São Paulo, quarta-feira, 17 de agosto de 2005

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Entra o doleiro

Ana Paula Padrão abriu o "SBT Brasil" sorrindo:
- Um dia de mudança de humor em Brasília. Manifestantes poupam o presidente Lula, que libera verbas para o Congresso e recebe apoio de grandes líderes partidários, como o ex-presidente José Sarney.
Era o dia, até ali. Mais uma hora e Boris Casoy abria o "Jornal da Record" em outra:
- Toninho da Barcelona envolve Thomaz Bastos, José Dirceu, Mentor e Delúbio.
Entre um telejornal e outro, explodiram as denúncias do doleiro, por todo lado.

 

O "Jornal Nacional" iniciou a sua reportagem dizendo que o doleiro "fez denúncias contra o ex-ministro José Dirceu, o ministro Márcio Thomaz Bastos e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles".
No relato do telejornal, ponto a ponto, "questionado sobre para quem teria mandado dinheiro no exterior, Toninho da Barcelona respondeu":
- Para quem? Para o mundo. Para o Brasil inteiro. Para todos aqueles que tinham.
Sobre o ministro da Justiça, o relato foi do parlamentar tucano Eduardo Paes:
- Eu perguntei especificamente, "o senhor confirma ou não confirma que o ministro Márcio Thomaz Bastos enviou recursos para o exterior?". Ele confirmou e disse que terá como dar detalhes na CPI.
Sobre o ministro/presidente do BC, o relato foi do pefelista Demóstenes Torres:
- Ele diz que Meirelles fez operações irregulares com o MTB e que teria negociado que essas operações não fossem colocadas em público.
Sobre Dirceu, retorna Toninho da Barcelona:
- No momento oportuno poderei dar detalhes da ligação entre ele e a Bônus Banval.
O "JN" deu o "outro lado" dos três e notou que o doleiro "não apresentou uma só prova".
 

O que o "JN" não fez, ontem, foi registrar que outros políticos -de outros governos- teriam sido mencionados por Toninho da Barcelona.

NAS RUAS
Foi manchete nos telejornais, a começar do "Jornal da Band", o primeiro das quatro redes:
- Dez mil caras pintadas protestam contra a corrupção e em defesa do presidente Lula.
Depois, no "SBT Brasil":
- Caras-pintadas de volta à Esplanada. Dez mil atacam a corrupção, mas defendem o presidente.
O "JN" seguiu outra linha, evitando a expressão "caras-pintadas" já na escalada:
- Estudantes, sindicalistas e sem-terra fazem ato contra a corrupção e pró-Lula.
Depois o tom contrastou ainda mais, com destaque quase integral a uma denúncia do PFL:
- O protesto repercutiu no Congresso porque a manifestação foi convocada por entidades que recebem dinheiro do governo.
E tome números pefelistas sobre MST, CUT e UNE.
 

Com despachos de agências como Reuters e Dow Jones, a manifestação ecoou no exterior. No site do "New York Times", o título dizia que "Milhares se manifestam em apoio a Lula, do Brasil".

O CONFLITO

Cena do confronto, ontem da Globo News ao "JN"

A Globo descobriu com um dia de atraso o conflito de policiais e sem-teto. Narração do "JN":
- Policiais de um lado, moradores de outro. Desde as seis a tensão antecipava o conflito. Moradores sentaram no chão. Os policiais jogaram spray de pimenta, até sobre uma criança. Moradores atiram um feixe de madeira, que atinge um policial. A confusão se espalha, tiros de borracha, bombas de gás.
E aí "uma delas atingiu o cinegrafista Nestor Neregato, da TV Globo". Para terminar, no "JN", o desespero da "passadeira Rosineide":
- Vou para a rua com meus filhos. Eu não tenho ninguém, só Deus e meus filhos.
 

Band e Record foram muito além, nas suas coberturas do conflito, não faltando nem a reprodução de palavras de ordem do tipo "o povo unido jamais será vencido" -e o comentário de que "essas cenas de polícia na rua" são um perigo, "principalmente porque estamos à beira de um colapso político".


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