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SÃO PAULO
Marta chama Maluf de "mentiroso contumaz" e ex-prefeito diz que petista é
"administrativamente desqualificada"; mediação adverte adversários por desrespeito às regras
Candidatos trocam ofensas em debate
DA REPORTAGEM LOCAL
Os candidatos Marta Suplicy
(PT) e Paulo Maluf (PPB) desrespeitaram as regras e trocaram
ofensas no primeiro debate do segundo turno da eleição em São
Paulo, transmitido ontem à noite
pela Rede Bandeirantes.
Logo no primeiro bloco do programa, Marta chamou Maluf de
"mitômano (pessoa que tem tendência mórbida para a mentira),
mentiroso contumaz". A afirmação foi feita quando o pepebista
disse que havia construído cinco
piscinões em São Paulo. A petista
afirmou que fora apenas um, assim mesmo idealizado na gestão
petista que o antecedeu.
Maluf pediu direito de resposta,
que foi concedido pelo mediador
do programa, o jornalista Sérgio
Rondino. "A senhora é administrativamente desqualificada. A senhora veio para esse debate
achando que insultando e mentindo vai ganhar. Vou lhe processar. A senhora fique quietinha e
respeite o telespectador", disse.
Quando o moderador desligou
os microfones, dando direito de
resposta a Maluf, Marta disse
"não vou ficar ouvindo isso". Maluf prometeu processá-la. "Cala a
boca, Maluf. Ponha modos nesse
cidadão", pediu Marta ao moderador. Depois, pediu direito de
resposta, que não foi concedido.
Ambos os candidatos foram então advertidos de que estavam
desrespeitando as regras que seus
assessores haviam acordado.
No início do segundo bloco,
Marta pediu novo direito de resposta por ter sido chamada de
mentirosa por Maluf momentos
antes. "A sra. insiste em mentir
para a população ao dizer que vereador, deputado estadual e deputado federal podem fazer despesa. Isso é inconstitucional", disse Maluf. O ex-prefeito fez a declaração ao justificar por que vetou
projeto de renda mínima de um
vereador petista.
Inicialmente o pedido de direito
de resposta foi negado. Momentos depois, a direção do programa
achou uma frase que permitia direito de resposta: "A senhora não
perdeu o hábito da calúnia e da
mentira", tinha dito Maluf. "Bom,
esse direito de resposta vale pelas
duas frases", afirmou Marta. "As
pessoas desta cidade estão acostumadas a saber quem mente."
Parlamento
Maluf voltou a atacar Marta
quando disse que o mandato de
deputada federal da petista tinha
sido um "livro em branco". "A
única coisa que a senhora fez foi
assinar a emenda que liberou dinheiro para o Lalau (o ex-juiz Nicolau dos Santos Neto)".
O ex-prefeito estava se referindo
a uma emenda coletiva assinada
por parlamentares paulistas de
diversos partidos com pedido de
liberação de verbas para várias
obras, entre elas a construção do
Fórum Trabalhista de São Paulo.
O ex-juiz Nicolau é um dos envolvidos no desvio de R$ 169 milhões
destinados ao fórum.
A petista por três vezes chamou
Maluf de "mitômano". Marta
usou a expressão para rebater a
crítica de Maluf à sua conduta na
Câmara dos Deputados. "O senhor é que, como parlamentar,
não compareceu às sessões e teve
de devolver o jeton (subsídio a
que os parlamentares tinham direito de acordo com número de
sessões que frequentavam). Maluf
respondeu que havia sido absolvido e que não devolveu dinheiro.
O debate começou com um
questionamento sobre como
cumprir promessas de campanha, com uma prefeitura endividada e sem dinheiro para investimentos. Marta insistiu no discurso de fechar "as torneiras da corrupção". Maluf afirmou que pegou uma prefeitura com dificuldades deixadas pela gestão petista
de 89 a 92 e que, por isso, teria
condições de reerguê-la.
Maluf questionou quantos empregos Marta pretendia criar caso
eleita. "Quantos empregos? Qual
é o custo? Não adianta requalificar. Quanto é a necessidade de investimento? Parceria é tapeação."
"Vai depender muito do rombo
que vocês deixarem. Vamos fazer
uma averiguação desse rombo",
respondeu a candidata petista.
Insistindo na atividade parlamentar de Marta, Maluf perguntou por que a petista apresentou
um projeto de lei que diminui a
pena dos criminosos. "É preciso
ter paciência porque ele mente",
respondeu ela, antes de dizer que
o projeto possibilita a redução de
pena para presos que estudem
quando estão na cadeia.
Maluf retomou no bloco seguinte a mesma questão. O ex-prefeito rebateu dizendo que tem
preocupação com a segurança e
defende a prisão perpétua.
Nível
No terceiro bloco, em resposta a
pergunta dirigida a ele sobre insinuações que teria feito sobre a vida privada de Marta, Maluf afirmou que não iria "baixar o nível"
e que havia sido agredido "quatro
ou cinco vezes" no programa.
Marta, ao comentar a resposta,
desafiou o pepebista, afirmando
que esperava ser questionada sobre o assunto. "Na minha frente,
ele não fala nada", disse. Maluf revidou: "Não baixo o nível nem pela frente nem pelas costas".
Ao longo do programa, em várias de suas perguntas, Marta se
referia à atual situação da cidade
como "nefasta". Quando a petista
usou o termo para qualificar a
saúde pública municipal, Maluf
reagiu e lembrou o processo que
moveu contra a rival.
O pepebista disse que, por tê-lo
chamado de "nefasto", Marta foi
condenada a indenizá-lo em R$
300 mil. "Dinheiro que vou dar
para a Santa Casa", afirmou Maluf. A petista recorreu da decisão,
dada em primeira instância.
Maluf insistiu ainda em associar
a adversária às invasões de prédios públicos promovidas pelo
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). "O PT
tem simpatia pelo MST, mas eles
(os sem-terra) às vezes abusam, e
o PT não tem controle sobre o
movimento", disse Marta.
Nepotismo
Maluf por quatro vezes tentou
associar o PT ao nepotismo e a irregularidades administrativas.
Disse que um vereador petista foi
flagrado por câmeras de TV pedindo parte do dinheiro dos salários de funcionários de seu gabinete; citou membros da administração petista de 89 a 93 que contrataram parentes em cargos públicos municipais; afirmou que
um dirigente partidário do PT recebia do gabinete de um vereador
sem trabalhar (omitiu que se tratava de um parlamentar do seu
próprio PPB) e afirmou que Luiz
Inácio Lula da Silva, presidente do
PT, teria beneficiado um amigo
empresário.
Apenas essa última acusação,
teve direito de resposta. "Tenho
muito orgulho do presidente do
meu partido. Quem tem 40 processos e dez condenações na Justiça é Paulo Maluf", respondeu ela.
Estavam no estúdio os três filhos de Marta e seu marido, o senador Eduardo Suplicy. Dos petistas, estavam os deputados José
Genoino e Aloizio Mercadante, o
presidente do partido, José Dirceu, Rui Falcão, Paulo Teixeira.
Com Maluf, estavam Edvaldo
Alves da Silva, secretário na gestão do pepebista, seu candidato a
vice, Cunha Bueno, o presidente
do PPB, Adhemar de Barros Filho, o ex-presidente do PPB Marcelino Romano Machado.
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