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Líder do 'Cansei" desdenha Piauí, é chamado de "tolo" e pede desculpa
Presidente da Philips, Paulo Zottolo, diz que, se o Estado deixar de existir, "ninguém vai ficar chateado'
Impacto negativo da frase obrigou executivo a pedir desculpas; para governador, "acabou o tempo em que se fazia piadinha" com Estado
MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA
Uma frase do presidente da
Philips, Paulo Zottolo, afirmando que "se o Piauí deixar de
existir ninguém vai ficar chateado", gerou constrangimento
entre os organizadores do movimento "Cansei", do qual Zottolo é um dos líderes. E uniu
políticos do PT, do DEM e do
PMDB em críticas ao empresário. No fim da tarde de ontem,
Zottolo pediu desculpas pela
"frase infeliz".
A declaração foi publicada
ontem pelo jornal "Valor Econômico". Numa entrevista em
que explicava sua adesão ao
"Cansei", Zottolo afirmou:
"Não se pode pensar que o país
é um Piauí, no sentido de que
tanto faz quanto tanto fez. Se o
Piauí deixar de existir, ninguém vai ficar chateado".
O governador do Piauí, Wellington Dias, do PT, reagiu afirmando que enviaria ao presidente Lula, ao Congresso Nacional, aos governadores do
Nordeste e até ao governador
de São Paulo, José Serra, um
ofício pedindo "posicionamento de repúdio" às declarações
do presidente da Philips. "Não
podemos aceitar que qualquer
pessoa do Brasil ou do mundo
nos trate com tamanho desrespeito. Nós não aceitamos esse
tipo de deboche. Ainda mais de
uma multinacional com atuação em todo o país, inclusive
em nosso Estado. Acabou o
tempo em que se fazia piadinha
com o Piauí."
Os senadores piauienses Heráclito Fortes, do DEM, e Mão
Santa, do PMDB, ocuparam a
tribuna do Senado para protestar. Afirmando que Zottolo é
"megalomaníaco", Fortes disse
que "para comandar uma campanha como o "Cansei", é preciso no mínimo ter equilíbrio e
respeitar os Estados da federação. Também cansei de arrogância e prepotência".
Ao se referir a Zottolo, Mão
Santa afirmou: "Ó tolo, ignorante, imbecil, cansado, a primeira capital planejada deste
país foi Teresina. Eis um ignorante marcado pela própria
destinação. Leia o nome dele:
Zottolo. É um tolo, um arrogante tolo, porque tem uns dólares da Philips".
Depois das manifestações, o
empresário telefonou ao governador Wellington Dias e ao senador Heráclito Fortes para
pedir desculpas. "Foi uma frase
infeliz. Eu estou me retratando", afirmou Zottolo à Folha.
O empresário diz que falou
"dentro de um contexto. Eu
quis dizer o seguinte: o Piauí
hoje é um Estado pouco conhecido no Brasil. As pessoas não
sabem o que tem no Piauí.
Quando eu disse que o Piauí
não faz falta, eu quis dizer que,
como poucas pessoas conhecem o Estado, para eles tanto
faz como tanto fez. Não é o meu
caso. Eu, particularmente conheço bem o Piauí. Já fui quatro vezes ao Estado. A Philips
tem um trabalho social grande
no Piauí".
Zottolo prosseguiu: "O que
eu quis dizer foi isso: o Piauí é
desconhecido, e eu não quero
que o Brasil seja um Piauí. O
brasileiro tem que conhecer o
brasileiro. E o objetivo do "Cansei" é despertar dentro de nós
mesmos o entendimento de
por que nós estamos de repente parados, e não consternados,
com toda essa situação. Talvez
seja a falta de conhecimento
nosso mesmo. E foi aí que entrou a história do Piauí, entendeu? O Piauí é um Estado que
tanto faz como tanto fez, no
sentido de que o brasileiro o
conhece pouco".
O ex-governador de São Paulo Cláudio Lembo (DEM) reprovou as declarações do presidente da Philips. "Só fala mal
do Piauí quem não conhece a
história do Brasil", diz ele. "O
homem americano nasceu no
Piauí e bandeirantes paulistas
colonizaram o Estado. Quem
fala mal do meu Piauí querido
não sabe nada do Brasil."
Colaboraram a Sucursal de Brasília
e a Reportagem Local
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