São Paulo, sexta-feira, 17 de agosto de 2007

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Renan não declarou uso de aviões de Lyra em campanha

Documentos de empresa mostram que senador fez 6 vôos em 2002; ele não se manifestou

Hélio Telho, ex-procurador regional eleitoral, diz que prática caracteriza caixa dois, ainda que não envolva o "tráfego de dinheiro"

LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A MACEIÓ

O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) fez pelo menos seis vôos durante a campanha de 2002 sem pagar pelo uso das aeronaves, segundo documentos da empresa de táxi aéreo Lug obtidos pela Folha.
O senador não declarou o uso de aviões e helicópteros da Lug na prestação de contas à Justiça Eleitoral nem nos gastos nem nas doações. Segundo Hélio Telho, ex-procurador regional eleitoral, essa prática caracteriza caixa dois. Renan não quis se manifestar. "Esse tipo de situação é caixa dois, ainda que não implique tráfego de dinheiro", disse Telho.
Segundo o ex-procurador, o uso de aeronaves tem de ser declarado pelo candidato como doação, se não houver pagamento, ou como despesa.
A assessoria do governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho (PSDB), disse que ele e Renan voaram em aviões contratados pelo senador em 2002. A assessoria do antecessor de Teotônio, Ronaldo Lessa (PSB), confirmou que Renan participou de atos de sua campanha em 2002, incluindo comício em Delmiro Gouveia em 16 de agosto daquele ano -data de um dos vôos do senador registrados pela Lug.
O prefeito de Delmiro Gouveia (AL), José Cazuza (PSB-AL), também confirmou que Renan esteve no comício. Ele disse não lembrar detalhes do discurso do senador, mas se recorda de Renan defender mais recursos para Alagoas.
A Lug pertence ao usineiro João Lyra, adversário de Renan e dono, numa sociedade oculta com o senador, de um grupo de comunicação de Alagoas, segundo a revista "Veja".
Lyra confirmou à Folha que Renan fez seis vôos com seus aviões sem pagar o aluguel. "Em julho e agosto de 2002, ele usou aeronaves em seis ocasiões, em viagens para o interior de Alagoas. Nunca pagou pelo uso das aeronaves", afirmou o usineiro.
Os seis vôos custaram, segundo a Lug, R$ 10,4 mil. A empresa informa que cinco foram bancados por Lyra, lançados em nome da Usina Laginha. O sexto, de R$ 2.400, teria sido pago pela Usina Taquara. Renan também não informou em sua prestação de contas doação recebida da Taquara.
O ex-procurador eleitoral ressaltou que uma situação comum em campanha, embora ilegal, é o pagamento pelo uso de aviões com dinheiro não contabilizado. "De qualquer forma, o que não está contabilizado, é caixa dois", afirmou.
Em 26 de agosto, Renan percorreu de helicóptero (prefixo PT-HPL) o trajeto de Maceió para Jundiá, depois para Palmeira dos Índios e Taquarana, e então voltou a Maceió, segundo o relatório de vôos da Lug.
Duas semanas antes, diz a empresa, Teotonio e Renan fizeram duas viagens num turboélice (PT-RVT) ao custo de R$ 3.300. Foram a Paulo Afonso (BA) no dia 16, quando houve comício de Lessa, para voltar a Maceió no outro dia. Descer em Paulo Afonso é o melhor meio de chegar a Delmiro Gouveia em viagens de avião.
Diferentemente de Renan, Teotônio declarou na prestação de campanha um vôo num helicóptero da Lug, no valor de R$ 7.990,32, em 4 de agosto de 2002. O aluguel da aeronave foi contratado pela campanha de Teotônio, diz a empresa.
Com recursos captados no valor de R$ 767 mil, a campanha de Renan apresentou à Justiça detalhamento minucioso dos gastos. Foram informadas, por exemplo, despesas de R$ 5 com combustíveis e até R$ 0,40 com taxas do Banco do Brasil. Não há menção a aluguel de aeronaves.


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