São Paulo, terça-feira, 17 de outubro de 2000

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SÃO PAULO
Marta chama Maluf de "mentiroso contumaz" e ex-prefeito diz que petista é "administrativamente desqualificada"; mediação adverte adversários por desrespeito às regras
Candidatos trocam ofensas em debate

DA REPORTAGEM LOCAL

Os candidatos Marta Suplicy (PT) e Paulo Maluf (PPB) desrespeitaram as regras e trocaram ofensas no primeiro debate do segundo turno da eleição em São Paulo, transmitido ontem à noite pela Rede Bandeirantes.
Logo no primeiro bloco do programa, Marta chamou Maluf de "mitômano (pessoa que tem tendência mórbida para a mentira), mentiroso contumaz". A afirmação foi feita quando o pepebista disse que havia construído cinco piscinões em São Paulo. A petista afirmou que fora apenas um, assim mesmo idealizado na gestão petista que o antecedeu.
Maluf pediu direito de resposta, que foi concedido pelo mediador do programa, o jornalista Sérgio Rondino. "A senhora é administrativamente desqualificada. A senhora veio para esse debate achando que insultando e mentindo vai ganhar. Vou lhe processar. A senhora fique quietinha e respeite o telespectador", disse.
Quando o moderador desligou os microfones, dando direito de resposta a Maluf, Marta disse "não vou ficar ouvindo isso". Maluf prometeu processá-la. "Cala a boca, Maluf. Ponha modos nesse cidadão", pediu Marta ao moderador. Depois, pediu direito de resposta, que não foi concedido.
Ambos os candidatos foram então advertidos de que estavam desrespeitando as regras que seus assessores haviam acordado.
No início do segundo bloco, Marta pediu novo direito de resposta por ter sido chamada de mentirosa por Maluf momentos antes. "A sra. insiste em mentir para a população ao dizer que vereador, deputado estadual e deputado federal podem fazer despesa. Isso é inconstitucional", disse Maluf. O ex-prefeito fez a declaração ao justificar por que vetou projeto de renda mínima de um vereador petista.
Inicialmente o pedido de direito de resposta foi negado. Momentos depois, a direção do programa achou uma frase que permitia direito de resposta: "A senhora não perdeu o hábito da calúnia e da mentira", tinha dito Maluf. "Bom, esse direito de resposta vale pelas duas frases", afirmou Marta. "As pessoas desta cidade estão acostumadas a saber quem mente."

Parlamento
Maluf voltou a atacar Marta quando disse que o mandato de deputada federal da petista tinha sido um "livro em branco". "A única coisa que a senhora fez foi assinar a emenda que liberou dinheiro para o Lalau (o ex-juiz Nicolau dos Santos Neto)".
O ex-prefeito estava se referindo a uma emenda coletiva assinada por parlamentares paulistas de diversos partidos com pedido de liberação de verbas para várias obras, entre elas a construção do Fórum Trabalhista de São Paulo. O ex-juiz Nicolau é um dos envolvidos no desvio de R$ 169 milhões destinados ao fórum.
A petista por três vezes chamou Maluf de "mitômano". Marta usou a expressão para rebater a crítica de Maluf à sua conduta na Câmara dos Deputados. "O senhor é que, como parlamentar, não compareceu às sessões e teve de devolver o jeton (subsídio a que os parlamentares tinham direito de acordo com número de sessões que frequentavam). Maluf respondeu que havia sido absolvido e que não devolveu dinheiro.
O debate começou com um questionamento sobre como cumprir promessas de campanha, com uma prefeitura endividada e sem dinheiro para investimentos. Marta insistiu no discurso de fechar "as torneiras da corrupção". Maluf afirmou que pegou uma prefeitura com dificuldades deixadas pela gestão petista de 89 a 92 e que, por isso, teria condições de reerguê-la.
Maluf questionou quantos empregos Marta pretendia criar caso eleita. "Quantos empregos? Qual é o custo? Não adianta requalificar. Quanto é a necessidade de investimento? Parceria é tapeação."
"Vai depender muito do rombo que vocês deixarem. Vamos fazer uma averiguação desse rombo", respondeu a candidata petista.
Insistindo na atividade parlamentar de Marta, Maluf perguntou por que a petista apresentou um projeto de lei que diminui a pena dos criminosos. "É preciso ter paciência porque ele mente", respondeu ela, antes de dizer que o projeto possibilita a redução de pena para presos que estudem quando estão na cadeia.
Maluf retomou no bloco seguinte a mesma questão. O ex-prefeito rebateu dizendo que tem preocupação com a segurança e defende a prisão perpétua.

Nível
No terceiro bloco, em resposta a pergunta dirigida a ele sobre insinuações que teria feito sobre a vida privada de Marta, Maluf afirmou que não iria "baixar o nível" e que havia sido agredido "quatro ou cinco vezes" no programa.
Marta, ao comentar a resposta, desafiou o pepebista, afirmando que esperava ser questionada sobre o assunto. "Na minha frente, ele não fala nada", disse. Maluf revidou: "Não baixo o nível nem pela frente nem pelas costas".
Ao longo do programa, em várias de suas perguntas, Marta se referia à atual situação da cidade como "nefasta". Quando a petista usou o termo para qualificar a saúde pública municipal, Maluf reagiu e lembrou o processo que moveu contra a rival.
O pepebista disse que, por tê-lo chamado de "nefasto", Marta foi condenada a indenizá-lo em R$ 300 mil. "Dinheiro que vou dar para a Santa Casa", afirmou Maluf. A petista recorreu da decisão, dada em primeira instância.
Maluf insistiu ainda em associar a adversária às invasões de prédios públicos promovidas pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). "O PT tem simpatia pelo MST, mas eles (os sem-terra) às vezes abusam, e o PT não tem controle sobre o movimento", disse Marta.

Nepotismo
Maluf por quatro vezes tentou associar o PT ao nepotismo e a irregularidades administrativas. Disse que um vereador petista foi flagrado por câmeras de TV pedindo parte do dinheiro dos salários de funcionários de seu gabinete; citou membros da administração petista de 89 a 93 que contrataram parentes em cargos públicos municipais; afirmou que um dirigente partidário do PT recebia do gabinete de um vereador sem trabalhar (omitiu que se tratava de um parlamentar do seu próprio PPB) e afirmou que Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do PT, teria beneficiado um amigo empresário.
Apenas essa última acusação, teve direito de resposta. "Tenho muito orgulho do presidente do meu partido. Quem tem 40 processos e dez condenações na Justiça é Paulo Maluf", respondeu ela.
Estavam no estúdio os três filhos de Marta e seu marido, o senador Eduardo Suplicy. Dos petistas, estavam os deputados José Genoino e Aloizio Mercadante, o presidente do partido, José Dirceu, Rui Falcão, Paulo Teixeira.
Com Maluf, estavam Edvaldo Alves da Silva, secretário na gestão do pepebista, seu candidato a vice, Cunha Bueno, o presidente do PPB, Adhemar de Barros Filho, o ex-presidente do PPB Marcelino Romano Machado.




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