São Paulo, terça-feira, 17 de setembro de 2002

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RAZÃO DE VOTO

Mulheres ditam as mudanças

MAURO FRANCISCO PAULINO

Começou com Roseana, há quase um ano. O desempenho inicial de sua candidatura já indicava a importância que a opinião das mulheres viria a exercer na definição do próximo presidente. Resultados das séries de pesquisas eleitorais do Datafolha mostram-nas mais volúveis do que os homens. E elas não têm hesitado em mudar de opinião e dar o tom das alternâncias que vêm marcando esta eleição. Em todas as reviravoltas, é no eleitorado feminino que se observam as variações mais expressivas.
Entre os homens o cenário mostra-se menos nebuloso: nesse segmento, Lula liderou isoladamente todas as pesquisas do Datafolha feitas desde o início do ano passado. Se a eleição fosse hoje, e apenas os homens votassem, o petista seria eleito no primeiro turno. Já entre as mulheres sua liderança não é tão incondicional e já foi compartilhada com a própria Roseana entre dezembro e março, com Serra entre março e abril e com Ciro em julho. Se dependesse apenas delas, Lula disputaria o segundo turno com Serra.
Desde 89, as mulheres revelam um grau de indecisão maior que o dos homens. Com maior freqüência, suas escolhas são feitas mais tarde, próximo ao dia da votação. Tanto em outubro de 89 quanto em setembro de 94, a 20 dias da eleição, a pergunta estimulada do Datafolha mostrava que contra apenas 6% de homens ainda indecisos havia 14% de mulheres na mesma situação. Em 98 a disparidade diminuiu para 5% entre os homens e 11% entre as mulheres. Hoje, a taxa de indecisos entre os homens praticamente não mudou (4%), enquanto entre as mulheres caiu para 7%. De uma forma inédita, portanto, as proporções de indecisos estão mais próximas. Muitos creditam também às mulheres um maior desapego pelas eleições. Isto já não é verdade, já que 19% afirmam estar desinteressadas da eleição presidencial contra 17% entre os homens, percentuais muito próximos.
Em fevereiro de 98 o Datafolha realizou amplo estudo sobre as variações de estrutura e organização da família brasileira. Os resultados mostravam a mulher emergindo como a figura mais importante da casa. Como dizia o caderno, "além de cumprir as tarefas de antigamente, tornou-se uma das principais fontes de renda e ganhou autoridade."
Essa nova forma de inserção na sociedade reflete-se agora na escolha do próximo presidente. Não é por acaso que todas as campanhas estão buscando a atenção desse eleitorado. É um segmento ainda pouco compreendido e, aparentemente, mais difícil de ser persuadido e, portanto, com o voto menos cristalizado.
Cruzamentos detalhados das duas últimas pesquisa do Datafolha revelam que Lula cresceu na mesma proporção entre homens e mulheres pertencentes à população economicamente ativa (PEA), ficando estável entre os que não estão inseridos no mercado de trabalho. Já Serra ficou estável entre os homens pertencentes à PEA, mas cresceu entre as mulheres desse mesmo segmento. Serra vem crescendo também entre as donas-de-casa, mais resistentes a Lula. Existem, portanto, contrapontos e diferenças importantes de opinião.
São resultados que sinalizam uma alteração no comportamento político das mulheres, a ser estudado com maior profundidade. Aparentemente, elas estão mais participativas, críticas e influenciam mais os moradores da casa do que em eleições anteriores, além de mostrarem-se mais ousadas na mudança de opinião. Talvez seja essa a revelação mais importante desta eleição.


MAURO FRANCISCO PAULINO, diretor-geral do Datafolha, escreve às terças-feiras nesta coluna


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