São Paulo, quinta-feira, 17 de outubro de 2002

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PT SOB SUSPEITA

Empresário que apontou propina só deve ser ouvido após o 2º turno

Manobra adiou depoimento de testemunha-chave de CPI

LIEGE ALBUQUERQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA

Em uma manobra realizada na noite de anteontem, vereadores da CPI criada em Santo André para apurar suposto esquema de propina para financiar campanhas do PT decidiram cancelar o depoimento de uma das principais testemunhas do Ministério Público, marcado para ontem.
O depoimento, do empresário do setor de transporte Luiz Alberto Gabrilli Filho, só deverá ocorrer depois do segundo turno das eleições, pois, além de outros motivos -segundo os parlamentares- um dos integrantes da CPI está em viagem. Desde o início da CPI, em pelo menos três casos os depoentes foram ouvidos sem que todos os vereadores estivessem presentes. A CPI foi prorrogada até o dia 18 de novembro.
Gabrilli disse à Promotoria que, em reuniões nas quais participou na Prefeitura de Santo André de 1997 até o início deste ano para discutir o valor da propina que disse ter pago por mais de cinco anos, ouviu que o dinheiro era para financiar campanhas petistas.
Ontem, em entrevista convocada pelo empresário, ele reafirmou o que disse. Gabrilli Filho chorou ao relembrar, segundo disse, da cobrança da "taxa para circular pela cidade", feita pelo secretário afastado de Serviços Municipais de Santo André, o vereador Klinger Luiz de Oliveira Souza. "Não vou à casa dele [à Câmara, onde é vereador" depor nunca."
Desde a sexta-feira passada, segundo documento em poder da Folha enviado por Gabrilli Filho e recebido pela Câmara Municipal, o depoimento estava marcado para ocorrer na sede da empresa Expresso Guarará, da família Gabrilli. Antes da sexta, a família tinha cogitado fazer o depoimento na casa do depoente, por recomendação médica. O empresário sofreu transplante de rim em maio.
Segundo a filha do empresário, Rosangela Gabrilli, para não ter de divulgar o endereço da família, foi decidido que o depoimento seria dado na empresa. "Isso na sexta-feira. Não houve nenhuma discordância dos vereadores, tanto que segunda-feira veio um funcionário da Câmara verificar o espaço no escritório para a equipe que iria tomar o depoimento."
Na terça à tarde, a reportagem da Folha ligou para o vereador Antonio Leite para confirmar o endereço do depoimento. Ele deu o endereço da empresa dos Gabrilli. Ontem, ao ser questionado por que teria dado esse endereço, Leite respondeu não ter "se atido" que no documento enviado por Gabrilli não havia o da residência. No documento, contudo, está escrito que "o endereço a seguir é da sede da Expresso Guarará".
Apesar de o documento ter sido protocolado na Câmara na sexta, com o endereço da empresa, Leite afirmou que só recebeu o papel na segunda, às 14h. Mesmo assim, só informou os demais membros da CPI na terça à tarde. "Se [os vereadores" sabiam antes da terça, não foram leais comigo", disse o relator, Donizete Pereira (PV).



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