São Paulo, quarta-feira, 17 de agosto de 2005

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Sarney defende Lula, culpa o PT e propõe fim da reeleição para 2010

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em seu primeiro pronunciamento sobre a crise, o ex-presidente da República e senador José Sarney (PMDB-AP) defendeu a conduta e a trajetória de Luiz Inácio Lula da Silva e da esquerda brasileira, atribuindo os escândalos de caixa dois eleitoral e compra de votos parlamentares a "erros de omissões de dirigentes" do PT e "ausência de caráter".
Sarney propôs a aprovação de uma reforma política, com o fim da reeleição a partir de 2010.
Apesar de considerar que há riscos à democracia, a tônica do discurso foi de resgate da "esperança" e de crítica à conduta política de quem visa o poder, não o combate à corrupção. Sarney defendeu o espaço conquistado pela esquerda e não falou em golpismo.
Sarney foi aplaudido, mas senadores de oposição contestaram sua posição, considerada branda com a responsabilidade do presidente Lula. "Nenhuma história bonita justifica a corrupção, a má-fé e a desilusão que se espalharam neste país", disse o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).
Sarney disse que "não há conduta do presidente Lula que nem de leve possa atingir o seu mandato. Nenhum crime de responsabilidade". "Não se pode pensar em banir, através de uma crise, a esquerda da vida política brasileira, a ela transferindo a ausência de caráter e de valores morais que ocorrem em algumas pessoas."
Como solução imediata, além do rigor das investigações nas CPIs do Congresso, Sarney propôs uma reforma política transitória para as eleições de 2006, com voto em lista (não nominal), financiamento público exclusivo de campanha e a moderação do presidencialismo com a criação do cargo de primeiro-ministro.
Apesar de elogiar as oposições por, anteontem, terem se posicionado contra o impeachment, fez críticas veladas. "A guerra contra a corrupção não pode ser utilizada como instrumento para a promoção pessoal ou partidária."
Sarney disse ser necessário "banir da vida pública estes homens que a enlamearam", mas não citou nomes. Para ele, a reforma política é necessária porque as raízes da crise estão nas falhas históricas do sistema eleitoral. "O atual sistema partidário-eleitoral chegou ao fim. Com tristeza podemos reconhecer: apodreceu."
Apontou riscos contra a democracia por causa do "monstruoso escândalo" da compra de votos. Para ele, um Congresso fraco abre espaço para "fórmulas salvadoras". "Ninguém pense que elas estão fora das nossas hipóteses de perigo. No mundo atual há outras formas de desestabilização que não as intervenções militares sofridas ao longo de nossa história: a política das multidões, o terrorismo, a divisão social".
Sarney encerrou em tom dramático: "Que não morra a esperança e floresça o desencanto".
A oposição rejeitou o discurso que poupou Lula. "[Sarney] falhou com o Brasil hoje dizendo inverdades sobre o governo Lula, dizendo que Lula não tem responsabilidade quando é o principal responsável", reagiu Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA).
Sérgio Guerra (PSDB-PE) disse que o debate não é sobre PT ou esquerdistas, e sim sobre "os traidores da democracia do Brasil".


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