São Paulo, quinta-feira, 17 de julho de 2008

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Após 8 anos foragido, Cacciola volta ao país escoltado pela polícia

Sorridente, ex-banqueiro conversa com PF durante vôo, "dando sua versão" dos fatos; ele deve desembarcar às 5h de hoje no Rio

Acusado de dar prejuízo de US$ 1,6 bi ao país, Cacciola foi condenado em 2005 a 13 anos de prisão por gestão fraudulenta e peculato


PEDRO DIAS LEITE
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

O ex-banqueiro Salvatore Cacciola conversou longamente com a Polícia Federal na primeira parte da sua viagem de extradição de Mônaco para o Brasil. "Ele está se explicando, dando sua versão do que aconteceu", disse à Folha um dos integrantes da equipe da PF que viajou a Mônaco.
Aparentemente tranqüilo, de calça jeans, camisa pólo branca, óculos escuros, tênis e com um relógio no pulso (mas não algemas), o ex-banqueiro quase não parou de falar no vôo de Nice a Paris, de pouco mais de uma hora de duração. Gesticulando bastante, mas calmamente, olhava ora para um membro da PF à sua direita, ora para um à esquerda. Ele viajou no meio, no assento 11B.
Cacciola não quis falar com repórteres que acompanhavam o vôo, lotado. Na saída, o repórter da Folha mostrou a ele um bilhete de meses atrás em que prometia "uma bela entrevista", mas ele disse: "Me desculpe, mas agora eu não vou falar".
Acompanhavam Cacciola dois delegados, um agente e um representante da PF na Embaixada do Brasil em Paris, além do assessor especial do Ministério da Justiça para extradições, Rodrigo Sagastume, e de mais duas pessoas.
O ex-banqueiro deixou a prisão onde passou os últimos dez meses, em Mônaco, às 13h30 de ontem (8h30 no Brasil) e foi de helicóptero para Nice. De lá, partiu às 16h45 para Paris, onde a equipe da PF despistou a imprensa. Ele deveria embarcar às 22h para o Rio, onde deveria chegar às 5h de hoje (horário de Brasília).
Em Nice, Cacciola chegou a sorrir em alguns momentos. Como repórteres tiravam fotos do grupo, o ex-banqueiro atraiu a atenção de turistas, que passaram a também tirar fotos com celulares, mesmo sem saber de quem se tratava.
A chegada de Cacciola hoje ao Rio encerra mais um capítulo de uma das histórias mais marcantes do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). O ex-banqueiro, que virou símbolo do tumultuado processo de desvalorização do real no início de 1999, chegou a ficar 43 dias presos em meados de 2000 e fugiu para a Itália após conseguir um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal, em julho daquele ano.
Cacciola era dono do banco Marka e fez operações que resultaram num prejuízo de R$ 1,6 bilhão para o governo (o que na época equivalia a quase US$ 1,6 bilhão), que teve de intervir para evitar uma "crise sistêmica" no mercado. Já morando na Itália, de onde não podia ser extraditado por ter cidadania, ele foi condenado no Brasil em 2005 a 13 anos de prisão pelos crimes de gestão fraudulenta de instituição financeira no mercado brasileiro e peculato (uso do cargo exercido para apropriação ilegal de dinheiro).
O ex-banqueiro acabou preso em Mônaco num sábado, 15 de setembro de 2007, depois de ter ido a uma feira de barcos na Riviera Francesa. Segundo seus defensores, ele achava que estava protegido pela cidadania italiana. Mas, quando apresentou seu passaporte no Hotel Fairmont, o sistema mostrou que o hóspede freqüentava também a lista de procurados da Interpol, que foi acionada.


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