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RAZÃO DE VOTO
Mulheres ditam as mudanças
MAURO FRANCISCO PAULINO
Começou com Roseana, há
quase um ano. O desempenho inicial de sua candidatura já
indicava a importância que a
opinião das mulheres viria a
exercer na definição do próximo
presidente. Resultados das séries
de pesquisas eleitorais do Datafolha mostram-nas mais volúveis
do que os homens. E elas não têm
hesitado em mudar de opinião e
dar o tom das alternâncias que
vêm marcando esta eleição. Em
todas as reviravoltas, é no eleitorado feminino que se observam as
variações mais expressivas.
Entre os homens o cenário mostra-se menos nebuloso: nesse segmento, Lula liderou isoladamente todas as pesquisas do Datafolha feitas desde o início do ano
passado. Se a eleição fosse hoje, e
apenas os homens votassem, o petista seria eleito no primeiro turno. Já entre as mulheres sua liderança não é tão incondicional e já
foi compartilhada com a própria
Roseana entre dezembro e março,
com Serra entre março e abril e
com Ciro em julho. Se dependesse
apenas delas, Lula disputaria o
segundo turno com Serra.
Desde 89, as mulheres revelam
um grau de indecisão maior que o
dos homens. Com maior freqüência, suas escolhas são feitas mais
tarde, próximo ao dia da votação.
Tanto em outubro de 89 quanto
em setembro de 94, a 20 dias da
eleição, a pergunta estimulada do
Datafolha mostrava que contra
apenas 6% de homens ainda indecisos havia 14% de mulheres na
mesma situação. Em 98 a disparidade diminuiu para 5% entre os
homens e 11% entre as mulheres.
Hoje, a taxa de indecisos entre os
homens praticamente não mudou (4%), enquanto entre as mulheres caiu para 7%. De uma forma inédita, portanto, as proporções de indecisos estão mais próximas. Muitos creditam também
às mulheres um maior desapego
pelas eleições. Isto já não é verdade, já que 19% afirmam estar desinteressadas da eleição presidencial contra 17% entre os homens,
percentuais muito próximos.
Em fevereiro de 98 o Datafolha
realizou amplo estudo sobre as
variações de estrutura e organização da família brasileira. Os resultados mostravam a mulher
emergindo como a figura mais
importante da casa. Como dizia o
caderno, "além de cumprir as tarefas de antigamente, tornou-se
uma das principais fontes de renda e ganhou autoridade."
Essa nova forma de inserção na
sociedade reflete-se agora na escolha do próximo presidente. Não
é por acaso que todas as campanhas estão buscando a atenção
desse eleitorado. É um segmento
ainda pouco compreendido e,
aparentemente, mais difícil de ser
persuadido e, portanto, com o voto menos cristalizado.
Cruzamentos detalhados das
duas últimas pesquisa do Datafolha revelam que Lula cresceu na
mesma proporção entre homens e
mulheres pertencentes à população economicamente ativa
(PEA), ficando estável entre os
que não estão inseridos no mercado de trabalho. Já Serra ficou estável entre os homens pertencentes à PEA, mas cresceu entre as
mulheres desse mesmo segmento.
Serra vem crescendo também entre as donas-de-casa, mais resistentes a Lula. Existem, portanto,
contrapontos e diferenças importantes de opinião.
São resultados que sinalizam
uma alteração no comportamento político das mulheres, a ser estudado com maior profundidade.
Aparentemente, elas estão mais
participativas, críticas e influenciam mais os moradores da casa
do que em eleições anteriores,
além de mostrarem-se mais ousadas na mudança de opinião. Talvez seja essa a revelação mais importante desta eleição.
MAURO FRANCISCO PAULINO,
diretor-geral do Datafolha, escreve
às terças-feiras nesta coluna
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