|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Renan não declarou uso de aviões de Lyra em campanha
Documentos de empresa mostram que senador fez 6 vôos em 2002; ele não se manifestou
Hélio Telho, ex-procurador regional eleitoral, diz que prática caracteriza caixa dois, ainda que não envolva o "tráfego de dinheiro"
LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A MACEIÓ
O senador Renan Calheiros
(PMDB-AL) fez pelo menos
seis vôos durante a campanha
de 2002 sem pagar pelo uso das
aeronaves, segundo documentos da empresa de táxi aéreo
Lug obtidos pela Folha.
O senador não declarou o
uso de aviões e helicópteros da
Lug na prestação de contas à
Justiça Eleitoral nem nos gastos nem nas doações. Segundo
Hélio Telho, ex-procurador regional eleitoral, essa prática caracteriza caixa dois. Renan não
quis se manifestar. "Esse tipo
de situação é caixa dois, ainda
que não implique tráfego de dinheiro", disse Telho.
Segundo o ex-procurador, o
uso de aeronaves tem de ser
declarado pelo candidato como
doação, se não houver pagamento, ou como despesa.
A assessoria do governador
de Alagoas, Teotônio Vilela Filho (PSDB), disse que ele e Renan voaram em aviões contratados pelo senador em 2002. A
assessoria do antecessor de
Teotônio, Ronaldo Lessa
(PSB), confirmou que Renan
participou de atos de sua campanha em 2002, incluindo comício em Delmiro Gouveia em
16 de agosto daquele ano -data
de um dos vôos do senador registrados pela Lug.
O prefeito de Delmiro Gouveia (AL), José Cazuza (PSB-AL), também confirmou que
Renan esteve no comício. Ele
disse não lembrar detalhes do
discurso do senador, mas se recorda de Renan defender mais
recursos para Alagoas.
A Lug pertence ao usineiro
João Lyra, adversário de Renan
e dono, numa sociedade oculta
com o senador, de um grupo de
comunicação de Alagoas, segundo a revista "Veja".
Lyra confirmou à Folha que
Renan fez seis vôos com seus
aviões sem pagar o aluguel.
"Em julho e agosto de 2002, ele
usou aeronaves em seis ocasiões, em viagens para o interior de Alagoas. Nunca pagou
pelo uso das aeronaves", afirmou o usineiro.
Os seis vôos custaram, segundo a Lug, R$ 10,4 mil. A empresa informa que cinco foram
bancados por Lyra, lançados
em nome da Usina Laginha. O
sexto, de R$ 2.400, teria sido
pago pela Usina Taquara. Renan também não informou em
sua prestação de contas doação
recebida da Taquara.
O ex-procurador eleitoral
ressaltou que uma situação comum em campanha, embora
ilegal, é o pagamento pelo uso
de aviões com dinheiro não
contabilizado. "De qualquer
forma, o que não está contabilizado, é caixa dois", afirmou.
Em 26 de agosto, Renan percorreu de helicóptero (prefixo
PT-HPL) o trajeto de Maceió
para Jundiá, depois para Palmeira dos Índios e Taquarana,
e então voltou a Maceió, segundo o relatório de vôos da Lug.
Duas semanas antes, diz a
empresa, Teotonio e Renan fizeram duas viagens num turboélice (PT-RVT) ao custo de
R$ 3.300. Foram a Paulo Afonso (BA) no dia 16, quando houve comício de Lessa, para voltar a Maceió no outro dia. Descer em Paulo Afonso é o melhor meio de chegar a Delmiro
Gouveia em viagens de avião.
Diferentemente de Renan,
Teotônio declarou na prestação de campanha um vôo num
helicóptero da Lug, no valor de
R$ 7.990,32, em 4 de agosto de
2002. O aluguel da aeronave foi
contratado pela campanha de
Teotônio, diz a empresa.
Com recursos captados no
valor de R$ 767 mil, a campanha de Renan apresentou à
Justiça detalhamento minucioso dos gastos. Foram informadas, por exemplo, despesas
de R$ 5 com combustíveis e até
R$ 0,40 com taxas do Banco do
Brasil. Não há menção a aluguel de aeronaves.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Teotonio diz que declarou vôos; Renan não fala Índice
|