São Paulo, terça-feira, 17 de agosto de 2004

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DIPLOMACIA DE CHUTEIRAS

General brasileiro teme que Lula chame chefes de Estado para ver o jogo em Porto Príncipe

Urutu leva seleção para estádio no Haiti

SÉRGIO RANGEL
EDUARDO SCOLESE
ENVIADOS ESPECIAIS A SANTO DOMINGO

Os jogadores da seleção brasileira de futebol desfilarão num carro de combate antes do jogo contra o Haiti, amanhã à tarde, em Porto Príncipe. O Exército brasileiro reservou sete Urutus para levar os atletas e a comissão técnica do aeroporto da capital até o estádio Sylvio Cator.
O Urutu é um blindado sobre rodas usado para o transporte de tropas (leva até 13 militares), em geral equipado com metralhadora. A escolha de levar os jogadores no carro de combate é uma tentativa dos militares brasileiros de agradar aos haitianos, que devem lotar as ruas da capital amanhã.
"Se os jogadores ficassem dentro de um ônibus, poderíamos ter mais dificuldades para chegar ao estádio porque a chance de as pessoas interromperem o trajeto do ônibus é bem maior. No Urutu, os jogadores ficarão com metade do corpo fora do carro, o que vai facilitar a operação", disse José Aroldo Castelo Branco, chefe da seleção. "Quis muito estar aqui e nada vai me atrapalhar", disse Roberto Carlos, do Real Madrid, ao chegar na tarde de ontem a Santo Domingo, capital da República Dominicana, onde a seleção está concentrada.
Além dos Urutus, 1.200 homens do Exército brasileiro estarão envolvidos no esquema de segurança. A delegação brasileira só chegará a Porto Príncipe duas horas antes do jogo. Voltarão para a República Dominicana logo depois do amistoso.
O Haiti está em crise desde o início do ano, quando rebeldes avançaram contra Porto Príncipe, exigindo a renúncia do presidente Jean-Bertrand Aristide -que diz ter sido forçado a deixar o cargo por EUA e França.
Para controlar a crise, uma força de paz da ONU foi enviada ao país sob liderança dos EUA. Dois meses atrás, o comando foi repassado ao Brasil, que mantém cerca de 1.200 homens no país. Chamado de "jogo da paz", o amistoso faz parte do esforço do governo federal para ajudar a força de paz.
Por causa da instabilidade no Haiti, o Milan não cedeu Kaká, Dida e Cafu. Até o início da noite de ontem, Lúcio e Zé Roberto, ambos do Bayern de Munique, não haviam se apresentado. Só Adriano, da Inter de Milão, e Edmílson, do Barcelona, foram liberados pela comissão técnica.
O comandante da força de paz da ONU no Haiti, general brasileiro Augusto Heleno Ribeiro Pereira, afirmou estar "muito preocupado" com a possibilidade de que, no encontro com chefes de Estado da América Central e do Caribe hoje em Santo Domingo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva convide alguns deles para acompanhá-lo a Porto Príncipe para assistir ao amistoso da seleção.
"Realmente estamos muito preocupados, pois apenas para o presidente Lula tivemos de fazer um grande esforço. Nossa tropa não permite grande flexibilidade para segurança", disse.
Segundo o Itamaraty, Lula é o único chefe de Estado confirmado para o "jogo da paz". Ele assistirá à partida acompanhado por Joseph Blatter (Fifa) e Ricardo Teixeira (CBF).
Lula deve se reunir hoje à tarde com a seleção em Santo Domingo. O atacante Ronaldo, do Real Madrid, vai entregar-lhe uma chuteira personalizada.


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