São Paulo, quinta-feira, 17 de julho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JANIO DE FREITAS

Vozes demais e de menos


Não há dúvida, juiz deve falar mesmo é pelos autos; ministro diz o necessário e útil, não entra em bate-boca

O lado positivo da reunião feita por Lula com os ministros Gilmar Mendes e Tarso Genro, no Planalto, a pretexto de combinarem propostas de reformas processuais, apazigua o mal-estar sem ir à sua causa. E, portanto, sem assegurar moderação de ânimos e palavras senão até a divergência vindoura.
Até anos recentes, ouviu-se que "juiz fala nos autos". Na presidência do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes mostra não ser adepto do preceito, se bem que muito menos avesso a ele do que o penúltimo dos seus antecessores no cargo, o autopermissivo Nelson Jobim. Tarso Genro, por sua vez, sempre se mostra ainda mais encantado com ouvir-se, em geral terminando por perder-se na prolixidade.
Para sustar suas contribuições para os ares de crise, ou assim tidos, aos dois contendores bastaria deixar de espicaçar-se pelos jornais, com críticas mútuas que nem ao menos contêm alguma idéia discutível.
No seu confronto público, Gilmar Mendes não ofereceu mais do que desabafos, irados como lhe é habitual, muitos deles desconectados da realidade ("gângsters", "lembrança do regime soviético", e por aí, a propósito de policiais informantes de jornalistas); Tarso Genro não produziu mais do que farpas revestidas de obviedades.
A propósito de casos judiciais, não há dúvida, juiz deve falar mesmo é pelos autos. Ministro, ainda mais o da Justiça, diz o necessário e útil, não entra em bate-boca.

Em débito
O afastamento do delegado Protógenes Queiroz não o isenta da dívida que fez em relação, mais do que ao jornalismo brasileiro, aos cidadãos que lêem jornal, vêem TV e ouvem rádio. No relatório de suas conclusões sobre Daniel Dantas e Naji Nahas, em nome da Polícia Federal, o delegado fez acusações graves a jornalistas. Ficou devendo a fundamentação, dever de todo policial sério e de toda polícia. Se há fundamentação.
O diretor da PF, Luiz Fernando Corrêa, tinha uma dívida em aberto, agora tem duas. Com as responsabilidades que lhe cabem, não explicou como foi possível e como consentiu que um delegado conduzisse longo inquérito sem dividir com superior algum, inclusive o diretor e o ministro, nem a mais insignificante informação sobre a investigação.
Agora, a meio dos embaraços caóticos desdobrados da tal investigação, o diretor da Polícia Federal entra "em férias". São férias? Se forem, o diretor da PF continua abdicando de responsabilidades. Caso não o sejam, e a esta altura não têm as aparências próprias de férias, nada justifica que o afastamento do delegado Protógenes Queiroz e as férias do diretor Luiz Fernando Corrêa não passem à opinião pública com explicações convincentes.

Democracia
Candidatos a prefeito do Rio discutem o que fazer para reduzir seus riscos não eleitorais. Os riscos físicos de que, inadvertido, um deles entre em área urbana e eleitoral em que os chefes da bandidagem local não o queira.
Várias favelas estão vendidas a um deputado ou vereador, para se reservarem como áreas do candidato dele, e por isso os demais candidatos estão proibidos de entrar. Em outras, os chefes proibiram a entrada de todos os candidatos.
E ainda há quem ache que a prevalência do Estado fica anulada é nas reservas indígenas.


Texto Anterior: Habeas corpus é negado a réu de furto a Mendes
Próximo Texto: Dantas, delegado e juiz terão de depor em CPI
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.