São Paulo, terça-feira, 17 de outubro de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / CRISE DO DOSSIÊ

Dinheiro tem origem criminosa, diz Biscaia

Justiça determina à PF que apresente relatório parcial da investigação sobre a compra do dossiê antes das eleições

Apesar de superintendente da polícia afirmar que a apuração está avançando, delegado deve pedir hoje mais prazo para inquérito


HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente da CPI dos Sanguessugas, deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ), afirmou ontem em Cuiabá (MT) não haver "a menor dúvida que a origem do dinheiro [da compra do dossiê contra tucanos] é criminosa". O juiz da 2ª Vara Federal de Cuiabá, Jeferson Schneider, solicitou à Polícia Federal que até as eleições faça relatório, mesmo parcial, sobre a origem dos dólares e reais.
Biscaia deu as declarações após sair da PF, onde conversou com o delegado Diógenes Curado, que cuida do caso, e de se reunir com o juiz Schneider.
"O levantamento já permite dizer que não há, no período [fim de agosto até o dia 15 de setembro], saques lícitos", afirmou Biscaia. O deputado recebeu cópia do inquérito da PF e também dados sobre o sigilos telefônicos dos envolvidos na negociação do dossiê.
O superintendente da PF em Mato Grosso, Daniel Lorenz de Azevedo, afirmou acreditar que, antes das eleições, deve ser esclarecida a origem do dinheiro, mas que será "impossível" concluir as investigações.
Conforme Lorenz, a informação sobre a origem do dinheiro será repassada à Justiça Federal e ao Ministério Público Federal. "Não vou convocar uma coletiva com a imprensa para dar informação", afirmou.
Lorenz disse que a PF trabalha "no tempo da investigação, e não no tempo do calendário eleitoral". Ele foi cauteloso sobre a suposta origem criminosa do dinheiro. "Estamos trabalhando com esta hipótese. É uma boa tese. Vamos ver se se confirma ou não", afirmou o superintendente.

Mais prazo
Embora a PF esteja, conforme o superintendente, "fazendo diligências que apontam em um sentido bem conclusivo" com expectativa de "novidades até sexta-feira", ela pedirá amanhã prorrogação no prazo de 30 dias para conclusão do inquérito sobre o caso dossiê. Curado deve solicitar no mínimo mais um mês.
O inquérito foi aberto no dia 18 de setembro, após a apreensão, no dia 15 no hotel Ibis em São Paulo, de R$ 1,168 milhão e US$ 248,8 mil que seriam usados na compra do dossiê.
A PF está investigando 30 casas de câmbio, operadoras de turismo e companhias que compraram dólares que integram o lote do qual saíram cédulas apreendidas na prisão.
As empresas ficam em São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Paraná, e desde a semana passada vêm sendo alvo de investigações policiais.
Ao chegar nos escritórios das empresas, a PF determina que os responsáveis informem todas as operações que efetuaram com dólar, a fim de identificar o destinatário final do dinheiro.
Uma das dificuldades para os policiais identificarem os compradores finais dos dólares suspeitos é a qualidade dos registros mantidos por empresas que disponibilizam a moeda estrangeira no mercado.
As operações investigadas pela PF somam US$ 29 milhões, que chegaram ao Brasil por meio de duas compras de dólares realizadas pelo banco Sofisa nos dias 17 (US$ 14 milhões) e 30 (US$ 15 milhões) de agosto. É neste universo que os investigadores buscam chegar ao comprador de um lote de US$ 110 mil em notas seriadas.
A PF também ouvirá hoje em Brasília o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP). Ele era coordenador-geral da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no período em que o dossiê foi negociado.


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