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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/PT X PT
PT rejeita processo interno contra deputados
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Executiva Nacional do PT rejeitou ontem a abertura de um
processo disciplinar, na Comissão
de Ética do partido, contra os sete
deputados federais citados no esquema ilegal de financiamento
patrocinado pelo publicitário
Marcos Valério de Souza.
Apesar disso, o partido finalmente fez um mea-culpa, 70 dias
após o surgimento do escândalo
do "mensalão". "O partido faz seu
primeiro pedido de desculpas à
nação, pois os atos que nos comprometem, moral e politicamente
perante os brasileiros, foram cometidos por dirigentes do PT",
diz a resolução aprovada ontem.
O presidente do PT, Tarso Genro, apoiou o pedido de desculpas,
mas foi voto vencido na decisão
de não abrir processo na Comissão de Ética, o que evidencia sua
dificuldade em comandar uma sigla ainda fortemente influenciada
pelo ex-ministro José Dirceu.
Tarso e o secretário-geral petista, Ricardo Berzoini, votaram favoravelmente à resolução proposta pela ala "esquerda" do PT, que
pedia a imediata instalação de
processos na Comissão de Ética
contra os deputados Dirceu, João
Paulo Cunha (SP), Paulo Rocha
(PA), Professor Luizinho (SP),
João Magno (MG), José Mentor
(SP) e Josias Gomes (BA). Mas a
proposta acabou rejeitada por 9
votos a 6, com uma abstenção.
Mesmo enfraquecido, o Campo
Majoritário conseguiu aprovar no
lugar da Comissão de Ética uma
proposta classificada de "aguada"
pelos grupos que fazem oposição
interna ao governo. Ficou estabelecida uma comissão de sindicância, que terá 20 dias para apurar
responsabilidades dos parlamentares nos saques da conta de Valério. Ela reunirá documentos e poderá tomar depoimentos. Devem
participar o assessor especial da
Presidência Marco Aurélio Garcia, o presidente da Fundação
Perseu Abramo (ligada ao PT),
Hamilton Pereira, e o deputado
estadual gaúcho Flávio Koutzii.
Mas para que seja efetivamente
aberto processo contra os parlamentares -que poderia levar à
expulsão- primeiro a comissão
tem de apresentar um parecer,
para depois o Diretório Nacional,
marcado para 3 de setembro,
aprovar o envio à Comissão de
Ética. Ou seja, o processo foi estendido e dificultado, uma vez
que aprovar processo contra os
deputados no diretório -muitos
deles integrantes com direito a
voto- é considerado ainda mais
difícil que na Executiva.
"Há graus diferentes de responsabilidade entre os filiados petistas, e uma comissão de sindicância para fazer uma triagem, antes
do eventual envio à Comissão de
Ética, é mais adequada", disse o
secretário de Comunicação,
Humberto Costa, ex-ministro.
O PT procura distiguir organizadores do esquema ilegal -como o ex-tesoureiro Delúbio Soares, único que enfrenta processo
disciplinar- dos que teriam sido
levados a erro, que seria o caso da
maioria dos deputados.
Tarso, mesmo derrotado internamente, procurou ressaltar aspectos positivos da comissão de
sindicância. "É a primeira vez que
se coloca um limite concreto para
tomada de decisões", afirmou.
Sobre a derrota interna, classificou de "natural". "Foi uma decisão mediada da Executiva, não
necessariamente a do presidente.
Estou associado a essa decisão.
No PT, temos formas diferentes
de abordagem. Isso é natural."
Há cerca de duas semanas, Tarso também foi mal-sucedido em
uma proposta que encampou, a
de negar legenda para deputados
federais que renunciem ao mandato. As alas esquerdas do PT,
que ameaçam deixar o partido,
reagiram duramente.
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