São Paulo, quarta-feira, 17 de agosto de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/PT X PT

PT rejeita processo interno contra deputados

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Executiva Nacional do PT rejeitou ontem a abertura de um processo disciplinar, na Comissão de Ética do partido, contra os sete deputados federais citados no esquema ilegal de financiamento patrocinado pelo publicitário Marcos Valério de Souza.
Apesar disso, o partido finalmente fez um mea-culpa, 70 dias após o surgimento do escândalo do "mensalão". "O partido faz seu primeiro pedido de desculpas à nação, pois os atos que nos comprometem, moral e politicamente perante os brasileiros, foram cometidos por dirigentes do PT", diz a resolução aprovada ontem.
O presidente do PT, Tarso Genro, apoiou o pedido de desculpas, mas foi voto vencido na decisão de não abrir processo na Comissão de Ética, o que evidencia sua dificuldade em comandar uma sigla ainda fortemente influenciada pelo ex-ministro José Dirceu.
Tarso e o secretário-geral petista, Ricardo Berzoini, votaram favoravelmente à resolução proposta pela ala "esquerda" do PT, que pedia a imediata instalação de processos na Comissão de Ética contra os deputados Dirceu, João Paulo Cunha (SP), Paulo Rocha (PA), Professor Luizinho (SP), João Magno (MG), José Mentor (SP) e Josias Gomes (BA). Mas a proposta acabou rejeitada por 9 votos a 6, com uma abstenção.
Mesmo enfraquecido, o Campo Majoritário conseguiu aprovar no lugar da Comissão de Ética uma proposta classificada de "aguada" pelos grupos que fazem oposição interna ao governo. Ficou estabelecida uma comissão de sindicância, que terá 20 dias para apurar responsabilidades dos parlamentares nos saques da conta de Valério. Ela reunirá documentos e poderá tomar depoimentos. Devem participar o assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia, o presidente da Fundação Perseu Abramo (ligada ao PT), Hamilton Pereira, e o deputado estadual gaúcho Flávio Koutzii.
Mas para que seja efetivamente aberto processo contra os parlamentares -que poderia levar à expulsão- primeiro a comissão tem de apresentar um parecer, para depois o Diretório Nacional, marcado para 3 de setembro, aprovar o envio à Comissão de Ética. Ou seja, o processo foi estendido e dificultado, uma vez que aprovar processo contra os deputados no diretório -muitos deles integrantes com direito a voto- é considerado ainda mais difícil que na Executiva.
"Há graus diferentes de responsabilidade entre os filiados petistas, e uma comissão de sindicância para fazer uma triagem, antes do eventual envio à Comissão de Ética, é mais adequada", disse o secretário de Comunicação, Humberto Costa, ex-ministro.
O PT procura distiguir organizadores do esquema ilegal -como o ex-tesoureiro Delúbio Soares, único que enfrenta processo disciplinar- dos que teriam sido levados a erro, que seria o caso da maioria dos deputados.
Tarso, mesmo derrotado internamente, procurou ressaltar aspectos positivos da comissão de sindicância. "É a primeira vez que se coloca um limite concreto para tomada de decisões", afirmou.
Sobre a derrota interna, classificou de "natural". "Foi uma decisão mediada da Executiva, não necessariamente a do presidente. Estou associado a essa decisão. No PT, temos formas diferentes de abordagem. Isso é natural."
Há cerca de duas semanas, Tarso também foi mal-sucedido em uma proposta que encampou, a de negar legenda para deputados federais que renunciem ao mandato. As alas esquerdas do PT, que ameaçam deixar o partido, reagiram duramente.


Texto Anterior: STF vai reexaminar caso de Meirelles
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.