São Paulo, quarta-feira, 17 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/LULA NA MIRA

Presidente diz que a crise se manterá por um "bom tempo" e que não ficará isolado

Impeachment está longe do Planalto, afirma Lula

EDUARDO SCOLESE
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem a representantes de movimentos sociais, estudantes e sindicalistas que a possibilidade de impeachment está distante do Planalto. Disse que a atual turbulência política vai se manter por um "bom tempo" e que não ficará "isolado" e "choramingando" diante da crise.
"Está longe de alguém chegar aqui e encontrar corrupção e conseguir o impeachment", declarou, segundo relato de participantes. E prosseguiu no tema, ao elogiar a manifestação de ontem na Esplanada dos Ministérios: "Acho coerente vocês [movimentos e entidades] defenderem o estado de direito e a democracia".
Aos manifestantes, que ontem nas ruas de Brasília atacaram as "elites" que defendem o impeachment, o presidente disse que "os setores que querem derrubar o governo" poderiam ter atuado antes, caso não existissem tais movimentos e entidades.
"Esse processo [de ataques ao governo] poderia ter ocorrido muito antes. Só não ocorreu porque fui eleito com uma base social muito forte e bem organizada", disse, segundo relatos.
Desde a semana passada, principalmente após o depoimento do publicitário Duda Mendonça e o agravamento da crise, a possibilidade de impeachment passou a ser debatida abertamente. Anteontem, porém, a oposição avaliou que tal investida ainda não tem sustentação na sociedade.
No encontro de ontem, ocorrido a pedido da Presidência, Lula iniciou sua fala após ouvir uma longa pauta de reivindicações dos movimentos, entre sem-teto, sem-terra, estudantes e sindicalistas. Lembrou de casos de presidentes que, segundo ele, também foram "massacrados" durante seus mandatos. Citou Getúlio Vargas (1930-1945 e 1951-1954), Juscelino Kubitschek (1956-1961) e João Goulart (1961-1964).
A seguir, disse que a população deve ficar com a "alma machucada" ao ler o noticiário que trata da atual crise política. "A proporção de ataques tem se intensificado de tal forma que o que me anima é a manutenção de minha popularidade. Ela [popularidade] não se equivale ao tamanho da porrada."

PT deve desculpas
Assim como fizera em pronunciamento na última sexta-feira, Lula tratou da "necessidade de o PT" pedir desculpas à sociedade. Sobre o partido, Lula citou o exemplo de uma criança que suja a fralda e tem vergonha de mostrar aos pais. "O certo seria falar a verdade e se limpar depois."
Ao tratar da política econômica, um dos alvos da manifestação de ontem dos movimentos sociais, Lula disse haver divergências dentro do governo sobre os caminhos a adotar, mas não colocou a sua posição. Se limitou a dizer que considera "muito alta" a taxa básica de juros, de 19,75% ao ano.

José Alencar
O vice-presidente José Alencar (PL-MG) saiu ontem em defesa própria e na do presidente, afirmando que será "muito difícil" envolvê-los em denúncias de irregularidades.
Em entrevista após solenidade com militares no Planalto, Alencar confirmou "acordo político" do PT com o PL nas eleições de 2002 para pagamento de campanha de deputados nos Estados, mas disse que os recursos não foram repassados.

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