|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
IMPRENSA
Na posse, presidente da República Dominicana faz discurso contra censura
Para Lula, jornalista que não
defende conselho é "covarde"
EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A SANTO DOMINGO
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva rotulou ontem, em Santo
Domingo (República Dominicana), de "um bando de covardes"
os jornalistas que não defendem o
projeto de lei enviado pelo governo no início do mês ao Congresso
que prevê a criação do CFJ (Conselho Federal de Jornalismo) e
suas seções estaduais. Para ele,
falta "coragem" à categoria.
"Vocês são um bando de covardes mesmo, hein? Vocês não tiveram coragem de defender o Conselho Nacional de Jornalista",
afirmou o presidente, ontem à
noite, no saguão de entrada do
hotel em que está hospedado.
No momento em que deixava o
local para ir a um jantar oferecido
pelo novo presidente do país,
Leonel Antonio Fernandez Reyna, Lula foi em direção a cerca de
dez jornalistas brasileiros, que
aguardavam sua saída do hotel.
Nem chegou a ser questionado,
indo direto ao assunto.
Primeiro, chamou todos de "covardes". Em seguida, questionado
por uma repórter se os jornalistas
teriam de defender o projeto, Lula
afirmou: "É lógico. Cadê a posição classista de vocês ? (...) Não é
uma coisa boa pra vocês? Não é
uma reivindicação histórica de
vocês? Vocês não eram nem nascidos e já se reivindicava isso".
A Folha, então, o indagou se o
projeto é de interesse dos jornalistas ou do governo . Lula respondeu, antes de ser cercado por seguranças e deixar o local: "Pra nós
não. Pro governo o que importa é
fazer as coisas que a categoria entender que é boa para ela".
Na última sexta-feira, em visita
ao Paraguai, Lula afirmou que somente falaria com os jornalistas
que o aguardavam caso eles se posicionassem a favor da criação do
CFJ. "Se vocês começarem a defender o conselho de imprensa, eu
dou [entrevista]."
Ontem pela manhã, na cerimônia de posse de Leonel Reyna no
governo da República Dominicana, Lula ouviu seu colega defender a liberdade de imprensa.
"Os cidadãos não devem se sentir intimidados e perseguidos pelo
poder, e a imprensa não deve ser
censurada", afirmou Reyna, em
discurso no Congresso do país,
diante de oito chefes de Estado da
América do Sul, do Caribe e da
América Central.
Segundo o projeto de lei do governo, o Conselho Federal de Jornalismo irá, entre outras coisas,
"orientar, disciplinar e fiscalizar"
o exercício da profissão e a atividade de jornalismo.
O governo afirma que o envio
do projeto ao Congresso não visa
encontrar formas legais para controlar a ação dos jornalistas, e sim
atender a uma antiga reivindicação da própria categoria. O projeto original é da Fenaj (Federação
Nacional dos Jornalistas).
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Abusos da mídia não são inibidos, diz Jobim Índice
|