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AGENDA DA TRANSIÇÃO/DESIGUALDADE SOCIAL
Pobreza cai nos "grotões", mas desigualdade regional persiste
Pólos agrícolas do Centro-Oeste e migração de indústrias para
microrregiões do Nordeste, atraídas por salários baixos,
tornam-se pontos quentes de aumento de renda do país, mas
desigualdade regional quase não se alterou durante anos FHC
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FÁTIMA FERNANDES
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Gerais de Balsas, no sul maranhense, não tem mais de 110 mil
habitantes. É vizinha de Chapadas
das Mangabeiras, que reúne oito
minúsculas cidades e só três habitantes por quilômetro quadrado.
Pequenas e pouco povoadas, essas cidades aparecem, assim como Parecis (MT), no topo da lista
das que registraram os maiores
crescimentos de renda na década
de 90.
Essas três microrregiões são espaços de prosperidade. Transformaram-se em fortes pólos agrícolas, sobretudo para a produção de
soja, milho e algodão, além de exportadoras. Viraram pontos de
atração de mão-de-obra.
Nelas, a renda média dos chefes
de família subiu de 6% a 8,5% por
ano de 1991 a 2000, segundo levantamento do IBGE, com base
na renda média mensal dos chefes
de família em 1991 e em 2000,
atualizado pelo INPC de julho de
2000. Na média das 558 microrregiões do país (que reúnem 5.507
municípios), essa taxa ficou em
2,63%.
Especialistas em estudos regionais e urbanos, porém, são unânimes em destacar que, apesar da
expansão de renda nessas áreas,
as desigualdades de riqueza entre
as regiões brasileiras são as mesmas do início dos anos 90, ou seja,
ainda há um abismo entre o Norte
e o Sul do país.
"Está claro que essas regiões
não conseguiram romper com
sua herança de pobreza nos anos
do Real", diz Sônia Rocha, diretora do Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada).
No entanto a expansão de microrregiões no Nordeste e no
Centro-Oeste é algo para ser considerado. Das 558 microrregiões,
374 comemoram a elevação na
renda além da média -a maioria
delas está nessas duas regiões. Em
181 microrregiões, a renda cresceu menos do que os 2,63% da
média. Em apenas três delas a
renda caiu.
Só para comparar, nas microrregiões que englobam capitais do
país, só Porto Alegre registrou taxa acima da média, de 2,71%. Em
Curitiba, a renda cresceu 2,58%;
em Belo Horizonte, 2,32%; em
Recife, 2,27%; em Salvador,
1,77%; e em São Paulo, 1,66%.
Investimento privado
O crescimento da renda no país
é resultado sobretudo do controle
da inflação. Especialistas dizem
que o salto na renda em regiões
como Gerais de Balsas, Chapadas
das Mangabeiras e Parecis e outras é ainda resultado de investimentos privados na produção de
soja e de milho para o mercado
externo.
"A desvalorização do real favoreceu a exportação de grãos e tornou mais competitiva a produção
de algodão no Maranhão, que
tem de competir com o produto
importado", diz Clélio Campolina
Diniz, diretor da Faculdade de
Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais.
O Maranhão também se fortaleceu com a transferência de empresários para o Nordeste em
busca de terras mais baratas, afirma José Raimundo Vergolino, professor
da Universidade Federal de
Pernambuco.
"Na região de
Barreiras, os
agricultores
chegaram antes até da energia elétrica e
das estradas.
Só mais tarde é
que o governo
resolveu levar
infra-estrutura
ao local. O
mesmo aconteceu em Gerais
de Balsas."
Estudiosos
do Nordeste consideram que a
instalação de indústrias de calçados, de tecidos e de roupas -devido aos incentivos e à mão-de-obra barata- também teve efeito
positivo na renda local.
Grendene e Vulcabrás foram
parar no Ceará. A Azaléia, na Bahia. O grupo Vicunha transferiu
quase tudo para o Nordeste. A
Coteminas construiu fábricas na
região. A Ford inaugurou uma
unidade em Camaçari (BA).
O salário bruto, na prática, é inferior ao pago pelas indústrias nos
locais em que estavam antes instaladas, mas o novo investimento
ajuda a elevar a renda local.
Outro indicador do fôlego para as regiões Centro-Oeste e Nordeste é o desempenho do PIB regional.
No Centro-Oeste, o PIB
per capita subiu 6,18% em
99 sobre 95
-uma taxa
elevadíssima.
No Nordeste,
subiu 5,34%,
bem mais do
que a média
do país, de
1,43%. No Sudeste, o crescimento foi só um pouco acima
da média (1,49%). No Sul, foi menor (de 1,17%). No Norte, houve
queda de 6,44%, puxada pelo declínio da Zona Franca de Manaus
(AM), com a abertura da economia e do extrativismo de madeira.
Para obter as taxas, o Ipea usou
dados do IBGE e fez a atualização
com base em publicação do BC.
Os melhores resultados nas rendas do Centro-Oeste e do Nordeste são visíveis por meio dos indicadores de pobreza. Em 93, 62,2%
da população nordestina ganhava
até meio salário mínimo por mês.
Em 99, esse percentual caiu para
50,1%. No Centro-Oeste, a redução foi de 31,4% para 23,6%.
Previdência rural
A participação do governo Fernando Henrique Cardoso na expansão da renda de algumas microrregiões é um tema polêmico
entre especialistas em estudos regionais e urbanos.
Para alguns, boa parte do crescimento da renda no Nordeste é
consequência dos programas destinados às famílias mais pobres,
como a Previdência para os trabalhadores da área rural, que começou a ser paga em 1992. O número
total de beneficiários da Previdência cresceu nos anos FHC, passando de 15,2 milhões em 94 para 20
milhões em 2001.
Para outros, na fase tucana só
foram desenvolvidos projetos de
pequena expressão para as regiões mais pobres -com a exceção de alguns programas voltados
para o aumento do turismo. Na
prática, aqueles em ação já estavam em andamento antes da era
FHC. "O presidente não colocou
nem mil metros de irrigação no
Nordeste", afirma Vergolino.
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