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Após 8 anos foragido, Cacciola volta ao país escoltado pela polícia
Sorridente, ex-banqueiro conversa com PF durante vôo, "dando sua versão" dos fatos; ele deve desembarcar às 5h de hoje no Rio
Acusado de dar prejuízo de US$ 1,6 bi ao país, Cacciola foi condenado em 2005 a
13 anos de prisão por gestão fraudulenta e peculato
PEDRO DIAS LEITE
ENVIADO ESPECIAL A PARIS
O ex-banqueiro Salvatore
Cacciola conversou longamente com a Polícia Federal na primeira parte da sua viagem de
extradição de Mônaco para o
Brasil. "Ele está se explicando,
dando sua versão do que aconteceu", disse à Folha um dos
integrantes da equipe da PF
que viajou a Mônaco.
Aparentemente tranqüilo, de
calça jeans, camisa pólo branca, óculos escuros, tênis e com
um relógio no pulso (mas não
algemas), o ex-banqueiro quase não parou de falar no vôo de
Nice a Paris, de pouco mais de
uma hora de duração. Gesticulando bastante, mas calmamente, olhava ora para um
membro da PF à sua direita,
ora para um à esquerda. Ele
viajou no meio, no assento 11B.
Cacciola não quis falar com
repórteres que acompanhavam
o vôo, lotado. Na saída, o repórter da Folha mostrou a ele um
bilhete de meses atrás em que
prometia "uma bela entrevista", mas ele disse: "Me desculpe, mas agora eu não vou falar".
Acompanhavam Cacciola
dois delegados, um agente e um
representante da PF na Embaixada do Brasil em Paris, além
do assessor especial do Ministério da Justiça para extradições, Rodrigo Sagastume, e de
mais duas pessoas.
O ex-banqueiro deixou a prisão onde passou os últimos dez
meses, em Mônaco, às 13h30
de ontem (8h30 no Brasil) e foi
de helicóptero para Nice. De lá,
partiu às 16h45 para Paris, onde a equipe da PF despistou a
imprensa. Ele deveria embarcar às 22h para o Rio, onde deveria chegar às 5h de hoje (horário de Brasília).
Em Nice, Cacciola chegou a
sorrir em alguns momentos.
Como repórteres tiravam fotos
do grupo, o ex-banqueiro
atraiu a atenção de turistas,
que passaram a também tirar
fotos com celulares, mesmo
sem saber de quem se tratava.
A chegada de Cacciola hoje
ao Rio encerra mais um capítulo de uma das histórias mais
marcantes do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). O ex-banqueiro, que virou símbolo do tumultuado
processo de desvalorização do
real no início de 1999, chegou a
ficar 43 dias presos em meados
de 2000 e fugiu para a Itália
após conseguir um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal, em julho daquele ano.
Cacciola era dono do banco
Marka e fez operações que resultaram num prejuízo de R$
1,6 bilhão para o governo (o que
na época equivalia a quase US$
1,6 bilhão), que teve de intervir
para evitar uma "crise sistêmica" no mercado. Já morando na
Itália, de onde não podia ser
extraditado por ter cidadania,
ele foi condenado no Brasil em
2005 a 13 anos de prisão pelos
crimes de gestão fraudulenta
de instituição financeira no
mercado brasileiro e peculato
(uso do cargo exercido para
apropriação ilegal de dinheiro).
O ex-banqueiro acabou preso em Mônaco num sábado, 15
de setembro de 2007, depois de
ter ido a uma feira de barcos na
Riviera Francesa. Segundo
seus defensores, ele achava que
estava protegido pela cidadania
italiana. Mas, quando apresentou seu passaporte no Hotel
Fairmont, o sistema mostrou
que o hóspede freqüentava
também a lista de procurados
da Interpol, que foi acionada.
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