São Paulo, terça-feira, 17 de outubro de 2006

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Oposição vê fascismo na PF; governo reage e vê golpismo

Tasso acusa Márcio Thomaz Bastos de fazer "artimanhas" para proteger presidente

"Oposição quer privatizar a investigação, quer criar um clima de República do Galeão", afirma ministro da Justiça, que defendeu PF


KENNEDY ALENCAR
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, reagiu ontem às acusações da oposição de que atua para que a Polícia Federal não desvende a origem do dinheiro do caso do dossiê e, assim, beneficie a candidatura à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"A oposição quer privatizar a investigação, quer criar um clima de República do Galeão com um discurso antiinstitucional", disse, em alusão a apuração paralela do atentado contra Carlos Lacerda feita em 1954 por oficiais da FAB (Força Aérea Brasileira) antes do suicídio de Getúlio Vargas.
Segundo o ministro, a PF "tem feito uma investigação impecável" a respeito da tentativa de petistas de comprar um dossiê envolvendo tucanos com a máfia dos sanguessugas.
Indagado se a citação à "República do Galeão" era uma forma de acusar a oposição de golpismo, o ministro disse preferir afirmar que ela "faz discurso antiinstitucional" porque não apontaria "um único fato concreto" que pudesse mostrar que sua conduta tem sido inadequada. "A conduta é republicana, impessoal, transparente."
Segundo o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), o ministro atuou como "intermediário e articulador de uma artimanha" para blindar o ex-assessor do Palácio do Planalto Freud Godoy e "marginalizar" delegados da Polícia Federal que atuavam "de maneira independente no caso".
"Não vamos admitir que a Polícia Federal seja transformada em polícia política do governo Lula. Vamos reagir dentro do Parlamento com todas as forças e armas legítimas que a democracia nos confere para que a Polícia Federal não siga esse caminho absolutamente fascista, com afastamento, perseguição e ameaça a profissionais, e o uso irregular de instalações da PF", disse Tasso.
Após reunião entre os presidentes do PSDB, PFL e PPS, ontem à noite, a oposição anunciou que: 1) vai anexar à ação em curso no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) uma petição para que sejam ouvidos "todos os envolvidos", inclusive Thomaz Bastos; 2) pedirá à OAB que formalmente passe a acompanhar as investigações; 3) ingressará com nova representação no TSE contra Lula sob a acusação de crime eleitoral "na compra" do apoio do governador Blairo Maggi (PPS-MT); e 4) cobrará explicações da direção da PF sobre a demora nas investigações do caso.
A iniciativa da oposição foi motivada por uma reportagem da revista "Veja", segundo a qual houve encontro fora do horário regular na Superintendência da Polícia Federal em São Paulo entre pessoas ligadas diretamente a Lula e Gedimar Passos, preso na PF de São Paulo. Thomaz Bastos negou.
A revista disse que haveria uma operação de "limpeza de alto risco", o que levou os oposicionistas PSDB e PFL a subir o tom, acusando Thomaz Bastos de agir parcialmente. O ministro disse que o diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, procurou a cúpula da PF paulista e que ela negou o suposto encontro entre Gedimar, Freud Godoy e José Carlos Espinoza, assessor especial de Lula licenciado para trabalhar em sua campanha.
O ministro disse que a PF lhe informou que o único encontro entre Freud e Gedimar aconteceu numa acareação. Quando preso, Gedimar citou Freud como mandante da compra do dossiê. Depois, recuou.
O ministro insinuou que a oposição faz críticas à investigação da PF para tentar vitaminar a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB). "Lamento que as labaredas eleitorais estejam tentando diminuir um trabalho que renovou e melhorou a Polícia Federal."


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