São Paulo, quarta-feira, 17 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/NOVAS CONEXÕES

Conta utilizada em 1998 para fazer remessas ao publicitário é apontada como receptora de dinheiro desviado de São Paulo

Promotoria aponta elo entre Duda e Maluf

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma das contas que pagou o publicitário Duda Mendonça no exterior, em 1998, é apontada pelo Ministério Público como a receptora do suposto dinheiro desviado durante a gestão do ex-prefeito paulistano Paulo Maluf (PP).
À época, Duda era o responsável pela campanha de Maluf ao governo de São Paulo -o ex-prefeito perdeu no segundo turno para o governador Mário Covas (PSDB), morto em 2001.
A conta que, segundo promotores e procuradores, foi abastecida com dinheiro desviado durante a construção da avenida Água Espraiada (hoje Jornalista Roberto Marinho) é a Chanani, controlada por um doleiro de São Paulo.
Da mesma conta, segundo documentos encaminhados à CPI dos Correios, partiram remessas de dinheiro para o publicitário, ainda em 1998. A informação foi confirmada pelo Ministério Público, que pediu a quebra de sigilo bancário da Chanani nos Estados Unidos.
Em depoimento à CPI dos Correios, na semana passada, Duda afirmou ter aberto a empresa "offshore" Dusseldorf para receber dinheiro da campanha eleitoral do PT de 2002. Disse, no entanto, que era a primeira vez que recebia por meio de contas no exterior, que isso não era comum.
Por meio de sua assessoria, Maluf nega a remessa ilegal de dinheiro para o exterior.

Documento
Entre os documentos que estão no processo aberto contra Maluf e familiares por suposta lavagem de dinheiro e formação de quadrilha há um comprovante de transferência bancária com a conta da Chanani como a favorecida.
Segundo cópia do documento obtida pela Folha, a conta Chanani, número 026003023, no banco Safra em Nova York, recebeu US$ 843.233,56 no dia 20 de janeiro de 1998 por meio da Lespan, uma "conta-ônibus" -modalidade de conta usada por doleiros para remeter dinheiro de diferentes clientes para o exterior, o que dificulta o rastreamento.
A Promotoria também investiga quais outros doleiros e empresas usaram a Lespan para enviar dinheiro ilegal para fora do país.

Declaração
Em junho de 2002, o nome da empresa "offshore" Chanani foi citado em depoimento ao Ministério Público do Estado de São Paulo por Joel Fernandes, ex-funcionário da construtora Mendes Júnior, uma das responsáveis pela construção da avenida Água Espraiada, alvo de investigação por eventual superfaturamento.
Era a primeira vez que o nome da empresa surgia no inquérito aberto contra o ex-prefeito.
Aos promotores, Fernandes disse que a Mendes Júnior, em acordo com Maluf e com o sucessor dele, o ex-prefeito Celso Pitta, pagou cerca de US$ 195 milhões a empresas-fantasmas subcontratadas. Aproximadamente de 90% desse valor foi devolvido à empresa e enviado ao exterior por meio de doleiros.
Cópias dos cheques e das notas fiscais estão no processo.
Parte desse dinheiro, afirmou o ex-funcionário da Mendes Júnior à Promotoria, abasteceu a conta da Chanani em Nova York.
O depoimento de Fernandes coincide com o de um outro ex-funcionário da Mendes Júnior, Simeão Damasceno, que também citou operações de remessa ilegal de dinheiro por meio da construtora para o exterior.


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