|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELEIÇÕES 2008 / SÃO PAULO
Marqueteiro admite erro de avaliação, mas defende peça
João Santana diz que não calculou reações e que Marta desconhecia publicidade
Publicitário diz que intenção era "tocar no desconforto de eleitores kassabistas por não conhecerem bem a biografia do candidato"
RENATA LO PRETE
EDITORA DO PAINEL
Na berlinda desde domingo,
quando foi ao ar o já célebre comercial com perguntas de natureza pessoal sobre Gilberto
Kassab ("É casado? Tem filhos?"), João Santana, responsável pela propaganda de Marta
Suplicy, "lamenta profundamente" "não ter previsto a onda que se formou". Esse é, porém, o único erro que reconhece. A peça, em seu entender,
"não transgride os limites da
ética e da elegância".
Na entrevista abaixo, a primeira em que trata do caso,
Santana negou, como Marta já
fizera, que as questões contivessem insinuação de homossexualidade. E repetiu a candidata do PT ao dizer que ela não
viu a peça antes da exibição.
Marqueteiro da reeleição de
Lula, Santana, 55, administra a
ampla desvantagem de Marta a
nove dias da votação final.
FOLHA - Até mesmo petistas e eleitores de Marta consideraram a peça
"jogo sujo", "insinuação maldosa",
"invasão de privacidade" etc. A
campanha admite que errou?
JOÃO SANTANA - O único erro foi
não ter previsto a reação que o
comercial provocaria em determinados setores. Uma reação
causada, na maioria dos casos,
por interpretações equivocadas. Tão logo verificamos isso,
retiramos o comercial do ar.
FOLHA - A campanha alega que as
duas perguntas não guardam relação com o assunto homossexualidade. Não lhe parece difícil fazer com
que pessoas com algum discernimento acreditem nisso?
SANTANA - São duas perguntas
que todo mundo é obrigado a
responder em várias situações
na vida. Havia outras perguntas
de natureza familiar ("É de família rica? Pobre?") que tiveram de ser cortadas por ajuste
de tempo. Sei que é difícil acreditar, mas o fato de as duas perguntas terem ficado no final
não foi intencional.
FOLHA - Havia, então, uma definição estratégica de expor a vida privada do adversário?
SANTANA - Não havia e não há.
A definição estratégica era tocar no desconforto de eleitores
kassabistas por não conhecerem a biografia do candidato.
Toda vez que isso era estimulado nos grupos, esse desconforto se traduzia numa dúvida forte. Foi então que criamos uma
série de comerciais para provocar reflexão. Não havia intenção de entrar no terreno que
acabou gerando toda a polêmica. Tampouco surgiu essa reação nas pesquisas qualitativas.
FOLHA - Não lhe parece que foi subestimado o potencial de rejeição
ao comercial por um tipo de público
que não é entrevistado nas quális?
SANTANA - Infelizmente sim.
Em especial pessoas que já tinham determinados preconceitos, informações mal resolvidas ou envolvimento emocional com a disputa eleitoral.
FOLHA - Marta teve conhecimento
prévio do conteúdo do comercial?
JOÃO SANTANA - Não, ela realmente não viu o comercial antes de ir ao ar. Estava acertado,
desde o primeiro turno, que eu
tinha liberdade para tomar esse
tipo de decisão, a depender de
problemas de prazo.
FOLHA - O sr. acha que, se Marta tivesse visto, teria se oposto?
SANTANA - É difícil responder a
esta pergunta agora. Mas talvez
sim, por causa de seu "feeling"
de psicóloga e da sensibilidade
de pessoa que vive, constantemente, sob questionamento.
FOLHA - Culpar a mídia pela má repercussão não é uma forma de fugir
à responsabilidade por uma decisão
errada que a campanha tomou?
SANTANA - Já disse que errei
por não ter previsto a onda que
se formou. Lamento profundamente. No entanto, não posso
deixar de reconhecer que houve exagero e até manipulação.
Ninguém, por exemplo, publicou o texto completo do comercial. Ele não transgride, em nenhum momento, os limites da
ética e da elegância. Em pesquisa que fizemos depois -e isso
foi confirmado por reportagem
da Folha-, a maioria das pessoas disse não ter sentido nenhuma malícia de natureza sexual no comercial. Somente começaram a interpretar isso depois da polêmica instaurada.
FOLHA - Acha relevante saber se o
candidato é casado e se tem filhos?
SANTANA - Acho. O eleitor gosta
e tem o direito de saber tudo sobre o candidato. Quer saber até
para que time ele torce.
Além disso, o que nos interessava ali não era uma ou outra pergunta específica, e sim
despertar no eleitor, por meio
de uma série de questões, a dúvida sobre tudo o que ele desconhece a respeito de Kassab.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Campanha: Dilma critica anúncio, mas diz que marta enfrenta preconceito Índice
|