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ELEIÇÕES 2005 / CEARÁ
Para analistas, Tasso sairá enfraquecido de eleição
Rompido com Lúcio Ancântara, senador apóia Cid Gomes, aliado do PT e PMDB
Rejane Vasconcelos, da UFC, avalia que tucano deixará votação como um rei que não mostra força dentro de sua própria terra e partido
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA
Após 20 anos no poder, o senador Tasso Jereissati (PSDB)
não verá no governo do Ceará
alguém de seu grupo de aliados
no próximo mandato. A perspectiva de vitória de Cid Gomes
(PSB), porém, dá ao seu projeto
político uma aparente sobrevida, o que não aconteceria caso
vencesse o candidato de seu
próprio partido, Lúcio Alcântara, com quem rompeu antes do
início do processo eleitoral.
O poder aparente do líder tucano num possível governo de
Cid, no entanto, pode não se
concretizar, já que o candidato
do PSB se aliou a grupos historicamente contrários a Tasso,
do PT e do PMDB. Para alguns
analistas políticos ouvidos pela
Folha, o poder de Tasso no
Ceará pode ser reduzido.
Semelhanças
Irmão do ex-ministro Ciro
Gomes (PSB), amigo de Tasso e
um dos idealizadores do chamado "governo das mudanças"
-projeto político implementado pelos dois desde 1986-, Cid
carrega no discurso traços desse mesmo projeto, e nunca se
insurgiu contra Tasso, nem na
campanha eleitoral.
O discurso dele, assim como
o de Tasso e Ciro, pauta-se numa gestão empresarial, sem
traços da política tradicional do
"beija mão", em grandes obras
e na publicidade da "competência administrativa".
Apesar da semelhança do
discurso, Cid não é mais do grupo de Tasso, pelo menos desde
que firmou a aliança com o PT e
o PMDB para esta eleição.
Tasso ainda não chegou a declarar abertamente o voto em
Cid, mas não escondeu, ao
anunciar o rompimento com
Lúcio Alcântara, que preferia
apoiar o irmão de Ciro -para
manterem a aliança histórica-
e descartar a reeleição do tucano, com quem nunca foi tão alinhado politicamente.
Para Rejane Vasconcelos,
cientista política da UFC (Universidade Federal do Ceará),
Tasso perdeu muito nesta campanha. "A vitória de Cid apenas
aparentemente pode ser uma
demonstração da força de Tasso. Ele sai dessa eleição como
um rei que não mostra força
dentro de sua própria terra, e fica enfraquecido até no PSDB
nacional."
Vasconcelos afirma que o
projeto "mudancista", como é
conhecido o período de 20 anos
de hegemonia de Tasso, está esgotado e que, agora, é possível
falar da ascensão de um novo
grupo detentor do poder político no Ceará, o dos "Ferreira
Gomes".
"Ciro sempre se manteve fiel
a Tasso, mesmo quando foi para o lado do PT. Cid, porém, não
tem essa obrigação."
Para o filósofo Francisco Auto Filho, da UECE (Universidade Estadual do Ceará), deverá
haver uma tensão no governo
de Cid, caso seja confirmada
sua vitória, entre as forças ligadas ao "tassismo" e os partidos
que compõem a aliança.
"Acho que vai prevalecer a
influência do PT, especialmente pela conjuntura nacional",
disse. "Cid vai ter de escolher
entre Tasso e Lula e, acredito,
ficará com Lula."
O cientista político Francisco
Moreira Ribeiro, da Unifor
(Universidade de Fortaleza),
concorda que, sem a máquina
do governo, Tasso perde poder.
"Ele apostou apenas em sua liderança pessoal e, quando deixou a máquina do governo, isso
se enfraqueceu", disse.
"A própria política personalista engoliu o personagem",
conclui Vasconcelos.
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