São Paulo, segunda-feira, 17 de setembro de 2007

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"Choque" tucano provoca crise administrativa em Alagoas

Governador Teotonio Vilela Filho enfrentou 183 dias de greve do funcionalismo após adotar modelo de gestão aplicado em Minas Gerais por Aécio Neves

THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MACEIÓ

O modelo de administração adotado pelo governador Teotonio Vilela Filho (PSDB) em Alagoas, inspirado no "choque de gestão" aplicado em Minas Gerais pelo também tucano Aécio Neves, foi o grande responsável pela crise no Estado nordestino. É o que afirmam a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e a CUT (Central Única dos Trabalhadores) alagoanas.
Nos cerca de nove meses de governo, Teotonio enfrentou 183 dias de greve de diversas categorias (algumas ao mesmo tempo), o que equivale a 71% do tempo em que esteve no cargo. Não houve um mês sem greve.
"O governador de Alagoas criou uma bomba orientado pelo pessoal de Minas Gerais. Usou uma receita mineira dada por técnicos e conselheiros políticos que vieram para cá", afirma Izac Jacson, presidente da CUT-AL.
Ele diz que o decreto baixado em janeiro por Teotonio, que suspendeu os reajustes salariais dados em abril de 2006 a todos os servidores, gerou uma "quebra de confiança".
"Havia um acordo. Durante o processo eleitoral, ele assumiu o compromisso de não mexer nos salários. Ocorreu uma traição. Ele elencou a folha de pessoal como principal guarda-chuva para fazer caixa", disse.
Policiais militares, médicos, funcionários públicos da Saúde, policiais civis, professores e servidores da Educação já fizeram greve neste ano. As quatro últimas categorias estão paradas no momento.
De acordo com Jacson, outros servidores também podem parar: "Os agentes penitenciários podem parar no dia 20. Tem fugido preso todas as semanas, e o governo quer que eles se responsabilizem pela parte externa dos presídios. Eles são agentes socializadores, não de segurança."

Estopim
O decreto, publicado em 15 de janeiro no "Diário Oficial", foi o estopim para uma paralisação geral, que teve início no dia 16. Uma semana depois, o governador revogou o decreto, mas a crise permaneceu.
Para o presidente da OAB-AL, Omar Mello, a importação do modelo mineiro explica o quadro atual: "Veio gente do PSDB de lá trazendo essa obra-prima de gestão. O que existe em Minas é um trabalho bem elaborado de marketing. Há, na verdade, um sufocamento do servidor público. Ele é tratado a pão e água. Não dá para imaginar como um Estado pode crescer mantendo um serviço público em baixa, desestimulado".
A expressão "choque de gestão" foi utilizada à exaustão por Geraldo Alckmin (PSDB) na campanha presidencial do ano passado. O programa trabalha com estabelecimento de metas e contrapartidas e se funda no enxugamento da administração, no aumento da capacidade de arrecadar e no gerenciamento de despesas.
O governo de Alagoas firmou convênio com duas empresas de consultoria, a Macroplan e a INDG, usadas por Aécio, para elaborar o plano de gestão. Teotonio viajou a Minas para conhecer o programa. Com o "choque de gestão", Aécio disse que conseguiu zerar seu déficit. Mas para Mello, da OAB-AL, Minas vive uma "farsa, um desenvolvimento de fachada".


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