o movimento pode ter sido "organizado" -mesmo argumento usado por petistas e outros aliados.
Foi a primeira menção pública de Lula às vaias, que o deixaram visivelmente contrariado na sexta-feira. "A única coisa com que eu, particularmente, fico triste é que fui preparado para uma festa. É como se eu fosse convidado para o aniversário de um amigo meu, chegasse lá e encontrasse um grupo de pessoas que não queria a minha presença lá. Eu tenho certeza de que não é esse o pensamento do Rio de Janeiro", desabafou, em seu programa semanal de rádio, o "Café com o Presidente".
Lula disse que, quando terminou o evento, "várias pessoas vieram dizer que tinha sido organizado, que gente tinha recebido convite". "A mim não interessa o que aconteceu, já aconteceu", afirmou.
Ele ainda acrescentou que as vaias não mudam "um milímetro" do comportamento dele em relação ao Estado. O governo federal bancou R$ 1,8 billhão dos R$ 3,7 bilhões gastos na preparação dos Jogos, sendo que R$ 49,8 milhões foram direcionados para festas relativas ao evento esportivo.

Sem volta
O ministro do Esporte, Orlando Silva Júnior, disse ontem que acha pouco provável o presidente Lula voltar ao Rio para assistir ao Pan. "Acho pouco provável. Agenda de presidente não é simples. Ele fez um esforço enorme, ficou feliz com a festa, com a Vila, mas não é simples", disse o ministro.
Lula está convidado para assistir à cerimônia de encerramento dos Jogos, que acontecerá no dia 29, no Maracanã. "O presidente veio com o espírito aberto para uma festa, desarmado", disse o ministro, que também classificou as vaias de "armação", sem dar detalhes.
"Visitei vários postos de competição no sábado e inúmeras pessoas me pararam na rua para dizer que estavam com vergonha. Liguei até para o presidente para contar isso. Acredito que quem montou aquela armação deixou o tiro sair pela culatra. O que gerou foi uma grande solidariedade ao presidente", disse o ministro.
As vaias, num momento em que pesquisas de opinião dizem que a alta popularidade do presidente está mantida, suscitaram uma troca de farpas entre governistas e oposicionistas.
Ontem, o site do PT trazia reportagem intitulada "Vídeo mostra ensaio de vaia a Lula às vésperas do Pan". Nela, o deputado Dr. Rosinha (PT-RJ) disse ver indícios de que a Prefeitura do Rio, comandada por César Maia (DEM), buscou "criar um factóide" contra Lula e organizou claque para aplaudi-lo e para vaiar o presidente.
A reportagem do site do PT ressalta que a venda de ingressos do Pan é responsabilidade da Prefeitura do Rio, assim como a seleção dos voluntários que trabalham nos jogos.
César Maia disse à Folha que a prefeitura sorteou somente 300 ingressos -com direito a acompanhante- entre seus funcionários. Segundo ele, o governo federal, incluindo nessa conta Petrobras e Caixa Econômica Federal, teve direito a 7.613 ingressos e o Estado a outros 800 convites.
No boletim diário que distribui por e-mail, Maia disse que é a assessoria de Lula que usa "claques de aluguel" e procura levá-lo apenas onde os aplausos serão inevitáveis, o que daria uma "falsa impressão de popularidade".
Ele criticou a estratégia do presidente de "conquistar o Rio" desde que Sérgio Cabral (PMDB) foi eleito governador. Segundo o prefeito foi vaiado porque "tentou se apropriar do Pan do Rio transformando em Pan do Brasil".
Desde janeiro, o Rio foi o segundo Estado mais visitado por Lula, que esteve lá sete vezes. A São Paulo, campeão de visitas, Lula fez 15 viagens no período.

Armadilha
Para Sérgio Cabral, as vaias, além de estranhas, parecem ter sido "armadilha". "Não há armadilha montada no Maracanã que tire o amor do presidente Lula pelo Rio. Foi uma parte do público situado à esquerda da Tribuna [de Honra], muito bem localizado, que depois contaminou uma outra parte. Tudo muito concatenado."
A assessoria de imprensa da prefeitura afirmou também que na tribuna de honra estavam apenas políticas e autoridades que não vaiariam o presidente. Disse ainda que o número de convidados do governo federal na Tribuna era muito superior aos do município.

Defensores
O governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), que esteve ontem em Brasília, disse que as vaias foram "imerecidas". "A vaia é o aplauso da oposição." O governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB), que assistiu à cerimônia inicial em uma das tribunas de honra do Maracanã, corrobora com a tese da "claque armada": "Ao mesmo tempo que o presidente foi vaiado, o prefeito do Rio foi aplaudido efusivamente. Aí o gato deixou o rabo de fora".


Colaboraram FÁBIO ZANINI , da Sucursal de Brasília, e CÍNTIA ACAYABA , da Agência Folha


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: FHC recomenda humildade a Lula; Serra aponta frustrações
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.