Presidente rebate críticas de que tour pelo São Francisco tem objetivo eleitoral e afirma que "transposição não rima com eleição"

Pré-candidatos ao Planalto, Ciro e Dilma trocam elogios; deputado diz que ministra é "exemplo de bravura", e ela o chama de "pessoa valorosa"

Fotos Sérgio Lima/Folha Imagem

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva caminha dentro de um canal da obra de transposição do rio São Francisco, no último dos três dias de sua viagem à região

SIMONE IGLESIAS
ENVIADA ESPECIAL A CABROBÓ (PE)

No último dos três dias de seu tour pela região do rio São Francisco, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva rebateu as críticas de que a viagem tem cunho eleitoral e afirmou que três pessoas reunidas para ouvi-lo já é um "comício".
Na quarta-feira, Lula havia dito, em cima de um palanque, que inicialmente estava previsto apenas visitar obras, e não "fazer comício". Ontem, revidou os ataques da oposição: "Qual é a diferença de eu falar "um ato de inauguração", em uma reunião com os trabalhadores que estão recebendo salário da empresa e pararam por algumas horas para ver o presidente da República? Onde é que tem a diferença de um comício? Eu poderia fazer uma assembleia de trabalhadores, poderia fazer um ato público".
O presidente completou: "Eu, sinceramente, acho que não cometi nenhum ato falho... Vou continuar falando. Para mim, se tiver duas [pessoas] é um ato público, três é um comício, 50 já é uma assembleia grande, daquelas que eu faria em São Bernardo".
Quando um jornalista perguntou se "transposição rima com sucessão", o presidente respondeu que "transposição não rima com eleição".

Críticas à oposição
Lula criticou a oposição, que pediu um levantamento dos gastos da viagem presidencial, que aconteceu de quarta-feira até ontem à noite para visitar obras da transposição do rio.
"Pobre da oposição que não tem o que fazer. Eu acho que a ociosidade é uma das desgraças da humanidade. Bote um bando de homens juntos, sem ter o que fazer, é a desgraça", disse.
O presidente disse que o papel da oposição é ver defeitos, mas ela não quer que as coisas deem certo. "Em vez de ficarem olhando o que eu estou fazendo, deveriam olhar o que eles estão fazendo. Seria mais fácil. Deveriam se lembrar do tempo em que eles governaram."
Lula comparou os adversários ao jogador que está no banco da reserva, se diz amigo do titular, mas fica torcendo para que receba um cartão vermelho ou se machuque para jogar.
Segundo ele, a transposição é uma das obras mais significativas de seu governo e que, quando ficar pronta "a piscina mais comprida do mundo", os astronautas vão poder ver os canais como se vê a Muralha da China.

Elogios de Dilma e Ciro
Companheiros de viagem de Lula durante os três dias da excursão, dois pré-candidatos a Presidência no ano que vem, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) e o deputado Ciro Gomes (PSB), discursaram e trocaram elogios ontem.
Ciro definiu a ministra, sua potencial adversária, como um "exemplo superior de bravura", e Dilma devolveu chamando-o de "querido companheiro" e "pessoa valorosa e corajosa".
Os dois discursaram pelo mesmo tempo, pouco mais de sete minutos.
"Todos temos a cada dia que conhecer mais como eu já conheço [Dilma] para poder admirar o extraordinário valor dessa mulher de quem o Brasil ainda vai ouvir falar muito", elogiou Ciro.
"Queria falar para vocês desse grande brasileiro que foi, durante o primeiro governo do presidente Lula, um grande companheiro de todas as horas, sobretudo das horas difíceis. É uma pessoa em quem a gente pode confiar", afirmou Dilma.
Lula havia confiado a Ciro a tarefa de disputar o governo paulista, tanto que ele mudou seu domicílio eleitoral. Mesmo com chances dúbias, ele poderia servir de linha auxiliar de ataques ao tucano José Serra -se o governador paulista for mesmo candidato a presidente.
Mas pesquisas eleitorais colocando o deputado em patamares mais confortáveis do que o de Dilma animaram a especulação de que ele poderia se candidatar a presidente. Na viagem, Lula pediu a Ciro que só anuncie sua decisão em 2010.
Lula chegou à região de Cabrobó na noite de quinta-feira e dormiu em um acampamento montado no canteiro de obras do Lote 1. Ontem, resolveu incluir mais uma visita na agenda, indo ao Ceará no fim da tarde. A comitiva visitou sete pontos da obra, cuja extensão dos canais em construção pelo Nordeste é de mais de 600 km.


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