São Paulo, domingo, 17 de setembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELEIÇÕES 2005 / CEARÁ

Para analistas, Tasso sairá enfraquecido de eleição

Rompido com Lúcio Ancântara, senador apóia Cid Gomes, aliado do PT e PMDB

Rejane Vasconcelos, da UFC, avalia que tucano deixará votação como um rei que não mostra força dentro de sua própria terra e partido

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

Após 20 anos no poder, o senador Tasso Jereissati (PSDB) não verá no governo do Ceará alguém de seu grupo de aliados no próximo mandato. A perspectiva de vitória de Cid Gomes (PSB), porém, dá ao seu projeto político uma aparente sobrevida, o que não aconteceria caso vencesse o candidato de seu próprio partido, Lúcio Alcântara, com quem rompeu antes do início do processo eleitoral.
O poder aparente do líder tucano num possível governo de Cid, no entanto, pode não se concretizar, já que o candidato do PSB se aliou a grupos historicamente contrários a Tasso, do PT e do PMDB. Para alguns analistas políticos ouvidos pela Folha, o poder de Tasso no Ceará pode ser reduzido.

Semelhanças
Irmão do ex-ministro Ciro Gomes (PSB), amigo de Tasso e um dos idealizadores do chamado "governo das mudanças" -projeto político implementado pelos dois desde 1986-, Cid carrega no discurso traços desse mesmo projeto, e nunca se insurgiu contra Tasso, nem na campanha eleitoral.
O discurso dele, assim como o de Tasso e Ciro, pauta-se numa gestão empresarial, sem traços da política tradicional do "beija mão", em grandes obras e na publicidade da "competência administrativa".
Apesar da semelhança do discurso, Cid não é mais do grupo de Tasso, pelo menos desde que firmou a aliança com o PT e o PMDB para esta eleição.
Tasso ainda não chegou a declarar abertamente o voto em Cid, mas não escondeu, ao anunciar o rompimento com Lúcio Alcântara, que preferia apoiar o irmão de Ciro -para manterem a aliança histórica- e descartar a reeleição do tucano, com quem nunca foi tão alinhado politicamente.
Para Rejane Vasconcelos, cientista política da UFC (Universidade Federal do Ceará), Tasso perdeu muito nesta campanha. "A vitória de Cid apenas aparentemente pode ser uma demonstração da força de Tasso. Ele sai dessa eleição como um rei que não mostra força dentro de sua própria terra, e fica enfraquecido até no PSDB nacional."
Vasconcelos afirma que o projeto "mudancista", como é conhecido o período de 20 anos de hegemonia de Tasso, está esgotado e que, agora, é possível falar da ascensão de um novo grupo detentor do poder político no Ceará, o dos "Ferreira Gomes".
"Ciro sempre se manteve fiel a Tasso, mesmo quando foi para o lado do PT. Cid, porém, não tem essa obrigação."
Para o filósofo Francisco Auto Filho, da UECE (Universidade Estadual do Ceará), deverá haver uma tensão no governo de Cid, caso seja confirmada sua vitória, entre as forças ligadas ao "tassismo" e os partidos que compõem a aliança.
"Acho que vai prevalecer a influência do PT, especialmente pela conjuntura nacional", disse. "Cid vai ter de escolher entre Tasso e Lula e, acredito, ficará com Lula."
O cientista político Francisco Moreira Ribeiro, da Unifor (Universidade de Fortaleza), concorda que, sem a máquina do governo, Tasso perde poder. "Ele apostou apenas em sua liderança pessoal e, quando deixou a máquina do governo, isso se enfraqueceu", disse.
"A própria política personalista engoliu o personagem", conclui Vasconcelos.


Texto Anterior: Eleições 2006/Nos Estados: Disputa nos Estados segue inalterada, com exceção de CE e RN
Próximo Texto: Eleições 2006/Campanha: Boneco de Olinda ganha cara de candidato
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.