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Gustavo Ioschpe
Esperança, só em 2010
ATÉ AGORA, o que consegui discernir desta
confusa e improdutiva campanha à Presidência
é que estamos condenados
a mais mediocridade. Nenhum dos dois candidatos
tem qualquer proposta que
faça o país poder sonhar
com o atingimento do desenvolvimento sustentado,
rumo ao Primeiro Mundo.
Alckmin se vende como
um bom gerente, fazedor de
estradas, cortador de custos, moralizador etc. Seu
mote é a eficiência. O gerenciamento eficiente é uma
qualidade positiva. Mas, para que essa eficiência colha
resultados, é preciso que o
rumo para o qual aponta esteja certo.
E, a não ser que o tucano
cometa novo estelionato
eleitoral, não há nada em
seu discurso e programa
que permita supor uma inflexão de rumo. Continuaremos com essa política
econômica equivocada, um
Estado gigantesco, programas assistenciais que garantem a eternização da pobreza, escolas de péssima
qualidade formando cidadãos despreparados e trabalhadores incompetentes.
O Brasil precisa de mais
do que um bom gerente.
Precisa de um estadista.
O discurso de Lula é semelhante: o país está melhorando e ninguém melhor do que ele (já sem a
"quadrilha", abandonada à
própria sorte) para continuar os avanços. Faz-me
sentir como o personagem
de Jim Carrey em "The
Truman Show": enquanto
ele fala com a mulher sobre
sua fantástica crise existencial, ela responde fazendo
propaganda de café para as
câmeras, sorriso estampado no rosto.
Quando o presidente diz
que o país passa por seu melhor momento nos últimos
20 anos e que poderá crescer mais de 5% por ano sem
que nenhuma reforma seja
necessária (como disse ao
"Globo" na semana passada), me pergunto se estamos no mesmo país. Ou se
tudo não passa de uma pegadinha de TV. É exasperante.
Se os dois candidatos chegaram a esse consenso justamente em tudo que há de
errado -política econômica, programas assistenciais,
tamanho do Estado, a idéia
de que educação se resolve
com mais dinheiro-, fica
óbvio que a culpa não é deles nem dos partidos, mas
nossa. A sociedade é que se
contenta com essa mediocridade e é refratária a qualquer mudança significativa.
As razões dessa acomodação são certamente muitas, historicamente entranhadas e de difícil mudança. Uma das causas mais
aparentes, e talvez mais facilmente mudável, é o nosso provincianismo.
Só podemos achar que tudo vai bem porque nos
comparamos com nossa
própria experiência. Se
olhássemos para o mundo,
notaríamos que algo vai
muito mal, que estamos nos
apequenando.
Basta acompanhar o que
vêm fazendo o Chile, a China e a Índia para que comecemos a ver que um futuro
melhor é possível. Com mudanças ousadas, mas pensadas; com evolução, não revolução. O primeiro passo é
ter coragem e determinação, coisas que nos faltam.
E, pelo visto, faltarão pelos
próximos quatro anos.
GUSTAVO IOSCHPE é mestre em desenvolvimento econômico pela Universidade Yale (EUA)
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